GRUPO CARRINHO NEGA LIGAÇÃO A MONOPÓLIO E AO PRESIDENTE JLO

O director financeiro da Carrinho Empreendimentos, Samuel Candundo, considerou ontem (20) no fórum “Banca em Análise 2022” promovido pela Deloitte Angola, que constitui uma “falsa questão” a ligação do grupo à qualquer monopólio, aludida várias vezes por políticos e alguns membros da sociedade civil. E deixou claro que, a Reserva Estratégica Alimentar (REA) é tutelada pelo Entreposto Aduaneiro de Angola, pelo Ministério da Indústria e Comércio e rejeitou qualquer favorecimento ou ligação ao Presidente da República, João Lourenço, atribuindo a maior visibilidade que se verifica nos últimos anos, à uma visão de liderança e inovação implementada com rigor e que tem produzido resultados.

Em declarações à agência Lusa, Samuel Candundo reagiu às críticas feitas antes pelo banqueiro Fernando Teles, com envolvimento no agro-negócio, sobre a existência de uma concorrência desleal e importação desenfreada de produtos, que disse estar a prejudicar os produtores nacionais. Fernando Teles, que falava durante a sessão de apresentação do Estudo Banca em Análise 2022, promovido pela Deloitte Angola, citou várias vezes a Carrinho, para exemplificar a situação. “O estrangulamento está na concorrência desleal, criou-se aqui em Angola a Carrinho e não só, que toda a gente sabe que tem o monopólio e os outros agricultores não conseguem funcionar. Temos que nos ajudar uns aos outros”.

“Fala-se todos os dias na diversificação da economia , nós estamos disponíveis para falar com as pessoas, para mostrarmos o que estamos a fazer”, disse Fernando Teles.

Em resposta, Samuel Candundo disse que a Carrinho não pode deixar de fazer o seu negócio, com medo do monopólio. “Isso não é nosso problema. O monopólio nunca é problema de uma entidade micro. Nós temos uma visão de negócio e concebemos o nosso negócio olhando para os nossos propósitos”, referiu.

Segundo Samuel Candundo, a Carrinho está na indústria, desenvolve um programa específico de fomento de alguns produtos agrícolas para assegurar as suas matérias-primas, e, “se os outros fazem ou não fazem isso, não é problema da empresa”.

O responsável da Carrinho negou que a Reserva Estratégica Alimentar (REA) tenha importado milho, como alegou o empresário Fernando Teles, e deixou claro que existe “documentação para comprovar”. “Adquiriu aos empresários nacionais, continua a adquirir, como industria transformadora de farinha de milho, da fuba, por causa desse programa e está a trabalhar para não importar nem mais um grão de milho”.

“A Carrinho está a importar o trigo, o arroz, outros produtos, mas não o milho. Portanto, a informação prestada não é correcta”, disse. Relativamente à compra deste produto, Samuel Candundo disse que a REA tinha que ter um subsídio, mas que não está disponível. “A Carrinho não pode tirar do seu fluxo de caixa para ir ao encontro. Isso é uma responsabilidade do Governo. A REA é um problema do Governo, não é da Carrinho”, frisou.

De acordo com o director financeiro da Carrinho, o quilograma de milho está a ser comprado a 130 kwanzas (0,17 euros) aos produtores individuais, e aos de grande escala ao valor de 180 kwanzas (0,24 euros) e “a diferença tem que ser coberta pelo Estado, para nós alinharmos com aquilo que é o preço da tonelagem nos mercados internacionais. Mas isso a empresa não pode fazer sozinha (…), por isso o Estado entrou com a intenção de estimular a produção nacional. Agora, nem sempre esse dinheiro está disponível, tendo em conta as limitações financeiras do próprio Estado. Todos sabemos que isto não é de uma empresa. Nós só operacionalizamos a REA. Não disponibilizamos os recursos e a REA é tutelada pelo Entreposto Aduaneiro de Angola e pelo Ministério da Indústria e Comércio”, destacou.

Samuel Candundo alegou também problemas de infraestruturas, nomeadamente estradas, esclarecendo que a empresa tem por escoar nesta altura mais de 50 mil toneladas de milho. Disse também que há produção nacional, mas ainda insuficiente para atender às necessidades do país, havendo suficiência de milho para as necessidades de transformação da Carrinho, mas “para o país ainda é um grande desafio”. “Nós não temos capacidade no arroz, nem no trigo. Este não é um processo que será resolvido num horizonte de dois, três anos: é um processo a longo prazo com acções e políticas bem coordenadas, no sentido de apoiar a produção nacional”, observou, deixando patente que “todas essas indicações de que a Carrinho é favorecida, não são verdade”.

A Carrinho tem uma visão que tem implementado há alguns anos, embora haja quem pense que só iniciou em 2019. “Não é verdade”, disse Samuel Candundo, rejeitando ligações do grupo ao Presidente da República, João Lourenço, e atribuindo maior visibilidade da empresa nos últimos anos a uma “visão de 2012 que a Carrinho está a implementar”. “A Deloitte acompanha a Carrinho desde 2004″, esclareceu.

“A Carrinho não é uma empresa que nasceu em 2019, porque vai fazer agora 30 anos. Faltou alguma visibilidade, mas a Carrinho em 2004 faturou 40 milhões de dólares, tem cozinhas de catering, servindo empresas como a Odebrecht, Camargo Correia e outras, desde 2004”, afirmou.

Recorde-se que a Carrinho é uma empresa angolana de cariz familiar que emprega mais de 5.000 trabalhadores empenhada em desenvolver a primeira estrutura organizacional verticalmente integrada do sector alimentar, gerindo todas as etapas do processo: na origem, no transporte, no armazenamento, na transformação e comercialização.

Fonte: Lusa

Compra de milho à pequenos produtores. Há suficiência para as necessidades de transformação da Carrinho, mas para o país ainda é um grande desafio. É um processo a longo prazo que necessita de acções e políticas bem coordenadas, de apoio à produção nacional

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