Como disse o Papa Chiquito, “Aconteceu qualquer coisa a nossa política, porque desligou-se das ideias e das propostas. Hoje em dia, importa mais a imagem do que aquilo que se propõe”.
Decorreu, domingo (6), o leilão de viaturas e embarcações recuperadas no âmbito do combate à corrupção designadamente, de modelos Lexus, Mercedes, Range-Rover, Toyota VX e, provavelmente, outros top de gama. E coube ao Cofre Geral de Justiça, na qualidade de fiel depositário, a iniciativa que, certamente, terá continuidade, contemplando os que fazem parte da arrecadação feita lá fora.
Mas, já agora, e aproveitando a onda do aperto financeiro, porque não leiloar também outros desperdícios ou encargos, como parte da frota de veículos da Presidência da República, por exemplo? É muito carro que detém essa instituição pública e parte deles, até já não são utilizados faz muitos anos. Por outro lado, o Presidente, deste país que é de todos nós e anda com as finanças de tangas, muito recentemente, “mimou-se” com o que há de melhor no mundo (apesar da carestia de recursos públicos) do luxo de automóveis, mas não se sabe qual o destino dado aos anteriores. Digam-nos alguma coisa por favor, não é pedir muito, porque temos esse direito. Ainda que estejam a guardá-los para fazer parte da preservação da história que será um dia mostrada às gerações que nos sucederem, digam alguma coisa ao verdadeiro dono do dinheiro arrecadado pelo Estado. É que, se leiloadas ou vendidas, ainda que por “ajuste directo” aos próprios servidores públicos utilizadores e com pagamentos parcelares, se amelhariam uns bons milhões e se poupariam outros tantos. Para além de se libertar espaço no parque onde estão e são assistidos.
Até por esses aparentemente pequeninos exemplos, se pode perceber a que extremo chegou não só o despesismo, mas a falta de transparência na gestão pública. Mesmo decorridos quase meio século de independência, nunca foi tornado público qualquer inventário de tudo o que há ou é gerido pelos diferentes gabinetes dessa instituição que é a Presidência da República. Mas também percebe-se bem porque razão. A acontecer, muita gente ficaria careca, ou perceberíamos que afinal há outros lussatis espalhados por lá. Contudo, do que mais ninguém tem dúvidas, é que o país tem sido dirigido de tal forma unipessoal, que embora esses meios tenham sido adquiridos com o nosso dinheiro, estamos proibidos de saber quanto pagamos. Até isso, entra Presidente sai Presidente, e já vamos no terceiro, constitui “matéria de segredo de Estado”. Provavelmente, porque se essa informação for divulgada, ficaríamos escandalizados e perceberíamos melhor ainda, algumas das razões que constituem causa e efeito da miséria e da pouca vergonha que ainda anda por aí passeando pelos corredores do poder.
Mas, a propósito, mesmo não sendo minha prática especular, e já que ninguém diz nada, vou avançar com alguns números: a Presidência da República deverá dispor de uma frota superior à mil unidades, mas deve controlar cerca de cinco mil. Acertei?
É claro que isso não é verdade. Trata-se de exagero meu… e por isso, vou aguardar sentado que alguém venha a público desmentir e prestar melhor informação. Tenho dúvidas, mas aguardarei sentado com um pacote de pipocas. Poderia contar com a colaboração dos nossos deputados para retirar essa pulga da orelha, mas, até a esse nível, estamos mal servidos. Porque como a maioria diz, no CHEFE ninguém toca. Mesmo quando o dinheiro tem dono e ele passa fome, enquanto aquele em quem depositou confiança para uma gestão parcimoniosa, mima-se exibindo os seus refinados gostos, a pretexto de que tem direitos.
Como disse o Papa Chiquito, “Aconteceu qualquer coisa a nossa política, porque desligou-se das ideias e das propostas. Hoje em dia, importa mais a imagem do que aquilo que se propõe”.
O exemplo está em Angola! O povo está na miséria e quem o dirige passa ao mundo, uma imagem de luxúria, de esbanjamento, de negação às suas próprias origens, cópia fiel das velhas e desgastadas lideranças africanas, que arrastaram o continente para um novo modelo de conflito e confronto geracional, que põe em risco a vida e a segurança de milhões per si já desprovidos do básico.
E recordei-me do alerta (ou recado) de Robert Adams: “Existe apenas uma decisão que você precisa de tomar: ou você trabalha pela sua liberdade, ou você aceita a sua escravidão”.
Provavelmente, uma nova versão do futuro já começou a ser escrita!