“O que o rebanho mais odeia é aquele que pensa de forma diferente. Não é tanto a própria opinião, mas a audácia de querer pensar por si mesmo, algo que eles não sabem fazer”.
Artur Schopenhauer

Esta citação atribuída a Arthur Schopenhauer, filósofo alemão (1788-1860), em síntese, critica a tendência do ‘rebanho’ (grupo homogéneo, onde a maioria das pessoas tende a seguir o mesmo padrão de pensamento e comportamento), em rejeitar o indivíduo que ousa pensar diferente, não pela diferença em si, mas pela liberdade de pensamento que representa. Não é a opinião que fere, mas a audácia de ser singular, algo que o rebanho não compreende, tão-pouco consegue alcançar. É a coragem de quem ousa pensar por si, de forma autónoma, de quem ousa ser livre. É a capacidade de questionar, reflectir e formar opiniões independentes o que causa desconforto e a rejeição no rebanho.
Fez-me lembrar O Mito da Caverna (Platão): quem está no interior da caverna pensa que o que vê é a realidade; mas não é, o que vê são apenas as suas próprias sombras. Pensa assim porque não conhece outro mundo. O ambiente da caverna representa a ilusão, o erro, a ignorância, o comodismo e o materialismo que caracterizam a nossa existência; a que se opõe o mundo sensível, complexo, em que vivemos. ‘Sair da caverna’ representa romper com os preconceitos e buscar o conhecimento, expor-se e procurar entender os outros.
Mas, voltando a Schopenhauer, ‘O mundo como vontade e representação’, título da sua obra mais famosa, marca a nossa condição humana já que a maioria é conduzida pelo instinto, o voluntarismo. Quando pensamos diferente e construímos pensamentos próprios somos, em geral, hostilizados pelos demais, que não querem deixar o comodismo mental.
O momento histórico que atravessamos é caracterizado por um irracionalismo perigoso e uma perda do sentido de humanidade. No que respeita ao nível político, para Schopenhauer, ‘o rebanho’ limita-se a odiar os que pensam de outra maneira. Mas será que todo o rebanho odeia devido à ideologia? Por ignorância? Pelo facto de o opositor político ter a audácia de pensar? Não! Dentro do rebanho estão os que vivem à custa dos vencedores e o perigo vem daí, da ‘clientela’, e o seu medo de ficar sem os favores e as benesses que o ‘sistema’ oferece-lhe em troca do apoio político; é a parte do rebanho que ‘vende a sua consciência’ e morre de medo do regime cair: o que será deles?
Para além deste aspecto, importa lembrar que a crítica é o elemento essencial da democracia. Onde dialogam pessoas com mentes abertas, respeitadoras das opiniões dos outros, as opiniões diferentes não geram conflitos, abrem novos caminhos, novas possibilidades, e as sociedades evoluem. Em sociedades como a nossa, com baixíssimos níveis de literacia, com uma gritante ausência de valores e de princípios cívicos devido a uma cidadania negada, primeiro pela dominação colonial, e depois por um regime totalitário que deu lugar ao autoritário, ambos negando oportunidades de participação da sociedade nos processos de tomada de decisão, centralizados no poder executivo, a compra & venda de consciências já não tem nada a ver com o passado. Antes, devem-se à ausência de valores humanistas, cívicos, que marcam o momento histórico que atravessamos.
Neste sábado, saúde, cuidados e coragem para ousar ser, estar, pensar e agir com base na capacidade de analisar, reflectir e decidir por si próprio/a, apesar dos desafios que essa opção representa.
Kandando daqui!
*Leia, comente e partilhe o nosso link. Nós fazemos a nossa parte. Faça também a sua. Exerça a sua cidadania e os seus direitos. Seja mais um Kesongo (mensageiro/conselheiro). Contribua para a edificação de uma Angola para todos, plural e democrática.*
