Prevê-se uma taxa anual em torno de 18%, que, apesar de relativamente mais branda do que a observada nos dois últimos anos, manter-se-á ainda acima do objectivo de médio prazo de uma taxa de inflação de apenas um dígito.
O Comité de Política Monetária (CPM) do Banco Nacional de Angola realizou sexta-feira (28), a sua 103ª sessão ordinária, tendo analisado o comportamento recente e as perspectivas dos principais indicadores económicos.
Num comunicado inserto na sua página online, o CPM dá conta que, sobre o comportamento da economia internacional, o Fundo Monetário Internacional (FMI), defende que no ano de 2022 estará mais fragilizada do que o previsto, devido ao surgimento da variante “Ómicron” da COVID-19, que obrigou vários países a impor novas restrições.
ECONOMIA INTERNACIONAL. Assim, o FMI reviu em baixa a taxa de crescimento da economia mundial em 0,5 pp, comparativamente às previsões anteriores, sendo que a mais recente aponta para uma taxa de 4,4%, valor abaixo da estimativa para o ano de 2021 (5,9%). Esta revisão foi motivada pela perspectiva de um desempenho menos robusto do que previsto anteriormente, principalmente nas economias mais avançadas.
Nas economias emergentes, a situação não será muito diferente. Por conseguinte, o FMI prevê um crescimento de 4,8% em 2022, abaixo da estimativa de 6,5% para 2021.
Para a África Subsariana prevê-se a manutenção do crescimento nos patamares observados do ano anterior, com uma taxa de 3,7%, contra os 4,0% estimados para 2021, mas o FMI aponta que os riscos continuam, visto que a perspectiva de investimento para a região é ainda fraca.
No que se refere aos preços, nos últimos meses de 2021, assistiu-se ao aumento dos preços das commodities energéticas, aliado ao facto da cadeia de distribuição mundial continuar com sérias rupturas. Esta situação impulsionou o aumento das taxas de inflação acima do esperado em quase todas as economias, com destaque para a taxa de inflação dos Estados Unidos da América (EUA) que no mês de Dezembro atingiu 7% em termos anuais. Consequentemente, para 2022, o FMI prevê que as pressões inflacionárias irão persistir ao longo do ano. Esta pressão já motivou alguns bancos centrais a iniciarem mudanças na política monetária, reduzindo os estímulos à economia e subindo as taxas de juro directoras.
Na região SADC, a situação não foi diferente, tendo em conta que a taxa de inflação aumentou na maior parte dos países, embora com reduções acentuadas em Moçambique, Seicheles e Zâmbia.
O Índice de Preços dos Alimentos da FAO registou uma média de 133,7 pontos no mês de Dezembro de 2021, uma redução de 1,2 pontos (0,9%) em relação ao mês de Novembro, mas ainda acima do período homólogo em 25,1 pontos, impulsionado pelo crescimento dos preços de todos os sub-índices, com excepção do índice dos lacticínios. Em 2021, o referido índice registou um crescimento de 28,1%.
No que se refere às commodities energéticas, com destaque para o petróleo, no mês de Dezembro o preço do barril reduziu no mercado internacional em 7,48%, face ao mês anterior, resultado das preocupações em torno do rápido aumento de novos casos da COVID-19, pondo em risco a procura mundial para o ano de 2022. Em termos médios, no ano de 2021, o preço atingiu 71,96 USD/barril, o que representou um aumento de 69,13%, face ao período homólogo.
ECONOMIA NACIONAL. No contexto nacional, de acordo com as Contas Nacionais Trimestrais divulgadas pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), o Produto Interno Bruto (PIB) apresentou, em termos homólogos, um crescimento de 0,8% no terceiro trimestre de 2021 e 0,5% quando comparado com o trimestre anterior. O crescimento homólogo, foi impulsionado, essencialmente, pela contribuição positiva dos sectores do comércio (3,50 pp), dos transportes (1,00 pp) e das pescas (1,00 pp), atenuado pela contribuição negativa do sector petrolífero (-2,83 pp). De salientar que o crescimento ora observado interrompeu nove trimestres de um ciclo de contracção.
O CPM dá igualmente conta que o mercado cambial mante-se estável e líquido. No mês de Dezembro, os bancos comerciais adquiriram ao mercado um total de 1,01 mil milhões de dólares norte-americanos, um aumento de 14,08%, face aos 885,68 milhões de dólares norte-americanos adquiridos em Novembro.
O kwanza manteve o curso de recuperação, apreciando no mês cerca de 4,61% em relação ao dólar norte-americano, elevando a apreciação anual para 18,24%.
