À margem da 15ª Cimeira dos BRICS, grupo de economias emergentes, que até ontem decorreu na cidade de Joanesburgo, África do Sul, o Presidente da China, Xi Jinping, manteve vários encontros com líderes africanos. O momento foi considerado de extrema importância para a África reforçar a sua ligação com o parceiro chinês.
Fonte: CMG
Tornou-se cada vez mais evidente que a China representa para o continente africano, um parceiro importante para contornar os desafios dodesenvolvimento em que a África está empenhada, que obriga, necessariamente, o aproveitamento das novas tecnologias e das oportunidades oferecidas pelo gigante asiático, sobretudo pelas economias emergentes.
A introdução da tecnologia 5G e a ampliação da banda larga, por exemplo, têm um potencial enorme para transformar as economias e melhorar a vida dos cidadãos africanos. É com este objectivo que os líderes africanos deverão apostar, cada vez mais, numa parceria consistente com a China.
A África está comprometida com o uso de energias renováveis, como é o caso de Angola, para reduzir a dependência de combustíveis fósseis e mitigar os efeitos das mudanças climáticas. E, nesse aspecto, a China tem sido um líder no sector, razão pela qual justificam-se os laços de cooperação e a assinatura de acordos bilaterais, que ajudem na execução de projectos nos sectores da energia solar, eólica e hidroeléctrica, visando ao alcance de objectivos de desenvolvimento sustentável.
Está claro que os africanos valorizam muito a parceria com a China. As razões são sobejamente conhecidas. Aliás, os dados disponibilizados, recentemente, pela embaixada da China em Angola, atestam que o volume de negócios entre o continente e o gigante asiático tende a aumentar. Desde o ano 2000, o volume do comércio China-África aumentou 20 vezes. A China tem sido o maior parceiro comercial da África por 12 anos consecutivos.
Em 2020, a troca comercial China-África atingiu 180 biliões de dólares. Havia mais de 3.800 empresas chinesas na África, com um stock de investimento directo de 47,4 biliões de dólares, o que ajudou o lado africano a elevar o seu nível de industrialização e a capacidade de exportação, além de promover o emprego local.
As empresas chinesas criaram mais de 4,5 milhões novos empregos em África. A taxa de contribuição da cooperação económica e comercial China-África para o crescimento económico da África é superior a 20 por cento.
As empresas chinesas usam diferentes tipos de fundos para ajudar os países africanos a implementar um grande número de projectos de infraestruturas, que melhoraram significativamente a conectividade das instalações africanas, incluindo mais de 10 mil km de linhas de caminho-de-ferro, quase 100 mil km de estradas,1000 pontes, 100 portos, 80 megaestações de electricidade, 66 mil km de linhas de transmissão e transformação de energia, 120 milhões de KW de energia, 150 mil km de rede de telecomunicação e cobertura de serviço de Internet com 700 milhões de terminais de usuários.
Dados divulgados pela referida embaixada dão ainda conta que a China ajudou a África na construção de mais de 130 hospitais, 45 ginásios e mais de 170 escolas. O país asiático enviou cerca de 30 mil profissionais médicos e tratou mais de 200 milhões de pacientes em países africanos. Nos últimos cinco anos, mais de 200 mil jovens africanos foram treinados pela China, que foram distribuídos em todas as esferas da vida do continente, e deram contribuições importantes para melhorar os interesses vitais e o bem-estar do povo africano.
Entretanto, como facilmente se pode depreender, estes são apenas alguns de vários exemplos dos números aliciantes que marcam a relação comercial da China com a África. As vantagens do continente africano olhar para a China como um parceiro importante são evidentes. Para qualquer país africano que tenha o desenvolvimento entre as prioridades, a escolha em caminhar ao lado da China representa um projecto viável e que se recomenda.
Basta ver que, mesmo durante a Covid-19, o comércio da China com a África e os investimentos chineses na África permaneceram estáveis. De Janeiro a Julho de 2021, período em que a pandemia esteve em alta, o volume de comércio China-África foi de 139,1 biliões de dólares, registando um aumento homólogo de 40,5 por cento, atingindo o maior nível no mesmo período da história.
