O DILEMA DO PREÇO DO PETRÓLEO OU O DILEMA DO PRISIONEIRO

Em 2022 o petróleo representou 95% das exportações e contribuiu em 30% para o PIB

MARIA LUISA ABRANTES

A diversificação da economia não pode acontecer, porque o Executivo tem priorizado investimentos não sustentáveis (não prevêem a formação de quadros, nem o impacto ambiental), consultoria estrangeira desnecessária (que privilegia o “copy and paste/copiar e colar), desprestigiando os milhares de quadros angolanos, muitos dos quais formados desde 1975 no exterior, com bolsas de estudo pagas pelo Estado. O Executivo prioriza ainda, actividades (fóruns e viagens extremamente dispendiosas), porque não racionaliza os recursos financeiros escassos.

Pelas razões expostas, não houve continuidade de investimentos públicos como perspectivado no PND, para a construção, reabilitação e manutenção das infraestruturas básicas e sanitárias, iniciadas em 2004. A diversificação da economia continua a ser uma miragem, ou se quiserem, uma ficção do marketing político do Executivo, propalado nas televisões nacionais e internacionais pagas a peso de diamante, (CNN e Euro News) e por este andar, só se tornará realidade a muito longo prazo (o médio prazo vai de 2 a 4 anos).

O certo é que, foi obtido um reduzido crescimento econômico conseguido em 2021 (1,3%) e em 2022 (3%), sendo 7% o crescimento mínimo sustentável necessário para África Subsaariana). Nos anos anteriores a 2022, Angola observou um período de depressão (recessão por um período superior a 3 anos), nomeadamente, em 2017 (-0,2%), 2018 (-2,1%), 2019 (-0,6%) e 2020 (-5,2%).

A partir de 2004, com o “breakeven/ponto de equilíbrio”, em 2008, Angola parecia ter rumo e a sua performance econômica, era apresentada como exemplo a seguir, quer nos relatórios do Banco Mundial e FMI, como em todos os grandes fóruns internacionais. Os estrangeiros queriam vir trabalhar em Angola e o angolano passou a ser olhado com respeito entre 2004 a 2016. O PIB passou de 15,29 bilhões de dólares em 2002, para 137,2 bilhões de dólares em 2014 (auge), com um crescimento econômico que chegou a atingir os 15% ao ano, idêntico ao período de máximo desenvolvimento conseguido pelos portugueses no início dos anos 70. Encontrei muitas zungeiras e até camponeses analfabetos a viajar para o Brasil, via Dubai, China, Turquia, etc., para comprar mercadoria diversa, tais como confecções, calçado, alfaias agrícolas, outros equipamentos, mobiliário, etc., fazendo perguntas por sinais, por desconhecimento das línguas. Nos últimos 7 anos isso é absolutamente impossível.

Infelizmente, o petróleo continuará a ser o principal provedor de meios financeiros cada vez mais escassos, que caiem nas receitas do Estado. Entretanto, como já foi escrito no Jornal de Angola de 05/09/2018, reportando um relatório do “Fórum Africano e rede sobre Divida e Desenvolvimento (AFRODAD)”, “Independentemente dos riscos fiscais causados pelo declínio do preço do petróleo, a situação de crise econômica de Angola é indicativa de uma má gestão financeira em grande escala” e essa constatação continua actual .

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