O saldo da conta de bens manteve-se superavitário. De acordo com os dados preliminares do mês de Dezembro de 2021, o saldo da conta de bens foi de 2,32 mil milhões de dólares norte-americanos, representando um aumento de 18,55% comparativamente aos 1,96 mil milhões de dólares norte-americanos registados no mês anterior. Em termos acumulados de 2021, estima-se que o saldo da conta de bens se tenha situado em 21,33 mil milhões de dólares norte-americanos, um aumento de 87,21% comparativamente ao ano de 2020 (11,39 mil milhões de dólares), devido ao incremento do valor das exportações em 56,70%, que se revelou mais acentuado do que das importações (20,27%). O aumento foi notório nos combustíveis (107,29%) e nas demais importações não alimentares (17,13%), uma vez que as importações de alimentos registaram uma contracção (-7,85%).
Ainda em relação à importação de alimentos, realça-se a queda acentuada dos bens que compõem a cesta básica, que, em 2021 contraiu em 44,68% comparativamente ao ano anterior, justificando parte do comportamento de preços no mercado interno, pese embora os indicadores gerais de aumento da oferta de bens de produção nacional que sugerem uma crescente cobertura das necessidades internas.
O stock de Reservas Internacionais, no mês de Dezembro, situou-se em 15,51 mil milhões de dólares norte-americanos, correspondendo a uma cobertura de 9,78 meses de importações de bens e serviços. Em termos anuais, as Reservas Internacionais registaram uma expansão na ordem dos 4,27%, após uma redução de 13,55% observada em 2020.
Quanto à Base Monetária em moeda nacional, variável operacional da política monetária, expandiu em 2,99% no mês de Dezembro e, em termos acumulados de 2021, registou uma contracção de 3,56%. Por sua vez, os agregados monetários (M2) em moeda nacional expandiram em 2,17% no mês de Dezembro e 0,86% no ano.
O stock de crédito à economia em moeda nacional registou uma expansão de 1,10% no mês de Dezembro, tendo atingido 3,84 biliões de kwanzas. Em termos homólogos, assistiu-se a uma expansão de 13,32%.
No âmbito do Aviso n.º 10/2020, de 03 de Abril, no ano de 2021 foram aprovados financiamentos para 471 projectos de créditos no valor de 634,32 mil milhões de kwanzas, correspondente a 358,19% do valor mínimo a conceder previsto para 2021. Os sectores que mais beneficiaram de financiamento em termos de montante desde a publicação do referido Aviso até ao final de 2021 são: “industrias alimentares” (36,49%), “agricultura, produção animal, caça e actividades dos serviços relacionados” (20,41%) e “industria de bebidas” (16,71%).
Segundo os dados do INE, a taxa de crescimento mensal do Índice de Preços no Consumidor Nacional (IPCN) aumentou de Novembro a Dezembro de 2021, em torno de 0,02 pp fixando-se em 2,10%. A inflação anual foi de 27,03% contra os 25,10% apurados em 2020, impulsionada, maioritariamente, pela contribuição da classe de Alimentação e Bebidas Não-Alcoólicas, que no acumulado de doze meses representou, em termos médios, cerca de 70% da inflação total.
Para o ano de 2022, perspectiva-se a inflexão da trajectória da inflação nacional, prevendo-se uma taxa anual em torno de 18%, que, apesar de relativamente mais branda do que a observada nos dois últimos anos, manter-se-á ainda acima do objectivo de médio prazo de uma taxa de inflação de apenas um dígito, requerendo, por isso, a manutenção de um quadro de política monetária restritivo, capaz de influenciar positivamente a preservação do poder de compra da moeda nacional.
Contudo, dado o abrandamento da variação mensal dos preços que se regista desde Setembro de 2021, o curso ajustado de evolução dos agregados monetários, a necessidade de se observar os impactos das medidas recentes a nível do desagravamento fiscal sobre bens alimentares de amplo consumo, perspectiva da redução dos preços das commoditiesalimentares a nível internacional, assim como o comportamento recente do preço do barril do petróleo nos mercados internacionais, com impacto sobre o ajustamento da taxa de câmbio do Kwanza, o Comité de Política Monetária do BNA decidiu manter:
• A taxa básica de Juro (Taxa BNA) em 20%;
• A taxa de juro da Facilidade Permanente de Cedência de Liquidez em 25%;
• A taxa de Juro da facilidade Permanente de Absorção de Liquidez de 7 dias em 15%;
• Os coeficientes das reservas obrigatórias em 22%.
Adicionalmente, considerando que os bens alimentares continuam a representar a classe que mais influencia negativamente a estabilidade preços na economia, sendo evidente a necessidade do reforço dos estímulos visando o aumento da oferta de bens essenciais de consumo, o CPM decidiu renovar o programa de apoio ao sector real da economia, permitindo que o cumprimento de reservas obrigatórias pelos bancos comerciais possa ser efectuado pelo montante de crédito concedido e desembolsado aos operadores da cadeira de produção de alimentos.
A próxima reunião ordinária do Comité de Política Monetária do Banco Nacional de Angola realizar-se-á no dia 28 de Março de 2022.
Fonte: bna.ao
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