ARCEBISPO ANGOLANO LAMENTA “AUMENTO” DO FOSSO ENTRE RICOS E POBRES

Só quem for mesmo insensível não é capaz de perceber que as nossas famílias estão a passar mal, o exemplo típico são os preços da cesta básica que disparam todos os dias e ninguém consegue travar isso, por incrível que pareça”.

Fonte: Lusa (Ao Minuto)

O arcebispo angolano do Lubango, Gabriel Mbilingue, disse hoje que “aumenta assustadoramente” o fosso entre ricos e pobres “que se socorrem do lixo” em busca de “qualquer coisa para enganar o estômago”.

Segundo o arcebispo católico, que falava na província do Huambo, na abertura da 11.ª Assembleia Nacional da Comissão Episcopal de Justiça e Paz da CEAST, as constatações feitas há oito anos sobre a realidade socioeconómica das famílias “infelizmente ainda continuam actuais”.

“Oito anos depois, ainda hoje constatamos que aumenta assustadoramente o fosso entre os cada vez mais pobres e os poucos que se apoderam das riquezas nacionais, muitas vezes adquiridas de forma desonesta e fraudulenta”, afirmou, recordando uma nota pastoral dos bispos da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), aprovada em 2016.

A falta de água, de saneamento básico, a acumulação do lixo, salientou, concorrem para o aumento do índice da mortalidade de crianças e adultos vítimas da malária (principal causa de morte e de internamentos em Angola), referiu.

Gabriel Mbilingue considerou que, a par das doenças, muitas vezes os “pobres de hoje recorrem ao lixo onde esperam encontrar qualquer coisa para enganar o estômago”.

Acima de tudo, assistimos a uma insensibilidade quase crónica perante o mal, perante a doença e, sobretudo, perante a morte”, realçou o também presidente da Comissão de Justiça e Paz da CEAST, advertindo que a indiferença total ao mal “é anti-evangélico”.

Aquele arcebispo criticou também o desvio de medicamentos e de bens alimentares nos hospitais, devido à insensibilidade dos seus autores para com os pacientes, considerando ser este um mal, “agravado pela crise económica, crise alimentar e a fome”.

Só quem for mesmo insensível não é capaz de perceber que as nossas famílias estão a passar mal, o exemplo típico são os preços da cesta básica que disparam todos os dias e ninguém consegue travar isso, por incrível que pareça”, lamentou.

A 11.ª Assembleia Nacional da Comissão Episcopal de Justiça e Paz da CEAST, que junta mais de 50 delegados na província angolana do Huambo, para a reflexão sobre a vida socioeconómica e religiosa do país, decorre até amanhã, sexta-feira.

As preocupações do arcebispo do Lubango foram expressadas no mesmo dia em que o presidente da CEAST, arcebispo José Manuel Imbamba, foi recebido, em audiência, pelo Presidente da República de Angola, João Lourenço, no Palácio Presidencial, em Luanda.

José Manuel Imbamba disse, à saída do encontro, que abordou com o Presidente angolano a necessidade da realização de um grande encontro de reflexão sobre os 50 anos de independência do país, a serem celebrados em 11 de Novembro de 2025.

“Achamos que não bastará o culto ecuménico, teremos é que fazer um grande encontro de reflexão entre angolanos para podermos reflectir o nosso passado, o nosso hoje, o nosso amanhã”, disse aos jornalistas, referindo que Angola necessita de uma purga social, política, económica e jurídica para se tornar mais inclusiva.

“Que é preciso fazer para que verdadeiramente Angola, ao celebrar os 50 anos, renasça como Angola, renasça como inclusão, como meritocracia, como acolhimento e fraternidade para que Angola renasça como um país de todo e para todos?”, questionou.

O encontro entre João Lourenço e o presidente da CEAST surge após o Chefe do Executivo angolano ter recebido, na terça-feira, vários líderes de organizações religiosas do país.

Legenda: Audiência que o Presidente da República concedeu ao presidente da CEAST. O luxo do Palácio, que mereceu intervenções milionárias ao longo do primeiro mandato do novo inquilino, contrastam com a miséria da população. Diante de tanto luxo, a impressão que se tem não é de uma Angola cujo mais alto mandatário anda pelo mundo a ‘mendigar’ apoios.

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