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“A soberba precede a ruína,
e a altivez do espírito, a queda”.
Pastor Adelino
A guerra da Ucrânia continua a ser manchete nos inúmeros meios de comunicação mundiais. Mostra-nos todos os dias, para além da violência do conflito e da perigosidade dos seus efeitos mortíferos, a força e a arte da manipulação da palavra escrita e falada, certamente paga a bom preço aos agentes ao serviço das grandes potências empenhadas na defesa intransigente das suas ideologias e dos seus interesses particulares. Os “caras” não olham a meios para atingirem os seus fins quase sempre obscuros e inconfessáveis. É nesse jogo sem regras que, apesar da capa humanitária que oculta a verdadeira essência dos seus gestos, se coloca em campo a “populaça” no papel de vulgares peões, umas peças menores do jogo de xadrez político que desenvolvem.
Como sinto um certo asco pela influência social que visa mudar o comportamento ou a percepção dos outros por meio de tácticas enganosas ou dissimuladas; por sentir repulsa por tudo o que cheira a falso, decidi por momentos abandonar o palco da guerra e dar outra importância à luta que se trava na nossa terra.
Nessa perspectiva, olhando para uma foto de boa dimensão que tenho numa parede da sala e onde estou retratado, curiosamente em Moscovo, sentado no meio de Wanhenga Xitu e Pepetela, sublinho que tive e ainda tenho orgulho de ter pertencido ao núcleo activo da grande família do MPLA. Por mando da minha consciência e nesse âmbito da vaidade nunca perdida, podem chamar-me o que quiserem, todos os nomes, menos oportunista. Não aceito, não gosto e sei defender-me com a minha postura assente na verdade. Sonhador ou lunático talvez, porque continuo firme a alimentar a esperança de que num dia qualquer, sei que iremos todos, mas todos, discutir os passos seguintes a dar para se alcançarem os propósitos do programa maior do M que, vistos devidamente, acabam por se resumir no programa idealizado e aceite por todos os angolanos de bom carácter. Um programa que tem como maior protagonista a população angolana com os seus múltiplos problemas e inquietações.
Pequena prova do meu empenho é o facto de ter levado sempre a sério o cumprimento da palavra de ordem lançada pelo Presidente João Lourenço, “Corrigir o que está mal e melhorar o que está bem”. Frase forte e simbólica que, invariavelmente obriga a que muitas das minhas crónicas visem essa problemática. Levam-me, por isso, a estar atento e preocupado com o que se passa nos vários sectores da vida nacional. Esse caminho conduz-me à verificação de gestos e palavras que não abonam figuras responsáveis, algumas de topo da organização MPLA. São pessoas que, enquanto dirigentes, se comportam ao invés de responsáveis de um partido de vanguarda, erradamente como membros de uma casta poderosa e intocável. A minha condição de cidadão consciente orienta-me a seguir os meus sonhos inquietos e denunciar este tipo de atitude e é o que, sem receios, tento fazer, porque mo dita a minha mente e, assim sendo, ponto final, parágrafo.
Na sequência de uma crítica feita a um membro da alta hierarquia do M que recentemente fiz circular por várias pessoas da minha confiança, uma avaliação justificada pela escusada exposição pública desse camarada, um amigo que muito estimo, teceu as seguintes considerações: “Nunca fui de medir o peso da carteira dos outros, mas como se explica politicamente esse nível de habitação de um dirigente local? Este vídeo atrai os ambiciosos, gananciosos e etc, e serve de arma de arremesso a qualquer opositor. Falta de senso comum, é o que o vídeo expõe. Mais um tiro nos pés que, muito provavelmente, não será aproveitado”. Foi desse modo que se expressou o meu amigo, com o qual não posso deixar de estar inteiramente de acordo. Um outro, teve o seguinte desabafo, ostensivo e suficientemente hostil: “Cada um vive cada dia e comemora como sabe! Não fica invejoso, porque populismo não presta! Eu até gosto muito de comer bife com batata frita”. A esse só me resta desejar que lhe façam bom proveito os bifes e as batatas fritas.
Estes dois episódios mostram para além do carácter de cada um dos intervenientes, a controvérsia reinante na sociedade angolana onde convivem filhos de muitas mães, uns desiludidos, outros delirantes e oportunistas, ainda outros musculados por antigas actividades, misturados num ambiente criado por deficiente estratégia de educação cívica gizada pelo MPLA que é, sem dúvida (ainda que se defenda assacando responsabilidades a terceiros), principal responsável pelo permanente clima de crispação observado à vista desarmada no delicado e imenso palco em que ocorre a cena político-dramática que assistimos diariamente. Um tempo em que a miséria das populações é notavelmente vulgarizada e coisificada por certos pensadores de alpendre, meros sonhadores com a ilusão primeira da preservação eterna, a todo o custo, do status que sempre tiveram. Boa vida contemplada com arrogância e com bifes e batatas fritas, conseguida à custa da vida miserável de milhões de compatriotas.
Posto isto, devo acrescentar que enquanto não houver humildade na classe dirigente, com cada um dos seus representantes a aceitar a crítica construtiva vinda de baixo e reconhecer publicamente os seus erros, atitude que não fica mal ao mundo, antes pelo contrário, só dignifica os que têm a coragem de a praticar, nós estaremos claramente a desconseguir corrigir o que está mal e melhorar o que está bem.
Fico por aqui, esperando que dias melhores iluminem a nossa praça. Recordando neste dia de hoje, 2 de Abril, o aniversário da minha amada e inesquecível Ana Paula, com os melhores cumprimentos aguardo pelos meus leitores e amigos, no próximo domingo, à hora do matabicho.
Luanda, 2 de Abril de 2022