De erro em erro, a percepção de insegurança institucional instala-se quando aqueles que deviam fazer a diferença, preferem agradar a liderança com rasgados elogios mesmo quando o circo começa a arder. Já vimos este filme antes e não terminou bem.
Em 2025 Angola comemorará 50 anos de Independência. Durante estes anos, com guerra e em paz, o povo angolano aprendeu a ler nas entrelinhas. Os exemplos em apontar um caminho que ia sempre no sentido contrário aquilo que eram as prioridades colectivas são tantos, que se tornou evidente que a actual governação tem o mérito de ter conseguido piorar o que estava péssimo.
A divisão administrativa vista por qualquer um dos lados que ela tenha não acrescenta valor à alteração do paradigma da governação existente pelo facto de não se conseguirem resultados diferentes se as ferramentas e a prática forem sempre as mesmas. A maioria das províncias é governada por pessoas sem empatia e cuja principal tarefa se resume a serem bons militantes. Por isso, ficou claro deste o primeiro momento, que esta intenção divisionista apenas tinha como ambição ganhar mais deputados nas zonas menos povoadas de algumas províncias, criando mais cinco deputados elegíveis pelo círculo provincial.
As eleições de 2022 exigem agora a divisão de Luanda, acreditando os proponentes que pintando com outras cores a perda da capital, conseguirão reverter o colapso esperado em 2027. Uma estratégia motivada pela dissonância cognitiva que não permite perceber que tudo tem limites. Se alguém todos os dias bater no cão, um dia o cão vira-se contra.
A perda de Luanda e de outras províncias foi fruto do descaso, do aumento da pobreza, da perda dos filhos, da governação sem eficácia, do desrespeito pelo povo e da perda da esperança nesta governação. A paciência dos povos é elástica, mas em nenhum momento da história foi eterna.
Os constrangimentos da gestão provincial estão ligados à falta de visão da liderança do país que, em momento algum, conseguiu orientar estratégias que apontassem o caminho onde Angola devia estar daqui a 20 ou 30 anos. Este sempre foi o erro. A inexistência de um plano coerente, realista, prospectivo e sobretudo que colocasse o bem-estar social e a dignidade dos angolanos em primeiro lugar, elementos imprescindíveis para construir qualidade de vida, progresso económico e social e o desenvolvimento do país. O deprimente déficit de inovação da governação insiste na reacção quando o elefante se torna incómodo, desenhando respostas atabalhoadas na esperança de garantirem a sobrevivência partidária não importando o descrédito da estratégia.
De erro em erro, a percepção de insegurança institucional instala-se quando aqueles que deviam fazer a diferença, preferem agradar à liderança com rasgados elogios mesmo quando o circo começa a arder. Já vimos este filme antes e não terminou bem. A expectativa pública é claramente desoladora. É visível o enorme muro, que está instalado entre a governação, que não soube aproveitar as oportunidades para fazer bem e agora quer assegurar a eternidade de um poder com pés de barro e os governados que todos os dias perdem o país que se nega a atribuir-lhes os seus direitos constitucionais. A perda de credibilidade também é associada ao aumento da corrupção e o desfecho para os partidos suspeitos foi visível em Moçambique e na África do Sul.
Com uma postura militante viciada no erro, sem que os eleitores consigam ver eficiência ou luz ao fundo do túnel, é pertinente considerar que, na verdade, até pode ser benéfica uma divisão, não de Luanda, mas do país. A cada dia fica mais evidente que esta governação se tornou incapaz de perceber que a soma de todos os erros cometidos, durante tantos anos, conseguiu destruir os principais pilares do Estado. Com a divisão do país poder-se-ia abrir uma janela de oportunidade satisfazendo todas as partes. Um país para eles continuarem a estagiar de forma megalómana e a usufruir do luxo e da glória sozinhos e um país para todos os governados “heróicos, generosos e fartos” poderem conquistar bem-estar social, respeito pela dignidade humana e pela dignidade institucional, sem eles.
*Novo Jornal – 24.06.2024