A abertura da China das suas portas para as mercadorias africana é enorme. As importações provenientes do continente aumentaram 46,3 por cento, atingindo 59,3 biliões de dólares. As importações de produtos como borracha, algodão e café, dobraram em relação ao mesmo período do ano passado. O investimento da China em África cresceu de 2,71 biliões em 2019 para 2,96 biliões de dólares em 2020.
Estes dados, disponibilizados pela diplomacia chinesa em Angola, ajudam a perceber a dimensão da cooperação económica e comercial China-África.
Enquanto jornalista, participei no último Fórum Comercial China-África, realizado em Changsha, momento que serviu para o estreitar as relações de negócios entre o “gigante asiático” e o continente “berço da humanidade”. A enorme exposição de empresas e marcas africanas em solo chinês, representou a grande abertura proporcionada pelo país liderado por Xi Jinping aos parceiros africanos.
A minha grande expectativa e, seguramente, de todos os africanos, prende-se com os resultados do diálogo de líderes da África com o presidente Xi Jinping, em Joanesburgo.
Numa recente declaração, citada pela Agência Xinhua, o presidente chinês realçou a importância da compreensão mais profunda dos povos africanos sobre a China, de forma a compartilharem uma visão verdadeira, multidimensional e panorâmica do país asiático, com mais amigos, e tentarem ser enviados para herdar e desenvolver a amizade entre os países, a fim de contribuir para promover a amizade e cooperação China-África e construir uma comunidade com um futuro compartilhado para a humanidade.
As palavras do presidente da China deixam perceber, claramente, a importância depositada pelo país no estabelecimento de laços de cooperação com as nações africanas, mas sobretudo o desejo de ajudar no desenvolvimento destes países.
De resto, as expectativas da relação China-África são animadoras em todos os domínios, sendo o factor comercial uma mola impulsionadora para a economia dos países africanos e, também, para a própria nação chinesa.
Na relação sino-africana cada Estado deve identificar as suas prioridades
As perspectivas da relação entre a China e os países africanos estão destinadas ao sucesso. O país asiático representa, na visão do analista político angolano Almeida Henriques, um importante parceiro comercial e investidor em África, sublinhando que esta cooperação tem produzido benefícios mútuos para as partes.
“A África tem um enorme potencial para o desenvolvimento e a inovação, e a parceria com a China tem sido fundamental para o crescimento económico e tecnológico dos nossos países”, assegurou Almeida Henriques, especialista em relações internacionais, para em seguida reforçar que a postura de África perante a China “aconselha a uma maior reflexão do continente sobre o que realmente pretende”.
Almeida Henriques garantiu que a China pode oferecer um campo aberto em vários sectores de investimento, mas alertou para a necessidade imperiosa de cada Estado africano avaliar as características próprias da sua sociedade política, sugerindo ser necessário que os africanos escolham o que é que a China pode oferecer para este ou aquele Estado, em contrapartida para gerar desenvolvimento.
O analista político disse que sectores diversificados, entre eles, a agricultura, agroindústria e também as tecnologias, que estão a dominar o mundo, deverão fazem parte das prioridades destacando as vantagens de a China estar entre os países com grande potencial para oferecer neste aspecto.
“Os Estados também têm procurado relacionar-se com a China, sobretudo em sectores que eles acham serem aqueles em que se reconhece haver enorme capacidade de poder ajudar a desenvolverem-se”, revelou.
De acordo ainda com Almeida Henriques, existe, também, um elemento muito importante que se precisa ter em conta, que é o facto de “os Estados africanos aproveitarem os momentos altos que a China vai oferecendo neste momento, porque se não aproveitarem, voltaremos a reflectir num passado onde as relações beneficiavam mais outros Estados e menos os africanos”.
O facto de estar-se perante uma diplomacia económica resultante do “softpower“, segundo o analista, exige que nenhum Estado africano reclame das insuficiências na sua relação com a China. “Cada Estado deve criar condições suficientes para que consiga alcançar os seus objectivos, porque é importante o continente africano estudar as relações recíprocas e vantajosas na relação com a China”, lembrou.
Ressaltou que os países africanos conseguiram observar que o investimento chinês no continente vai apresentando estatísticas evolutivas, e que são desejáveis. “Quer dizer que a China está atractiva do ponto de vista da cooperação internacional e a África deve aproveitar”, assegurou.
Mateus Xavier