Na última década, o MPLA criou e financiou com recursos públicos, um exército de bajuladores e de assassinos de consciência, que se torna difícil hoje perceber quem não é nas suas fileiras, e se colocando de parte os que são, na sequência de uma incontornável reforma, como é que essa formação política sobreviverá, porque esse comportamento faz parte do seu ADN. A cultura do lambebotismo é incentivada pelos seus dirigentes, e há inúmeros testemunhos dos seus próprios militantes denunciados nas redes sociais, agora com maior à-vontade, para além da injecção que levamos a todo instante dos órgãos de comunicação social tutelados pelo seu Governo, com particular destaque para a TPA e dos tais comentaristas, para quem a oposição só faz coisas más. E ainda assim, conseguiu ganhar Luanda, o bastião do poder. Imaginem então se fizesse melhor.
Contudo, na análise incontornável de todos os factores que contribuíram para a redução considerável dos votos que pensava amealhar nessas eleições, que ainda não estão encerradas, será um suicídio se a sua direcção, apesar de descaracterizada pela promíscua mistura de pais, filhos, amigos dos filhos, esposas, genros, amantes e cavilheiro(a)s, não balancear também a negatividade do seu próprio desempenho, escudado nesse batalhão de choque, assassino de consciências, que se exibe de fato e gravata e tem acesso privilegiado nos órgãos de comunicação, atacando quem não alinha nessa doutrina ditatorial e pensa diferente.
Mas, nessa análise e balanço incontornável que terá que ser despida(o) de egos e da tradicional arrogância das chefias, será incontornável abordar as razões efectivas da re(vira)volta da população de Luanda, que não sei bem se contra o MPLA, ou se só, contra o seu líder, João Manuel Gonçalves Lourenço, ou se contra os dois por junto e atacado.
O que é factual e percebe-se, é que essa re(vira)volta espelhada em Luanda, até da parte da sua própria massa militante, não resulta apenas do mau desempenho da TPA, da Zimbo (agora), ou do agravamento das condições sociais da maioria da população. Não! Demonstra o elevado nível de saturação que quase todos atingimos, porque o MPLA não foi bom Governo e nem conseguiu apresentar um discurso que nos convença e nos congregue para a mudança com que fomos aldrabados há cinco anos. Continua a ser uma força de mordaça da liberdade. Por isso, não foi o eleitor que votou mal. Esse sinal de descontentamento, ou de re(vira)volta, deve ser tido como o grito pela liberdade, dado por uma população que está cansada de tanta carga negativa, inclusive de certa suposta intelectualidade, que nos tem conduzido à um estado de tortura psíquica permanente e insistente tentativa de lavagem cerebral. E a UNITA-Frente Patriótica Unida provavelmente não ganhou, porque há ainda um sector considerável da sociedade, que não tem medo da alternância, mas tem do que pode ser o comportamento agressivo dos seus militantes em caso de vitória. Um facto que, aliás, já alertei a direcção da UNITA, faz cerca de 10 anos, ainda na qualidade de director do semanário Agora, num encontro com a comunicação social, e que terá caído no saco da indiferença.
A solução para harmonizar a sociedade, como é evidente, não passa pela intervenção ou por investidas dos efectivos da Polícia Nacional, nem é patriótico que se force esse órgão a colocar-se contra a população, fazendo o papel de carrasco. Porque isso é assunto de políticos. E não mudar radicalmente essa postura e esse entendimento, sobretudo ao nível da melhoria do desempenho da comunicação social que continua inalterável por esses dias, não manifestando abertura a oposição, insistindo em desencantar sempre os mesmos sabichões e sabichonas defensor(a)s do Sistema (salvo algumas excepções), pode ser interpretado pela parte que deseja efectivamente mudanças, como a continuidade (ou manutenção) e incentivo desse ambiente de crispação, que faz parte duma estratégia de bloqueio alimentado por quem detém o poder, de que resultarão consequências bem pesadas e, eventualmente, até criminosas, procurando empurrar responsabilidades ao opositor .
Para bem de todos nós e de Angola, seria de todo bom que a direcção do MPLA se despisse dessa mania de superioridade, dessa sua arrogância, desse sentimento doentio de que Angola é sua pertença, e que perceba que mesmo ganhando, não ganhou tudo, para que quem perdeu (se for mesmo o caso) sinta também confiança que não perdeu tudo, marcando novo confronto para 2027. Mas se há alguém que tem que estender a mão para esse entendimento e encetar mudanças, é o MPLA e o seu presidente, João Manuel Gonçalves Lourenço, demonstrando maior elevação e verdadeiro sentido de Estado, de respeito e de defesa do povo, porque ainda é o presidente da República.
Como está o nosso ambiente político, em efervescência crescente, a saída não é continuar a esticar a corda até que ela rebente, porque mais facilmente o efeito Luanda se poderá replicar noutras regiões do país, do que o inverso. E porquê João Manuel Gonçalves Lourenço? Porque facilmente se pode perceber também, que a sua gestão neste mandato, que é consequência do seu desempenho (já não é herança do falecido) será extremamente complicada, se já a partir de agora, não começar a enviar à Nação sinais de apaziguamento sincero. Se continuar a não entender que Angola é muito superior aos egos do poder que o rodeia, nem mesmo ele (esse poder) e o exército de bajuladores e assassinos de consciência serão capazes de o proteger, porque os níveis de impopularidade e de insatisfação continuam perigosamente a subir. E parece que, à sua volta, não se está a medir bem as consequências dessa insistência, desse esticar perigoso da corda que se rebentar, alguém terá mesmo que bazar. A começar por esse exército, que tal como agora no caso de José Eduardo dos Santos, depois também vai fingir que nem o conhece e atribuir-lhe-á todas as responsabilidades, que de facto, de acordo com a Lei Constitucional, são mesmo suas, na condição de chefe-disto-tudo.
E é mentira! A culpa não é do povo que votou mal? É vossa, por arrogância, excesso de ego e porque abandonaram as “massas”, que desta vez saíram em bloco e fizeram justiça. Mostraram-vos quem afinal tem poder efectivo. Mas isso representa apenas o princípio do que pode ser o fim. E, à propósito: terão coragem para avançar com as autarquias? Outro exemplo de que não se deve esticar demasiado a corda. Agora, ficaram amarrados. Presos por ter e por não ter cão. Mas vão ter que sair mesmo, porque é tanta a pressão dentro da panela que se não for aliviada, corre o risco de…. buuuuuuummmmm (explodir) .
Obs: E como se não bastasse, cinco comissários eleitorais demarcaram-se “de todos os actos que visam subverter o direito e a lei”, batendo a porta da CNE. Logo de seguida, os comentaristas de plantão consideraram esse como um acto de traição, quando boa parte de nós viu nisso, um acto de integridade. Digam-nos só, se isso retrata mesmo um país e um processo sério?