PRISIONEIROS DO MEDO E DA OPINIÃO DOS OUTROS

RECADOS DA CESALTINA ABREU

“Pássaros criados em gaiolas acreditam que voar é uma doença”

Alejandro Jodorowsky

A metáfora “pássaros criados em gaiolas acreditam que voar é uma doença”, da autoria de Alejandro Jodorowsky (1929, cineasta, escritor, músico e guru espiritual chileno), é um convite para reflectir sobre as nossas próprias “gaiolas”, que nos prendem, e a importância de ter a coragem de “voar”, ou seja, de enfrentar o vazio e o desconhecido para descobrir e realizar o nosso verdadeiro potencial. É um chamado à acção para nos libertarmos das amarras sociais e culturais, e buscarmos a plenitude. 

A gaiola é uma prisão e o pássaro, talvez a analogia mais utilizada para se falar de liberdade, não consegue escapar da gaiola. Ele tenta, de todas as maneiras, encontrar uma forma de escapar das barras que o prendem à realidade na qual se encontra. A metáfora descreve como limitações impostas pela sociedade (a gaiola) podem fazer com que a liberdade (o voar) pareça perigosa ou impossível, mesmo quando é inato. É uma crítica àqueles que aceitam as restrições do seu ambiente e têm medo de buscar realizar o seu potencial, preferindo as “gaiolas” da zona de conforto à coragem necessária para “voar”. 

Esta metáfora de Alejandro Jodorowsky convida-nos a reflectir sobre a forma em que fomos educados, sobre o método tradicional de ensino. Devemos frequentar uma faculdade – dá status -, para conseguir um emprego, comprar um carro, uma casa, constituir uma família, ter filhos, reformar-se e aguardar morrer. Desde crianças somos estimulados a pensar na nossa estabilidade, tirarmos boas notas para passar de ano, conseguirmos bons empregos, constituir uma família e prover algum conforto.

Esta reflexão também nos lembra a conhecida ‘Alegoria da Caverna’ de Platão (que referi dias atrás), em que os personagens são pessoas mantidas como prisioneiras (desde o seu nascimento) e que passam todo o tempo olhando para a parede do fundo que é iluminada pela luz da fogueira. Nesta parede são projectadas sombras representando pessoas, animais, plantas e objectos, em cenas e situações do dia-a-dia. Os prisioneiros passam o tempo atribuindo nomes às imagens (sombras), analisando e julgando as situações. Entretanto, quando um deles é libertado e conhece o mundo fora da caverna, deslumbra-se com a nova realidade, e ao tentar contar aos seus antigos companheiros, é ridicularizado e ignorado. Platão resumiu, assim, os fundamentos do seu pensamento filosófico, a partir da ideia da existência de ‘dois mundos’ e vivemos aprisionados pelos nossos sentidos às correntes da ignorância. Por isso, só é possível conhecer a realidade, quando nos libertamos das influências culturais e sociais, quebramos preconceitos e, assim, ‘saímos da caverna’.

Nesta terça-feira, Saúde, Cuidados e Coragem para não deixar de fazer algo por causa das convenções sociais, do medo de arriscar/voar, da opinião dos outros. 

Kandando daqui!

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