BANCA EM ANÁLISE. PESO DO CRÉDITO AUMENTOU 2 PONTOS

O peso do crédito a clientes na estrutura global de activos, em 2022, registou um aumento de 2 pontos percentuais face ao seu peso em 2021, passando de 18% para 20%, em resultado da prossecução de políticas para estímulo da concessão de crédito orientadas pelo Executivo e pelo BNA. Em contrapartida, o peso dos títulos e valores mobiliários manteve-se praticamente inalterado face ao registado em 2021, representando agora cerca de 34% do total da estrutura de Activos do Sistema Financeiro, fruto da exposição significativa dos Bancos nacionais à dívida pública angolana nacional. 

A conclusão resulta de mais um estudo feito pela Deloitte divulgada ontem na 17ª Edição da sua compilação com o título “Banca em Análise”, de referência do sistema financeiro angolano que realiza desde 2006, que compara os bancos em termos de dimensão, crescimento, rentabilidade, eficiência, e adequação de capital, juntando estudos globais da economia e do sector, designadamente sobre os meios electrónicos de pagamento, bem como entrevistas com os seus protagonistas.

Considerada a visão agregada, de acordo com o estudo, os resultados líquidos no sector bancário nacional caíram 13,6%1 face a 2021 para cerca de 367 mil milhões de kwanzas. Esta diminuição é explicada pelo agravamento dos prejuízos do BPC e pelo aumento nas imparidades em 2022, que cresceram 306 mil milhões de kwanzas face a 2021. A descida do resultado líquido do sector é atenuada pelo aumento significativo dos resultados cambiais que aumentaram em 2022 cerca de 421%, bem como pela melhoria na margem financeira que cresceu 6,3%1

Por outro lado, o valor total dos activos dos bancos analisados equivale a 17 037 mil milhões de kwanzas no final do exercício de 2022, correspondendo a um crescimento de aproximadamente 4,3%, face ao exercício de 2021. Adicionalmente, o total de crédito líquido ascendeu a 3 480 mil milhões de kwanzas em 2022, o que corresponde a um aumento de cerca de 13%1 face a 2021, sendo que a variação entre 2020 e 2021 cifrou-se em 4,9%.

Na edição tornada pública relativa ao ano trasacto, de acordo com a Deloitte, os principais intervenientes do sector partilham as suas expectativas para o futuro do sector bancário nacional, em particular no que se refere à transformação dos seus modelos de negócio, bem como a temática da cibersegurança.

Acredito que os bancos devem posicionar o cliente no centro do negócio, melhorando cada vez mais a experiência oferecida. Para tal, é necessário redobrar esforços no sentido de desenvolver modelos de negócio que privilegiem a diversificação da oferta, assegurando a geração de receitas, em estrito alinhamento com as necessidades dos seus clientes” refere no estudo José Barata, presidente da Deloitte que intervém em vários países na prestação de serviços de audit & assurance, consulting, financial advisory, risk advisory, tax e serviços relacionados, que elegeu a temática dos Clientes Bancários e respectivos desafios associados, como o tema de capa da edição deste ano.

Atendendo ao actual contexto macroeconómico, a Deloitte considera que os bancos devem-se manter muito próximos dos seus clientes, sendo que o estudo adianta que a jornada de transformação de uma operação centrada no cliente é um processo contínuo e que exige o cumprimento de diferentes etapas funcionais e tecnológicas. A progressiva adopção deste tipo de estratégia exige uma adaptação cuidadosamente estruturada dos colaboradores, processos e sistemas que irão suportar uma operação centrada no cliente.

Activos

O estudo revela que depois de, no ano de 2017, o ranking do total de activos ter sido liderado pelo BPC, o BAI assumiu a liderança em 2018, tendo vindo a consolidar a mesma durante os exercícios seguintes, com um total de 3 039 e 3 195 mil milhões de kwanzas em 2021 e 2022, respectivamente, seguido pelo BFA, BIC, BPC e ATL. 

Adequação de capital

Neste domínio, de acordo com os dados disponibilizados pelo BNA, foi verificado um aumento de 4,2 pontos percentuais no Rácio de Fundos Próprios Regulamentares (ou Rácio de Solvabilidade) face a 2022, equivalendo a 28,4%, mantendo-se deste modo acima do valor mínimo regulamentar com uma margem de segurança, o que demonstra a resiliência do sector. Esta melhoria deste rácio resultou igualmente do aumento dos capitais sociais de alguns bancos, com destaque para o BPC, BCGA, BDA, BCI e BNI, reflectindo um impacto positivo sobre os fundos próprios regulamentares.

Meios de pagamentos electrónicos

A edição deste ano do Estudo evidencia o crescimento muito sólido de vários indicadores associados a esta temática, em particular ao nível da utilização de terminais de pagamentos automáticos (TPA), que registou uma variação positiva próxima de 21% em 2022 e do número de cartões multicaixa emitidos, que registou um aumento de 13% em 2022. No que se refere à utilização das caixas automáticas, esta apresenta igualmente uma variação positiva em 2021, cerca de 11%, acima da variação registada em 2021 (+6%), que demonstra uma recuperação face à redução verificada no período pandémico. 

O estudo conclui que o canal interbancário Multicaixa Express tem vindo a cimentar a sua popularidade com um crescimento na ordem dos 13,7% em 2022, em termos de número de transacções. Em termos de montantes movimentados por este canal, o mesmo já movimenta um valor superior ao montante transaccionado em TPAs, com um crescimento de 16,7% face a 2021, que se trata de um facto assinável.

Colaboradores e balcões

Para a Deloitte, ao nível do número de colaboradores do sector, o mesmo registou uma diminuição de 6,2%, tendo esta diminuição sido fortemente impactada pela encerramento das operações em 2022 do Banco Prestígio e da dissolução voluntária do Banco BAI Micro Finanças, bem como pelos processos de reestruturação em curso de alguns bancos, como o BPC, BCI e KEVE.

O número de balcões registou igualmente uma diminuição de aproximadamente 16,5%, com destaque para o encerramento de Balcões do BPC, ATL BCI, BE, KEVE e BMF. Desde 2017 (ano em que se registou o maior número de balcões), foi registado um decréscimo de 35% no total de balcões no território nacional, fruto do processo de digitalização dos serviços financeiros e reorganização da rede comercial levada a cabo por vários bancos.

O estudo da 17ª Edição do Banca em Análise será disponibilizado na íntegra brevemente no site da Deloitte.

[1] A evolução apresentada não considera a informação relativa ao Banco Económico, com referência a 31 de Dezembro de 2021, uma vez que até à data de elaboração do estudo não apresentou informação financeira de 2022.

Notas:
(1) O presente estudo inclui a informação financeira em base individual dos bancos a operar em Angola durante o ano de 2022, com a excepção do Banco Económico, S.A. por indisponibilidade das respectivas demonstrações financeiras até à data de publicação do Estudo.

(2) Cartões Multicaixa Emitidos, incluem os cartões válidos (activos e inactivos) acrescidos dos cartões por activar.

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