EDITORIAL. QUERER É PODER E A MUDANÇA DEPENDE DE NÓS

POR RAMIRO ALEIXO

Dá gosto ouvir o Presidente do Brasil, Lula da Silva. E ouvi-lo causa-nos desgosto saber que, por cá, continua a faltar sensibilidade na percepção do que é, de facto, ser pobre, sentir fome, não ter emprego. Quem nos governa só vê números, e por vezes, muitas vezes, números que não reflectem a realidade da vida das famílias. Inaptidão de políticas e atitudes que se repetem ano após ano, década após década. E já lá vão 46… 

A postura de uma governação séria, não deve ser semelhante a de um grupo de larápios, que como a nossa quando faltam recursos, desata a sacar do bolso do cidadão, sem se importar com as consequências. Muito menos, a de embalar esse cidadão com falsas promessas, apenas para ganhar eleições, deixando de ser o centro da motivação política e administrativa, logo de seguida. 

A vida diária de todos nós, tem sido um sufoco permanente e no ar, sente-se que paira um forte sentimento de frustração e de revolta, porque temos uma vez mais, a firme convicção de que fomos enganados. Sorte do MPLA e do seu Governo, é que este povo conhece mal os seus direitos e a força que tem. E provavelmente, é por isso que é considerado um povo especial. Porque parece que é infindável a sua capacidade de aceitar que sofre, e que pode e tem o direito de estar melhor, decorridos quase 46 anos de independência em que os mesmos de sempre não largam o “pote de mel”.

Impõe-se por isso, a seguinte pergunta: até quando este povo consentirá esse sufoco, continuará a não entender que nem os partidos, nem os políticos e nem os governantes estão acima da Nação? 

Essa pergunta, parece não ter resposta. Segundo Machado de Assis, “não há mal que sempre dure nem bem que nunca se acabe”. Mas, temos igualmente a sensação que se está a viver a repetição de um mal que se irá transformar em mais um acidente de percurso da história de Angola porque será extremamente doloroso, tal qual foi a guerra e estão a ser os efeitos da corrupção. E, infelizmente, esse sofrimento ainda poderá estender-se por mais três décadas. 

Porque merecemos tanto mal e tanto sofrer? O que se observa em Angola, só pode ser obra de capeta! Mas mudar, depende somente de nós mesmos. No entanto, falta-nos consciência e determinação. Falta-nos o tal QUERER que se transforma em PODER. Porque com esse PODER podemos mudar Angola. E devemos mudar. Se for esse o nosso desejo.

Façamos então essa reflexão ao longo desta semana, que inicia turbulenta com a retirada abrupta de 87,5 % do subsídio à gasolina (primeira medida de outras que seguirão com o gasóleo, petróleo iluminante e gás de cozinha até atingir os 100% em 2025). Repito, não merece contestação porque faltava justeza. Mais tarde ou mais cedo, teria que acontecer. Já a forma como essa decisão foi tomada, viola princípios e direitos constitucionais do cidadão. E só acontece dessa forma, porque quem detém o poder político e administrativo, há muito que aprendeu a jogar e a manipular as nossas fraquezas, a nossa falta de unidade, até na defesa dos nossos próprios direitos fundamentais. E uma vez mais, testou-nos e percebeu que apesar dos alertas dos resultados nas últimas eleições, continuamos frágeis (dóceis mendigos). Que estamos profundamente doentes. Que desconhecemos que a receita para a cura do que nos afecta é simples, chama-se coragem para reagir e reivindicar a observância do respeito que nos é devido como cidadãos deste País.

A justificação dessa decisão é a “Optimização da Despesa Pública pela Realocação dos Subsídios aos Combustíveis – de forma a cessar a sua atribuição indiscriminada, privilegiando-se a subsidiação directa e para os segmentos de maior impacto social, auxiliando directamente as populações mais desfavorecidas”. Mas com tudo o que temos visto e acompanhado ao longo de 46 anos, alguém em sã consciência acredita mesmo, que a retirada total dos subsídios aos combustíveis vai melhorar seja o que for na vida das populações mais carenciadas? Com que Governo? Com o mais do mesmo?

Marquemos encontro para 2027, e veremos qual o balanço do que acontecerá até lá. O que gostaria mesmo, é de estar vivo para ver, sobretudo, como voltaremos a votar. Se não for empurrado, certamente que lá estarei.

Fiquem com essas declarações do Presidente Lula da Silva. Até parece que está a enviar um recado ao Presidente João Lourenço. Bom seria se ele ouvisse, se saísse do seu estado de conforto, para entender melhor o País que vai muito para lá do Palácio da Cidade Alta. Mas ele é o tal que já sabe e tem soluções para tudo, que não vemos nem sentimos. Tanto que, anunciou faz cerca de quase um ano, no Huambo, a redução do preço dos combustíveis, mas agora deu o dito pelo não dito e autorizou que na prática fossem ajustados (elevados). E só para o recordar, os bens alimentares de base que servem a população, também subiram: o saco de arroz de 7.000 Kz já passou para 11.500 e o de açúcar de 19.000 para 24.500. E o arroz doce (vidrado) é o prato mais acessível para aqueles que antes já eram os mais afectados pela pobreza.

A vida senhor Presidente João Lourenço, está a cada dia mais insuportável. Afinal, estão a governar para quem?

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