AS LONGAS NOITES E A VERDADE NO PROCESSO 27 de MAIO

A procura da verdade para a descoberta das identidades das pessoas perdidas em valas comuns é essencial para honrar a sua memória, responsabilizar os perpetradores e proporcionar o encerramento do processo aos sobreviventes…

POR FERREIRA FERNANDO

No decurso do massacre do 27 de Maio de 1977 e anos que se lhe seguiram foram acontecendo levas diárias de inúmeras pessoas para a morte, transformando este processo num dos capítulos mais sombrios da história de Angola, em que as valas comuns testemunham as indescritíveis atrocidades no decurso destes inenarráveis acontecimentos. Foi na calada da noite que estes factos foram ocorrendo, até que, no dia 23 de Março de 1978, ecoou a infame noite em que incontáveis indivíduos, na maioria inocentes, foram cruelmente torturados, massacrados e enterrados em sepulturas até ao momento desconhecidas, pessoas com as suas identidades perdidas para sempre para o mundo.

No rescaldo de tais actos hediondos, surge a necessidade premente de desvendar a verdade e de encerrar as questões pendentes para as vítimas, as suas famílias e os sobreviventes. Para que isto seja realizado, a identificação dos indivíduos que foram atirados para as valas comuns tem de ser efectuada. Isto requer a utilização de tecnologia avançada, especificamente para a realização de testes de ADN em ossadas encontradas ou a encontrar. O único método que se conhece até ao momento, para corpos eliminados há décadas, é a efectivação de testes de ADN em ossos. O teste de ADN em ossos envolve a extracção de material genético das amostras ósseas, a análise das sequências de ADN e a comparação com possíveis parentes vivos ou bancos de dados genéticos existentes. Este processo requer equipamentos especializados, como kits de extracção de ADN, máquinas de PCR para amplificação do DNA e analisadores genéticos para sequenciamento.

A procura da verdade para a descoberta das identidades das pessoas perdidas em valas comuns é essencial para honrar a sua memória, responsabilizar os perpetradores e proporcionar o encerramento do processo aos sobreviventes. É através da revelação da verdade que a justiça pode ser efectuada e que se pode lançar os alicerces para que a reconciliação e a cura possam começar.

É mais do que evidente que não pode haver reconciliação sem o reconhecimento dos horrores do passado e sem procurar a verdade que está enterrada nessas valas comuns.

O que tem feito o organismo criado, sem  o objectivo da verdade? Tem utilizado, normalmente, a mentira e a fraude, a mentira compulsiva.

Como sabemos, as mentiras surgem de diversas formas e servem vários propósitos. Assim, temos a mentira comum, a mentira descarada e a mentira estatística (Ariano Suassuna).

Uma mentira comum é uma falsidade frequentemente contada para ganho pessoal ou para evitar conflitos, muitas vezes envolvendo pequenas e inofensivas inverdades. Por outro lado, uma mentira descarada é um engano flagrante e intencional que visa enganar ou manipular outras pessoas para obter uma vantagem específica. Este tipo de mentira tende a ser prejudicial e pode trazer consequências graves tanto para o mentiroso quanto para o enganado.

Em contraste, uma mentira estatística envolve a manipulação de dados ou estatísticas para criar uma impressão enganosa ou apoiar uma agenda específica. Embora as mentiras estatísticas possam parecer mais subtis do que as mentiras descaradas, podem ter efeitos de longo alcance, moldando a opinião pública, as decisões políticas e as normas sociais com base em informações falsas.

Compreender a diferença entre estes tipos de mentiras, a que temos estado diariamente sujeitos, é demasiado importante para desenvolver pensamento crítico e discernir a verdade num mundo onde a desinformação e o engano prevalecem. Ser capaz de reconhecer mentiras comuns, mentiras descaradas e mentiras estatísticas permite-nos fazer julgamentos informados e que sejamos capazes de navegar em dinâmicas sociais complexas com consciência e integridade.

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