INDEPENDÊNCIA. HOJE, 11 DE NOVEMBRO, O QUE NOS FALTA? … FALTA A DIPANDA!

Angola está doente, muito doente. Precisa de cuidados intensivos para sair da emergência e, então, transformar o seu enorme potencial em realidade, em dignidade para todos os angolanos. Precisa de uma Paz assente na justiça, na inclusão, na verdade e no cuidado para com o outro.

CESALTINA ABREU

Desde bem cedo escutando as músicas que, há muitos anos, os meus vizinhos partilham bem alto neste dia – Teta Lando: Eu Vou Voltar e Funge de Domingo -, e depois de uma noite insone como há 48 anos, embora por razões distintas: em 75 era a expectativa do “E agora?”, e em 2023, a indignação do “sonho adiado”, eu me pergunto: ontem foi dia de aeroporto (mais um elefante branco?), e hoje, 11 de Novembro de 2023, é dia de quê? Tá onde, a Dipanda?

Lembrei do Velho Soba do Seles, no final da década de 70, perguntando: “Mas ó minina, essa da dipanda vai acabar quando então”?

Como o 11 de Novembro de 1975, este deveria ser o dia do começo de uma nova Angola. Mas importa salientar que não estou pensando “em fazer tudo de novo”. Seria desgastante e, muito provavelmente, mal-sucedido como até agora. Eu estou pensando que deveria ser “tudo novo”. Mas isso não tem a ver com “um lugar novo”, ou uma “nova coisa”, mas sim com “uma nova mentalidade”. Podem velhas cabeças cheias de vícios, limitadas por uma miopia galopante e orientadas por uma ganância ainda maior, assumir uma nova mentalidade?

Eu não acredito que quem, ainda hoje, mal conhece Angola na sua maravilhosa e promissora diversidade, e continua a responsabilizar todos os ‘inimigos’ – do colonialismo, à guerra-civil, passando pela pandemia, a baixa do ‘brent’ e, mais recentemente, a queda da produção de petróleo e a dívida (que representa 85% da receita em 2023 e 97% em 2024, mas não caiu do céu!! …) -, pelo adiamento do país, seja capaz de operar uma mudança de mentalidade em si e de a promover nos que se encontram em redor.

Angola está na situação desesperante em que se encontra devido às opções políticas – entre as quais a própria guerra-civil e a sua duração – que transformaram uma economia exportadora de alimentos, com uma indústria em crescimento, e de facto em diversificação (embora dependente do Terreiro do Paço), numa economia mineralizada, dependente da extracção de recursos não renováveis! Não só não se corrigiram as distorções herdadas do colonialismo como se agravaram e se expandiram as desigualdades de condições e de oportunidades que hoje nos caracterizam. Foram o desgoverno e a corrupção que conduziram o país ao estado em que se encontra. Foi a cegueira de quem deveria governar, e o silêncio e o consentimento dos governados, que produziu o resultado que temos hoje.

Então, é preciso curar a cegueira, que parece incurável porque conveniente. Então, o caminho é escolher quem veja, e escute, bem… e só diga o que, de facto, se propõe executar. Chega de mentiras! Por outro lado, é necessário dispor-se, e preparar-se, para intervir no espaço público e para o público. Aprender a comunicar, promover a produção de conhecimento, reconhecer nesses conhecimentos as bases para a formulação de propostas alternativas para as escolhas políticas em nome do bem-comum. Saber “falar” demonstrando e reformulando, ajustando, negociando, criando as condições para que, de facto, se possa corrigir o que está mal.

Mas isso implica fazer, realizar, mudar a realidade actual. Traduzir em decisões políticas as respostas às necessidades reais deste país nas suas múltiplas dimensões. Demonstrar no OGE o que de facto é prioritário com vista à Mudança. Por exemplo, investir seriamente na educação (os 20% de Dakar), na criação de um sistema de saúde a partir da base e não do topo (os 15% de Abuja), nos serviços básicos de saneamento, no ordenamento do território e na habitação. A acontecer, está a investir-se em desenvolvimento humano. Promover a agricultura familiar – a montante e a jusante -, a produção do sector primário (os 10% da SADC), a indústria (começando pela transformação primária), e fazê-lo numa perspectiva em que as opções das gerações futuras não sejam limitadas pelas decisões de hoje.

Precisamos destas acções, dispensamos discursos mentirosos.

Angola está doente, muito doente. Precisa de cuidados intensivos para sair da emergência e, então, transformar o seu enorme potencial em realidade, em dignidade para todos os Angolanos.

Precisa de uma Paz assente na justiça, na inclusão, na verdade e no cuidado para com o outro.

Como eu gostaria que este dia 11 fosse o 1º. dia de uma nova Dipanda, para a Paz e a Justiça! Sem fome e sem medo! Para todos os angolanos. Para uma nova Angola da qual nos orgulhemos, hoje e sempre!

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