CEAST CONSIDERA QUE CRISE PARA OS ANGOLANOS PARECE NÃO TER FIM

“É urgente que se tenha uma comunicação social credível que una os angolanos e se regule por critérios de serena objectividade, evite a propaganda e se livre de métodos de informação que, violando a justiça e a verdade, ferem a dignidade e o bom nome dos cidadãos e que, finalmente, seja um instrumento de paz e de desenvolvimento”.

Os bispos católicos de Angola e São Tomé, por via do seu Conselho Permanente, consideraram em nota pastoral distribuída em Luanda no passado dia 9 (quarta-feira) sobre os 48 anos de independência que hoje se assinalam, que “precisamos, todos, sem excepção, de sentar e reflectir em conjunto sobre o que correu mal, apreciar os feitos positivos que fomos capazes de realizar e iniciarmos, imediatamente, a reconstrução do nosso tecido social”.

De acordo com a nota pastoral assinada pelo presidente da CEAST, o arcebispo de Saurimo José Manuel Imbamba, “apesar da crise financeira de 2008 e da crise dos países produtores de petróleo de 2014, parece não termos tirado as lições que se impunham, para melhorarmos o modo de governar e alcançar o bem-estar duradoiro para todos”. Os bispos da CEAST apontam que “as crises económicas cíclicas, a depreciação da moeda, a perda do poder de compra e o consequente difícil acesso aos bens da cesta básica parece fazerem parte do quotidiano dos angolanos sem fim à vista”.

Analisando o feito da proclamação da independência, os bispos ressaltam que “aqueles que sofreram na pele a brutalidade do sistema colonial viram, naquele dia, o renascer das suas esperanças, com a possibilidade do alcance da autodeterminação e a consequente criação de um Estado novo capaz de dar o melhor para os seus filhos”.

Entretanto, como refere a nota pastoral, “o ponto de partida foi confuso, pois, o que se aguardava como festa da paz, da fraternidade e da reconciliação entre todos os angolanos, deu lugar à guerra civil com toda a barbárie que se seguiu, nomeadamente a fome, a miséria, as deslocações da população, a insegurança, a improdutividade, a mendicidade, a desestruturação do tecido social, a perda dos valores morais e éticos, e tantos outros males”.

Em 2002, depois de várias tentativas anteriores, como se observou, alcançou-se, finalmente a paz tão desejada por todos os angolanos, uma oportunidade de ouro para podermos voltar a erguer a nossa Pátria com a bonança económica que se seguiu, que daria para construir um presente e um futuro melhores para todos. Infelizmente, ressalta a nota pastoral, “se em 1975 a guerra civil obscureceu o nosso ponto de partida, de 2002 em diante foi a corrupção gangrenosa que drenou do País os seus recursos ‘oferecendo-os’ de mãos beijadas para o desenvolvimento de outras economias”.

Diante deste quadro, constatam os bispos da CEAST na sua nota pastoral, “a tentação maior é a do desespero, da resignação e da desistência”, apelando para que não se perca a esperança, que, como referem, “incentiva a uma atitude de abençoada subversão, que não se resigna diante das adversidades

A esperança, consideram os bispos, “olha sempre para além, onde esta realização pessoal e colectiva é possível. A esperança imprime uma grandeza de alma, um espírito aberto, uma vontade de construir, um desejo de sonhar. Estamos chamados a ser uma presença no meio da angústia. Estamos chamados a apontar para Deus que não nos abandona nunca e nos dá forças para nos empenharmos na construção de um futuro melhor”.

Contudo, os bispos consideram que “é necessário que saibamos estabelecer prioridades tais como, a reconciliação nacional, buscando consensos evitando a perda de energias e de inteligências inutilmente”. Mas também, “a urgência de uma comunicação social credível que una os angolanos e se regule por critérios de serena objectividade, evite a propaganda e se livre de métodos de informação que, violando a justiça e a verdade, ferem a dignidade e o bom nome dos cidadãos e que, finalmente, seja um instrumento de paz e de desenvolvimento”. Os bispos consideram essas premissas como fundamentais para “o estabelecimento, efectivo de um Estado democrático e de direito, onde o primado da lei e da justiça sejam para todos, sem excepção”.

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