Embora o Chefe e a “camarilha que o acompanha” disfarcem, sabem que o sentimento que se apossou da maioria dos jovens de ontem — que acreditaram, que contribuíram para uma causa que pensavam ser libertadora e de mudança, que foram responsáveis pela recepção e para que o MPLA se tornasse na força que se implantou e tomou o poder —, e dos angolanos de forma geral, é de profunda revolta, de tristeza, de desilusão, de arrependimento, mas também de desprezo (ou raiva) por (ou contra) essa elite.
Sentem que foram enganados, utilizados e descartados. Principalmente os que prenderam, torturaram e mataram milhares de outros jovens, para acomodação da “camarilha” que, hoje sozinha, tem beneficiado do acesso à riqueza nacional, que garante o conforto exibido, de forma despudorada, predadora, cá dentro e lá fora, enquanto eles sobrevivem com uma mísera pensão de antigos combatentes. E sentem medo de mandar essa raiva e revolta para fora. O mesmo medo que se apossou dos nossos progenitores perseguidos pela PIDE, pela nossa geração com a DISA que criaram e matou mais angolanos, encarcerados, que o colono nos campos de concentração.
Decorridos quase 50 anos, continuamos a sentir medo até da Polícia ‘Republicana’, e mais grave, dos juízes e dos tribunais que julgam e condenam o povo em nome do povo por expressar a sua revolta. Temos medo do presente e do futuro para os nossos descendentes, porque continuamos a sentir que ainda se cultua a imposição do medo e da obediência a estatutos e códigos de conduta, iguais aos trazidos da mata, fabricados com a cumplicidade não mais de guerrilheiros analfabetos, mas por uma nova geração, de juristas, comprometidos com o poder e sem sentido de pátria. São igualmente responsáveis pelo sequestro do Estado, pela miséria, pelo saque do erário.
Temos medo, porque os jovens que saem das universidades, onde eles leccionam, são transformados em batuqueiros que fazem a defesa do Chefe, em vez de servirem a ciência, o desenvolvimento e a harmonia nacional. Continuam a ser formatados para servir a cultura da idolatria, da devoção a um Chefe que, tal como o primeiro e o segundo, é tão humano quanto todos nós. Não é nenhum Deus, não tem de ser venerado. Foi eleito para trabalhar para o bem-comum e não para trabalharmos para satisfação das suas ambições, utilizando como suporte, o Estado. O que aconteceu é que o Chefe iludiu todos e deu o golpe. E agora, outro golpe. Sequestrou o seu partido…
Quem faz tudo isso e continua tranquilo, sabe que a vitória nas eleições não resulta da expressão do voto. E como eu, há milhares de angolanos preocupados e assustados com o provável cenário de 2027. Porque tudo o que sobe também cai e quanto mais alto maior a queda, tudo o que começa também acaba, tudo o que nasce morre.
Como o sequestro do Estado, à luz das nossas leis, também pode ser interpretado como ‘crime lesa-pátria’ e os partícipes por associação criminosa, há muita gente, e sobretudo juristas, que não escapará à responsabilização. Doa a quem doer.