Terminou mais uma etapa de luta para os médicos angolanos. Para frente, vão as promessas e garantias de resolução dos problemas e das exigências para melhoria das condições de trabalho da classe. E para trás, fica um percurso, a história e o registo de uma luta pela dignificação, respeito e valorização da profissão.
Por Felisberto Ndunduma Sakutchatcha
Bravo e palmas para a classe de médicos que conduziu com resistência a greve, que culminou com a negociação do caderno reivindicativo.
Estamos de acordo que a força da paz e do andamento das acções públicas, reside única e exclusivamente, na capacidade de resolver as coisas por via do diálogo.
A culpa dos médicos foi terem usado os instrumentos legais para exigir os seus mais bem merecidos direitos elementares. Isso custou-lhes a reputação chancelada por antipatriotas que os detractores usaram para desencorajar movimentos reivindicativos.
A resiliência, a resistência e a sapiência do Sindicato dos Médicos conseguiu contornar o cenário que lhes queriam impor. Ignoraram as acusações sobre uma presumível instrumentalização e assim, em uníssono, conseguiram galvanizar uma luta que hoje conheceu os seus frutos e servirá de exemplo para outros injustiçados.
Se reclamamos o mau atendimento, se lamentamos as enchentes e mortes nos hospitais públicos, temos a plena consciência de que o Governo não dignifica esta classe, da qual depende em grande escala as nossas vidas.
Os médicos, justamente foram ‘culpados’ de tudo. Até do previsível colapso do Sistema Nacional de Saúde. Mas, se mal com eles, pior ainda será sem eles. E assim vimos os danos causados. Essa greve levou gente à morte, pois os médicos estavam no combate. E a culpa é toda de quem representa o Governo, pois tudo isso teria sido evitado, se houvesse maior sensibilidade.
Os agentes do nosso Governo devem lidar melhor com os cadernos reivindicativos. O diálogo, antes da greve, teria evitado situações críticas como as que observamos e vivenciamos. Porque os mais afectados somos todos nós, angolanos, que não conseguimos atendimento médico fora das unidades públicas.
É preciso atacar os problemas pelas causas. Deixemos de ver OPOSIÇÃO em tudo. O partido que cria comités de todas as especialidades, do nada, viu uma elite de médicos aderir à greve. E sem pestanejar, começaram a disparar para todos os lados, acusando que era instrumentalização da oposição.
A ‘culpa’ dos médicos foi terem pensado em si para realizarem o mais nobre bem: a salvação de vidas com dignidade. E isso custou ataques por parte de todos os grupinhos afectos a outros comités, os cibernéticos. Mas, no final, a razão triunfou.
Os acordados 90 dias para atendimento dos pontos constantes no caderno reivindicativo, serão fiscalizados pelas partes intervenientes em todos os processos. E efectivou-se o regresso do presidente do Sindicato dos Médicos ao Hospital Pediátrico David Bernardino, de onde nunca deveria ter sido afastado. Mas, há agentes tão insensíveis neste Governo, que por vezes precisamos nos perguntar se conhecem a sua verdadeira vocação.
Estamos na calçada e os horizontes da vitória estão perto. Há uma palavrinha de desapontamento e desgaste contra a imprensa pública nesse enredo todo: a média estatal, manteve-se silenciosa intrigante diante deste caso, mas, anunciou o entendimento… Por essas e por outras que vemos todos os dias, ficamos sem perceber qual afinal o modelo de governação do país, também neste domínio, já que não é comum um jornalista ter medo de fazer o seu próprio trabalho. Como se sentiria um professor ao não cumprir a sua tarefa que é a de ensinar com verdade? Como anunciar então a resolução de um problema não noticiado? Foi o que já vimos no caso da greve dos professores convocada pelo SINPROF, e é quase certo que acontecerá com a dos enfermeiros de Luanda, prevista para os próximos dias, por alegados incumprimentos da actual governadora.
Claro está que não é patriótico insurgirmo-nos contra os órgãos de comunicação social. Mas, por vezes, a média estatal tem cavado para si mesma a areia com que se enterra. E isso é deplorável. Como diz o adagio, “quem não esteve comigo nos momentos de luta, não pode comemorar a minha vitória”. É claro que não estamos apenas a falar da imprensa estatal, mas essa tem responsabilidades acrescidas porque sobrevive das nossas contribuições. Afinal, nós somos os accionistas da imprensa pública, e quem dirige, de forma oficial ou velada a chefia desses órgãos, tem a obrigação de saber disso. Ou não?
A omissão é também forma de comunicação. Que se fale desde o começo, ou que se calem para sempre. Estamos cansados de uma imprensa presa e predadora do Estado Democrático de Direito!
Que haja mais médicos guerreiros, para que nós, os beneficiários, possamos receber assistência com mais dignidade.
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