COMO PODE FALAR EM RECONCILIAÇÃO NACIONAL, QUANDO CONDECOROU TORTURADORES DO 27 DE MAIO?
É anormal e muito triste, que algozes do 27 de Maio continuem a ser louvados, recebendo condecorações como heróis, pela mão do Presidente João Lourenço.
Se a memória não me falha, vi os nomes dos famigerados António Carlos Jorge ‘Cajó’ e de Manuel Miguel de Carvalho ‘Wadijimbi’ da ex DISA, na lista dos mais recentes condecorados pelo Presidente João Lourenço, o primeiro com a Ordem do Mérito Militar 2º Grau e o segundo com a Ordem do Mérito Militar 3º Grau.
O medo imposto pelas actuais perseguições políticas, prisões arbitrárias e perca de emprego é tanto, que até a comunicação social, em especial a institucional, passou por cima desse absurdo, que equivaleria à exaltação de Hitler e seus mandatários no fuzilamento aos judeus dos campos de concentração nazi. O maior partido da oposição também ficou mudo, porque viu grandes assassinos das suas hostes beneficiados.
Da mesma forma, continua-se a nomear para representar o país no exterior, como nas Nações Unidas e agora em Portugal, alguém que não sei como conseguiu em simultâneo fazer carreira completa em dois serviços públicos incompatíveis, obtendo a patente de oficial superior do exército angolano, por ser militar amanuense e secretária do pai do seu filho, o General José Condesse de Carvalho ‘Toka’. No mesmo dia em que prenderam o Zé Mingas, adjunto do General Eugénio Veríssimo da Costa ‘Nzaji’, a sra. Maria de Jesus Ferreira, embaixadora de Angola em Portugal, acompanhada de militares, levaram uma ordem de desalojamento à esposa daquele, que teve de sair de imediato com o bebê, no prédio do Jacaré, no Bairro do Alvalade. Não lhes foi permitido levar uma única peça de roupa, nem sequer o leite do bebê e o seu dinheiro que aí deixou.
Corro o risco de ser processada por dizer a verdade, porque pelo que vimos, para protegerem os malfeitores, fizeram possivelmente um pacto de silêncio. Porém, se antes da independência onde tinha tudo, nunca me calei perante a injustiça a outros, para encontrar a liberdade do nosso país, não será agora que vou calar a voz da razão.
Só conto o que vivi. As vítimas de espoliação que refiro, foram para minha casa e a sra. que era mais alta do que eu, teve que vestir a minha roupa, num período em que não havia nada nas lojas e para comprar leite era necessário ir para a bicha.
De forma similar, a então secretária do ministro da Defesa Iko Carreira, Alcina Dias da Silva ‘Xinda’, ocupou a casa de José Van-Dunem, no mesmo dia em que o mesmo e sua esposa Sita Vales foram presos. Apenas porque, segundo a própria Xinda, a casa estava bem mobiliada, porque ela até habitava numa vivenda no Bairro do Cruzeiro. Enquanto isso, o apartamento do Zé Mingas era famoso porque tinha sauna.
A promessa da entrega de certidões de óbito, não passou de uma farsa. Até hoje não me foi entregue a certidão de óbito de Tito (Tilú) Mendonça, onde conste a causa da sua morte por fuzilamento. Sem a causa de morte, as certidões de óbito são inválidas. Maior prova da má-fé, foi a entrega de umas ossadas quaisquer a algumas famílias.
O Dr. Tito Mendonça foi um combatente pela liberdade. Não quis continuar como docente da Universidade de Medicina em Lisboa, para regressar ao seu amado país. Foi médico dos SAM, e como médico do Hospital Militar fez parte das Forças Integradas durante o Governo de Transição (MPLA/FNLA/UNITA); foi médico e delegado provincial da Saúde do Cuanza Sul, de onde saiu aquando da invasão do exército da África do Sul; foi médico e delegado provincial de Saúde de Malanje; foi professor universitário e médico cirurgião dos hospitais Américo Boavida e Prenda e à noite dava aulas.
Não se pode propalar a necessidade de reconciliação e fazer jus ao título de Campeão da Paz, com a humilhação das verdadeiras vítimas do 27 de Maio e continuação das perseguições políticas no país.
É urgente pacificar a nação com humildade, através de uma Comissão de Reconciliação e da Verdade, promover a meritocracia e acabar com as perseguições políticas.
É imperioso colocar o país e os angolanos em primeiro lugar sempre, à frente de qualquer interesse pessoal. E nessa matéria, os assessores do Presidente da República têm obrigações acrescidas.