AS TARIFAS ALFANDEGÁRIAS DE TRUMP

A nova estratégia, visa essencialmente, a deslocalização das empresas que produzem em mercados com mão de obra mais barata e tecnologia de ponta, em particular, a China, o Canadá, o México e a Índia.

MARIA LUÍSA ABRANTES

Os líderes da Administração americana tradicionalmente membros de um dos dois maiores partidos, têm estilos diferentes de actuação e governação durante os seus mandatos. Uns são políticos por excelência, parte deles com antecedentes na governação dos  Estados, outros com trajectória legislativa, incluindo um artista de cinema (Ronald Reagan), mas muito bem assessorados. Donald Trump é na prática e por vocação, um homem de negócios. Como tal, não é apenas conduzido pelos seus assessores. É um homem pragmático, (atrás de puros resultados, que se afastam da responsabilidade social), aponta objectivos, traça estratégias e quer monitorar a execução. 

A política da Administração Trump, contrapõe aumentos das tarifas alfandegárias as importações, à redução de impostos às empresas e aos salários até 150 mil dólares anuais, que agrada aos eleitores. A visão seria a atração de investimento estrangeiro e o aumento da renda familiar. Todavia, as opiniões divergem, no que concerne à política de tarifas alfandegárias (com ou sem reciprocidade), impostas aos países da União Europeia, Canadá, México, China, Japão, outros países asiáticos, países da América Latina e da América do Sul, África, etc.. A nova política comercial da Administração Trump, com enfoque no aumento das tarifas aduaneiras, iniciando com a aplicação de uma taxa de 25% a importação do aço e do alumínio, vai contra e põe fim a política de livre comércio, fiscalizada pela OMC. 

A nova estratégia, visa essencialmente, a deslocalização das empresas que produzem em mercados com mão de obra mais barata e tecnologia de ponta, em particular, a China, o Canadá, o México e a Índia. Porém, essa estratégia é “uma arma de dois gumes” e, como verificamos no início do mandato, tem servido barómetro, como base para início de negociação das tarifas, com avanços, recuos, reduções e suspensões. 

Por essa razão, é que a Administração Trump já respondeu ao Presidente do Vietname, que independentemente do mesmo oferecer tarifa zero (isenção) a exportação dos produtos industriais aos Estados Unidos, não os fará alterar a tarifa imposta as exportações desse país, porque o fim último da imposição de novas tarifas, (que numa primeira fase fará aumentar os custos de produção e o preço final), será obrigar as empresas estrangeiras a produzir naquele país, aumentando os postos de trabalho numa 2.ª fase. Esta resposta seria extensiva também a União Europeia, a Singapura e ao Zimbabué, que também ofereceram tarifas zero aos Estados Unidos (isenção de tarifas alfandegárias  à importação de países industriais). 

Nessa luta de gigantes, por enquanto, a China e o Canadá retaliaram. Inicialmente, Trump “atirou para a mesa” 50% de tarifa alfandegária para as exportações da China, para medir a “pulsação”. Mediante a resposta firme de reciprocidade da China, reduziu para 34% a tarifa da China à exportação, que de imediata veio anunciar a reciprocidade. Manteve os 25% de tarifa à exportação ao Canadá, que anunciou tarifa igual às exportações dos produtos americanos e atribuiu taxa idêntica ao México. O Canadá já anunciou possíveis deslocalizações de empresas para o México. Há ainda a agravante de utilizarem muito mão de obra estrangeira, que se tornou escassa devido à política anti-imigrante da nova Administração. 

Nesta guerra tarifária, só as economias bem estruturadas e mais fortes se equilibrarão a curto prazo (até 2 anos). Paira, contudo, a incerteza, quanto aos resultados de médio prazo (2 a 4 anos), para cada uma das maiores economias do mundo, assim como para com as economias dos países emergentes.

Não nos devemos esquecer, que grande parte dos equipamentos produzidos nos Estados Unidos, são o resultado de uma produção em cadeia, sendo muitos dos componentes produzidos sobretudo na China, Canadá e México. 

O prognóstico do resultado da primeira fase da estratégia da Administração Trump, foi a redução dos postos de trabalho, o aumento da inflação interna e a turbulência da bolsa de valores, que está a acontecer. Esta primeira fase está longe de terminar. Entretanto, a médio prazo, mediremos melhor as consequências e a correlação de forças das diferentes economias.

Os países da União Europeia foram apanhados desprevenidos, devido a longos períodos de políticas fiscais ousadas e políticas comerciais protecionistas, mas prometeram reorganizar-se. 

O Japão é um dos maiores investidores directos estrangeiros nos Estados Unidos da América, sobretudo na indústria automotiva. Nesse país, 9 em cada 10 empresas entendem que o aumento das tarifas alfandegárias a médio e a longo prazo, serão ruinosas para a economia de ambos países.

O Japão, é actualmente, o maior credor dos Estados Unidos, que lhe deve cerca de USD 1,0793 trilhão de dólares, ultrapassando já a China (USD 768,4  bilhões). A China reduziu parte da dívida desse país, em Janeiro (USD 18,6 bilhões), Fevereiro (USD 22,7 bilhões), Março (USD 7,6 bilhões) e Dezembro de 2024 (USD 9,6 bilhões). 

O Japão, como resposta ao aumento de tarifas impostas pela Administração Trump, iniciou a deslocalização das suas empresas HONDA e NISSAN, daquele país para o México, Canadá, Tailândia e Malásia. Em simultâneo, a semelhança da China, decidiu desfazer-se de uma grande quantidade de dívida dos Estados Unidos, vendendo 30 bilhões de dólares em obrigações do tesouro. A venda de grande quantidade das obrigações do tesouro americano pelos governos chinês e japonês, tem como objectivo tentar proteger as suas moedas (yuan e iene) da desvalorização face ao dólar, em virtude da Administração Trump estar a aumentar a emissão de títulos de tesouro, para evitar a desvalorização da moeda americana.

Sem grande supresa, as multinacionais americanas começam a migrar. A APPLE pretende deslocalizar a fábrica de Iphone para o Brasil, a quem os Estados Unidos impuseram uma tarifa igual de 10%. A China, pretende comprar mais soja e madeira do Brasil, em detrimento da aquisição aos Estados Unidos a China, pretende ainda deslocalizar algumas das suas empresas dos Estados para o Canadá e para a Índia.

No caso de Angola, foi imposta uma tarifa alfandegária ‘a exportação de 32%, contra 63% fixados ‘as importações. A semelhança da maioria dos países africanos, lamentavelmente, é uma pena que tenhamos desperdiçado cerca de 25 anos (desde 2000), a possibilidade de exportar para os Estados Unidos, com tarifa zero (isenção de impostos), por estarmos abrangidos pela AGOA-Lei do Crescimento e Oportunidade para África. Esta lei continua em vigor até Agosto de 2025, com possibilidade (escassa) de renovação. Só nos poderemos queixar da nossa incapacidade e incompetência. As empresas petrolíferas que há 25 anos beneficiam da mencionada isenção de tarifas alfandegárias da AGOA, são as únicas que agradecem.

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

PROCURAR