É preciso avaliarmos e colocarmos em causa o próprio modelo de desenvolvimento económico que adoptamos, que praticamente nos obriga a contrair dívidas colossais em moeda externa, que nos impede de criar competências e capacidade de produção endógenas.
Ao ver essas iniciativas e ler a opinião de economistas conceituados mundialmente, a explicarem o problema do endividamento criado pelo modelo de desenvolvimento patrocinado pelo FMI, acho incompreensível que o Governo tenha contraido, em menos de um ano, mais 5 mil milhões de USD de Dívida Pública na modalidade linhas de crédito bilaterais e empréstimos à bancos e boutiques financeiras privadas apenas para citar alguns:
- 1,3 para o metro de Luanda, como se a cidade estivesse bem em água e saneamento e não víssemos o estrago que a chuva faz, acompanhada de surtos de paludismo e diarreias com taxa de mortalidade que deixam o Covid-19 envergonhado;
- 1 milhar de milhão para fazer um caminho de ferro entre a Lunda e o Moxico, como se os diamantes precisassem de ser transportados em contentores de 20 pés, e não tivéssemos a lição do desastre que foi a reconstrução do Caminho de Ferro de Luanda (CFL) e a inoperacionalidade do CFB, depois de gastos mais de um milhar de milhão de USD. Aliás, o CFL é um cancro com mais de 100 anos. O estado português foi obrigado a parar a sua construção para não evitar a falência;
- 2 mil milhões para painéis solares, com financiamento do Eximbank dos EUA, como se não se visse que é um esquema igualzinho ao montado pela Tchize com a General Motors para a instalação das centrais térmicas;
- 0,52 mil milhões para as telecomunicações, como se não bastasse o desperdício de 1,5 mil milhões em linhas crédito disponibilizadas para sector, no período de de 2005 à 2015;
- O Sector das Águas que era dos poucos da economia real que se financiava através do Banco Mundial, recentemente foi parar às mãos da banca privada com um financiamento de $136 milhões do Banco HSBC do Reino Unido, o mesmo que recebeu e “devolveu” a transferência considerada ilegal feita por Filomeno dos Santos. Terá sido uma recompensa?
Infelizmente, não há um modelo pensado para desenvolvimento económico e continua-se a trabalhar de forma desgarrada com projectos avulso. Continua-se a trabalhar exactamente da mesma forma e com o mesmo modelo de desenvolvimento económico, do tempo de ex-Presidente José Eduardo dos Santos.
Talvez porque estejamos convencidos que o problema é só a corrupção. Mas é um erro estratégico, pensar que o problema está apenas na corrupção.
Na verdade, a corrupção é somente uma parte do problema. Resolvê-lo, é necessário mas, não é suficiente. Além do combate a corrupção, é preciso avaliarmos e colocarmos em causa o próprio modelo de desenvolvimento económico que adoptamos, que praticamente nos obriga a contrair dívidas colossais em moeda externa, que nos impede de criar competências e capacidade de produção endógenas, a única forma de garantir, a longo prazo e a custos suportáveis, a produção dos bens e serviços públicos e privados que precisamos.
Não basta criar Dívida Pública em divisas e alocá-la em empreitadas “chaves na mão” às mesmas empresas dos países credores, na esperança de que tudo ‘corra como um mar rosas’, praticando a lei do menor esforço,que permite sonhar mas não dá bons resultados.
Por muito boas intenções que se tenha, insistir na aplicação do actual modelo, não vai criar os empregos prometidos e muito menos aumentará o rendimento e as condições de vida da população.
Se não mudarmos o modelo, e para isso precisamos de ser mais ousados, teremos novamente uma década perdida em que o prometido desenvolvimento económico não passará disso mesmo: uma promessa!