O partido no poder em Angola está prestes a ser declarado vencedor das eleições, mas vai também a caminho de uma derrota copiosa na maior praça eleitoral do país: Luanda. O seu porta-voz, Rui Falcão Pinto de Andrade, disse ao jornal português Público que o resultado o surpreendeu e justifica como sendo consequência de problemas de organização interna.
Os resultados provisórios de contagem dos votos das eleições de quarta-feira apontam para uma vitória do MPLA, perdendo a maioria qualificada, mas mantendo uma maioria absoluta. No entanto, a derrota copiosa em Luanda, a maior praça eleitoral do país, vai obrigar a grande reflexão interna. “Do ponto de vista político é uma derrota significativa”, reconheceu ao Público o porta-voz desse partido, Rui Falcão, mesmo minimizando um pouco os seus efeitos.
“Luanda tem sempre um significado político expressivo, como é lógico, mas não deixa de ser uma província, elege cinco deputados, como se elegem cinco deputados no Uíge, no Namibe ou na Lunda”, disse o antigo governador de Benguela.
Rui Falcão admite, no entanto, que ter a UNITA com mais de um milhão de votos e ver o seu partido agora com apenas 589 mil, quando em 2017 teve mais de 1,2 milhões, tem impacto. Sobretudo por questões práticas: “O que é significativo é o volume de votos que podem, aí sim, beneficiar a oposição no que tem a ver com os mandatos da lista nacional”.
A situação terá de ser “analisada com alguma particularidade”, explica o porta-voz do MPLA, mas garante que não vai deixar mossas no seu partido: “Não é isso que vai causar mossas, nós temos é de encontrar soluções e temos agora de trabalhar todos no sentido de corrigir os erros que foram cometidos e naturalmente reganhar forças para daqui a cinco anos”.
Mesmo que Rui Falcão garanta que este resultado não deixa marcas, o certo é que culpa “a massa militante” por este desaire. “Deriva, em grande medida, da nossa massa militante face a um conjunto de situações que fomos vivendo ao longo dos tempos”, justifica, sem especificar a que se referia.
“São situações internas, são questões de organização, de gestão interna do próprio partido, mas são coisas que vamos resolver nos próximos tempos”, adiantou.
De acordo com os números provisórios divulgados pela CNE, o MPLA só está a perder, além de Luanda, na província do Zaire, onde a UNITA, com 98,59% dos votos contados, tinha uma vantagem confortável, com 52,25% dos votos contra 36,14%.
Uma vitória em quase todas as províncias e no cômputo nacional deixa Rui Falcão e os seus companheiros do partido “satisfeitos”: “É sempre uma vitória eleitoral, naturalmente gostaríamos de ter um resultado substancialmente melhor, mas a democracia é isso mesmo e o veredicto é popular. Por isso, temos de aceitar os resultados.”
Falcão garante que a maioria absoluta permite ao presidente João Lourenço prosseguir a sua política de forma tranquila no segundo mandato, com abertura para o diálogo com a oposição.
“Nós sempre estivemos abertos ao diálogo. Aliás, vimos de uma maioria qualificada, fizemos alterações à Constituição com apoio total dos partidos da oposição, fruto de negociações que foram feitas.”