POR JOCA TONET
Ibrahim Traoré, capitão do exército, comando de especialidade e actual chefe de Estado do Burquina Faso na sequência de um golpe, tornou-se uma afronta não só à ex-potência colonizadora, a França, mas também para um conjunto de instituições internacionais poderosas e dominadas pelas principais potências, que ao longo dos anos submeteram líderes de diferentes regiões do chamado terceiro mundo à submissão. E as autoridades locais temem que se recorra a uma campanha de bloqueio internacional contra as políticas de desenvolvimento em curso naquele país que mudam o paradigma da governação, mas também, o seu eventual assassinato, por via de agentes formados pela França, para derrubar o actual governo. Aliás, Burquina Faso tem um longo historial de golpes.
As agências de espionagem internacional, especialmente a CIA dos Estados Unidos da América, os serviços secretos franceses e os seus filiados fora e no continente, perante o novo contexto, não jogaram a toalha ao chão dando-se por vencidos. Simplesmente, refazem-se do revés que abalou o seu sistema e métodos de actuação, porque não conseguiram prever a entrada em cena de movimentos hostis ao modelo de cooperação e de aliança que ligava os antigos presidentes dos países da região à potência colonizadora (França), que tinham várias bases militares no país e forças operacionais destacadas prontas a intervir em qualquer situação de insurgência.
Ibrahim Traoré é uma consequência de um sentimento anti França e dos sucessivos governos subservientes ligados a antiga potência colonial, que explorava, a seu belo prazer, o Urânio, um dos minerais mais valiosos do mundo que o Burquina Faso tem em abundância no seu subsolo. Transformado, alimentava as centrais francesas de produção de energia permitindo que esse país produzisse a preços baixos beneficiando os seus consumidores, enquanto no país onde ele é extraído, apenas a sua avenida principal está iluminada e o restante país sofre com este défice gritante de energia. A população, cada vez mais pobre e impotente, mantinha-se indignada com a postura dos seus governantes, cada vez mais dóceis ao serviço da França. Sem outras alternativas, cansados de toda a situação que viviam há anos, logo na primeira oportunidade e sem contemplações, prestaram total apoio, como única oportunidade de se livrarem dos seus opressores (governo/França), ao jovem insurgente que, estoicamente, comandou um grupo que pôs fim e radicalmente, ao modelo de cooperação estabelecido pela França aos países da francofonia.
A emergência do novo governo burquinabe requer uma estratégia inteligente e esforço muito arranjado e delicado, bem como a adopção de medidas de segurança interna e externa para assegurar a continuidade das reformas, a segurança e consolidação do novo Estado soberano, para que, consequentemente, as novas autoridades possam levar a cabo um modelo de desenvolvimento político, social e económico que gere expectativa animadoras no seu povo, que por muitos anos, aguardou dos governos, a tomada de medidas que permitissem a devolução da soberania aos burquinabes.
O Burquina Faso, desde os primórdios da sua independência, nunca esteve totalmente livre para definir e seguir um modelo próprio. É um país africano sem saída para o mar, rodeado por um conjunto de países igualmente francófonos e subservientes a antiga potência colonial, que inclusive, mantinha uma forte presença militar no país. Com a ex-potência colonial, o país assistiu uma série de golpes de Estado e assassinatos dos seus líderes e, consequentemente, debatem-se com uma insurgência de grupos armados que não reconhecem nenhum governo que se instale no país, e lutam para dividir à nação numa nova república.