
A principal crise destes 50 anos da Angola independente não se circunscreve ao subdesenvolvimento económico crónico e galopante das famílias das periferias. Esse é um epifenómeno agravado pelo fenómeno original do sistema cabritístico (na Europa designado pelos politólogos da patrimonialismo) e que consagrou o colapso evolutivo das classes operária, camponesa e dos intelectuais proletários.
A principal crise veio se formando lenta e quase imperceptivelmente, até se revelar no momento actual (ano do 50º aniversário da independência) na forma concreta de deserto de livros, o mesmo é dizer, deserto de conhecimento, ou de cultura-geral, cuja ponta do iceberg é o deficiente domínio da língua oficial, generalizado a toda a população e à administração pública e privada. Já disse um dia o filósofo alemão Jurgen Habermas: “sem leitores, não pode haver intelectuais”. Ora, sem livros, é impossível que haja leitores.
E, ainda que se fabriquem e se distribuam livros, sem espaços de leitura, jamais haverá leitores num país. Espaços de leitura são o próprio entorno familiar, onde deve haver uma biblioteca, ou em caso de um lar chamado bate-chapa, livros nalgum recanto visível do cubico. Espaços de leitura de excelência, pois que aí encontra o aluno que vem do bate-chapa é a própria sala de aula. Espaço de leitura de excelência é a biblioteca comunal e municipal, que pode, esta, ser móvel, um kupapata “O Livro Chegou” que estaciona à sombra de uma árvore, atrai crianças, jovens e mais-velhos e os põe a ler livros, jornais e revistas.
O espaço maior é a Biblioteca Nacional de Angola que tem a suprema missão de actualizar trimestralmente o acervo literário com toda a obra de autor estrangeiro traduzida para português, sem descurar a actualização das obras dos autores angolanos.
Legenda: Livraria pública em Kigali, Ruanda.










