Acções consertadas da extrema-direita desencadeiam uma grande escalada de violência contra negros e muçulmanos nas principais cidades do Reino.
POR JOCA TONET
A Europa enfrenta um verdadeiro dilema entre a sua política de defesa dos direitos humanos e a onda de imigração a que está sujeita diariamente, o que, por outro lado, anima os partidos e grupos de extrema-direita, que tiveram um ascendente considerável nestas últimas duas décadas.
Hoje, assistimos um pouco por toda a Europa, o surgimento de partidos políticos de extrema-direita que criam agitação e instabilidade política, obrigando a revisão da orientação governativa no contexto político-social e económico, um dos “itens”, que muito questiona.
Uma das preocupações colocadas por essa extrema-direita, é o facto dos governos desviarem uma fatia considerável de meios e recursos para atendem a imigração, que seriam destinados aos seus cidadãos tais como: direitos sociais, de pensão, de habitação, alimentação e que, como argumentam, sobrecarrega o Estado e diminui a sua capacidade de melhorar a sua condição de vida.
Mas, como se observa, políticos astutos estão no conserto desta situação, como estratégia de tomada do poder. Eles agitam os vários grupos anti-imigrantes conhecidos pela imprensa, financiando toda a acção perpetrada por eles. Outros, constituíram partidos políticos e dão o ar da graça sempre com a sua marca predilecta, elevando a bandeira do nacionalismo depravado, considerando os desgraçados “imigrantes”, particularmente negros e muçulmanos, que estão na alça de mira, como o maior inimigo de ‘estimação’.
No fundo, o agravamento das condições económicas e sociais nos países de origem dos emigrantes, tem servido de estímulo para a intervenção pública dos grupos de extrema-direita. É neles que se inspiram e justificam o protagonismo e a sua acção política.
Na Holanda, por exemplo, o líder da extrema-direita, Geert Wilders, tem como principal alvo um dos grupos de imigrantes, os “marroquinos”. Defende a sua expulsão da Holanda mas também a participação na União Europeia e o fim do apoio holandês a Ucrânia.
Segundo Geert Wilders, a Holanda não tem de enviar as suas armas para sustentação do esforço de guerra da Ucrânia, com base no argumento que o objectivo delas é de garantir a segurança do país.
Geert Wilders é o líder do partido da liberdade, da direita radical, que venceu as eleições e tem como principal foco político, a promulgação de leis contra imigração e o fim da concessão de asilo político que o governo holandês prática há anos. Isso porque, defende, a Holanda tornou-se num dos centros atractivos de imigrantes e, futuramente, num dos países europeus de maior multiracialidade.
Segundo Geert Wilders, se não se fizer nada hoje, o futuro do país estará ameaçado na sua base estrutural, isto é, na génese racial e étnica, pelo que, é urgente e necessário actuar o quanto antes para defesa do futuro do reino, adoptando medidas drásticas para coartar a imigração de negros e muculmanos.
Geert Wilders tem as redes sociais como principal ferramenta de recrutamento de seguidores e apoiantes, e goza de um número considerável de adesão, factor que pesou em seu favor na disputa das eleições autárquicas e parlamentar, tendo como base o extrato social e políticos dos velhos conservadores.
Na França, a extrema-direita é dirigida por Jordan Bardella, um político muito activo e um dos grandes influenciadores da política anti-imigração, não ficando atrás da persistente Marie Lê Pen, que não esconde a sua posição relativamente aos últimos acontecimentos naquele país.
Em Portugal, o cenário político tornou-se mais agitado com o surgimento do “Chega”, dirigido por André Ventura, um ‘jovem estóico’ e fanático, cujo foco também está direccionado para a expulsão dos imigrantes, embora o país precise deles.
Para estes políticos, a responsabilidade do que está mal nos seus países são os imigrantes. Mas essa acusação tem sido um pretexto, quando, na verdade, se sabe, que qualquer imigrante tem como foco o trabalho e, às vezes, em actividades pouco ou nada atractivas para os cidadãos locais. Por outro lado, há discriminação na atribuição de salários. Os imigrantes estão igualmente sujeitos a uma série de condicionalismos impostos pelos empregadores. Eles são também importantes no desempenho económico desses países e não são os “vermes” que enfermam essas sociedades, como têm sido acusados. São, isso, sim, matéria de inspiração dos partidos políticos de extrema-direita, nas suas estratégias de protagonismo e de ascensão política.
Em face dessa nova realidade, as governações africanas não se deviam apartar desses acontecimentos graves, porque mesmo estando fora das suas fronteiras, esses imigrantes constituem uma franja importante da sua população, juventude sobretudo, que, ilusoriamente ou não, sente-se estimulada em abandonar o país de origem em busca de melhores condições de vida e até de suporte económico para a estabilidade dos familiares directos que ficam.
Regra geral, a vida de um imigrante na Europa não é nada fácil. Muitas vezes é confrontado com situações de despersonalização do sujeito, com o racismo, a xenofobia e todas outras espécies de discriminação que atentam contra a sua dignidade.
Logicamente que é necessário que o africano, no geral, tome consciência do que se passa à sua volta, se quiser sobreviver neste mundo. Ou seja, o africano de matriz negra, vive a maior discriminação dentro e fora do continente; sofre as piores injustiças e brutalizado na sua essência com um grau de violência sem precedentes na história, acrescido do facto de as potências outrora coloniais e escravocratas, não terem assumido as suas responsabilidades, como resultado do terror que levaram às colónias e aos povos negros, por séculos tratados como “peças” leiloadas e/ou vendidas nos mercados negreiros das américas e da Europa. Essas marcas são indeléveis e ainda sangram. Mas o que se constata é que os europeus não se coíbem de vergonha no tratamento que concedem ao africano, e também não escondem o que pensam em relação à sua discriminação.
A cobiça pela África para exploração dos seus recursos minerais, à luz dos seus interesses, continua a alimentar cada vez mais a exploração de todo o seu potencial, deixando os africanos mais dependentes e miseráveis.
O tamanho da ambição das grandes potências, a extensão das suas implicações, a vastidão dos seus crimes, continua a não ter precedentes na história. Não fica para trás, no Norte no Leste do continente, a escravidão árabe contra o homem negro, segundo Ntidie Ndaye, sob o silêncio cúmplice da generalidade dos estados africanos negros.