Por Francisco Laranjeira
Há 16 anos, a conferência do Partido Conservador testemunhou, pela primeira vez, o extraordinário apelo mediático de Boris Johnson, então porta-voz da educação tory, da oposição, que atraiu inúmeras câmaras de TV para atacar a cruzada do famoso chef Jamie Oliver para tornar as refeições escolares mais saudáveis. Agora primeiro-ministro britânico, Boris Johnson viu o seu estado de graça cair após o escândalo ‘partygate’ e vive o seu momento político mais sombrio.
Boris, uma rara combinação de político e ‘celebridade’, uma ‘manchete’, populista e alguém que pode dizer uma coisa e defender depois outra. O mais talentoso mas também o mais caótico, imprevisível, mas o único que poderia garantir o triunfo dos tories em Londres e no Brexit.
O histórico referendo sobre a permanência da União Europeia, que completou 6 anos esta quinta-feira, foi um grande ponto de viragem para dissipar as dúvidas dos seus críticos. Não que tivesse ganho fãs mas o reconhecimento de que o excêntrico loiro albino podia mover multidões. O partido demorou mais de uma década para chegar a um acordo e eleger um figura tão controversa como seu líder, que as eleições de 2019 vieram a confirmar, segundo apontou o jornal espanhol ‘El Confidencial’.
Mas os tempos mudaram: depois da recente humilhação no voto de confiança em que 41% dos deputados do próprio partido votaram contra ele, o primeiro-ministro sublinhou no entanto “absolutamente nada nem ninguém” o impediria de continuar o seu trabalho. Mas os eleitores são soberanos e esta quinta-feira pode ditar a sua ‘sentença de morte’ política: o ainda líder tory enfrenta duas eleições parciais nas quais a sua continuidade em Downing Street estará em jogo.
E porquê? Nas últimas semanas, dois deputados conservadores foram forçados a renunciar – um por assistir a pornografia no seu telemóvel durante um debate parlamentar, outro por ter sido condenado a 18 meses por agressão sexual a um menor. Assim, dois círculos eleitorais, com características completamente diferentes, vão a votos e podem dar a ‘direção’ para o Partido Conservador nas próximas eleições gerais, marcadas para 2024. Se não conseguir reter os dois assentos, como indicam as sondagens, os seus dias como líder político no reino Unido podem estar contados.
As legislativas parciais acontecem apenas 17 dias depois de Johnson sobreviver a uma moção de confiança apresentada por deputados rebeldes do seu partido. As urnas abriram às 7 horas e vão manter-se até às 22 horas, mas os resultados só serão anunciados esta sexta-feira.
Apoiado por 211 do 359 legisladores do partido, o primeiro-ministro garantiu a permanência no cargo, mas os 148 votos contra a sua liderança deixaram evidente o descontentamento entre os conservadores. Derrotas em Wakefield, um tradicional reduto da esquerda no denominado “muro vermelho” do norte desindustrializado da Inglaterra, que os conservadores conquistaram em 2019, e em Tiverton-Honiton, círculo historicamente conservador do sudoeste do país, aumentariam a irritação dos tories para com o seu líder e decidir que chegou a hora de um novo rosto.
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