TEMOS QUE NEGOCIAR E PARAR A GUERRA NA UCRÂNIA!

PIERRE LELLOUCHE*

Estou estupefacto e muito inquieto com o que se está a passar. Esta questão dos aviões (Rafale para a Ucrânia), por exemplo — não é real, é fictícia — nem a empresa Dassault que os fabrica os tem e aqueles que está a fabricar já têm destino… Portanto, estamos a falar de aviões que não existem. Depois, não há dinheiro. Não há um centavo! A Ucrânia precisa de 100 mil milhões de euros por ano. Ora os americanos deixaram de pagar desde Janeiro passado, o que significa que somos nós que teremos de pagar esses aviões — comprá-los e oferecê-los à Ucrânia. 

O problema é que a Europa já deu este ano 74 mil milhões à Ucrânia, mas a França quase nada, porque a França não tem dinheiro. Este ano vamos dar 120 milhões, ou seja, menos que o preço de um desses aviões de combate! 

O cego e o paralítico

Portanto, estamos a falar de dinheiro que não há e de aviões teóricos, hipoteticamente a fabricar dentro de alguns anos, bem depois da saída de cena de Macron e de Zelensky. O que reduz a assinatura desta carta de intenções a um mero exercício mediático por dois indivíduos com problemas graves às costas — Zelensky tocado pela corrupção no seu círculo mais próximo, o seu melhor amigo está foragido, quatro dos seus ministros demitidos e 100 milhões de euros evaporados, dinheiro que lhes foi entregue pelos ocidentais. Quanto a Macron, ele limita-se a sobreviver com expedientes de comunicação mediática — hoje mesmo houve uma cerimónia no Eliseu para explicar que a indústria francesa vai muito bem quando na realidade ela está prestes a afundar-se e amanhã vai a Berlim. Ou seja, Macron está numa corrida de faz de conta mediática porque perdeu o pé — não tem mais partido, não tem autoridade, não tem orçamento. Temos assim o cego e o paralítico num exercício de propaganda mundial, puro teatro.

O que é inquietante uma vez que os russos avançam, as coisas estão a correr muito mal para a Ucrânia, que sofre enormemente e os seus jovens não querem mais combater: Merz ligou a semana passada a Zelensky para lhe dizer que tome de volta os cem mil jovens ucranianos refugiados na Alemanha. Mas os jovens não querem ir para a guerra, não querem morrer… e, por outro lado, a população do país diminuiu imenso. Não há mais dinheiro, os americanos já não estão a pagar, lavam as mãos e os europeus não sabem onde ir buscar mais dinheiro. Presentemente só os alemães e os holandeses ainda têm algum, mas todos os outros não. E então, qual é a solução que se propõe? — Ir sacar o dinheiro dos russos depositado no Euroclear, em Bruxelas, um Fundo Soberano, que pertence ao Banco Central da Rússia. Já lhes apanharam os juros — 5 mil milhões — mas agora querem mais, querem apanhar 160 mil milhões para poder continuar a financiar a guerra por mais dois anos.  

Se fizermos isso, iremos literalmente rebentar com as regras das finanças internacionais e países como a França, que precisam de pedir emprestados 300 mil milhões por ano, ficará obviamente fragilizada, porque deixará de haver regras de segurança e confiança que sustentam o direito internacional. 

O que se tem de fazer, pelo contrário, é sair da armadilha da guerra. Os russos não querem um simples cessar-fogo, mas estão disponíveis para negociar um acordo de fundo, um Tratado de Paz. Por isso, é preciso sentarmo-nos à mesa e negociar. E há muitas maneiras de o fazer, antes de um acordo formal… De qualquer forma, o que precisamos é de parar esta guerra que já fez milhão e meio de vítimas de ambos os lados. Quanto mais o conflito se prolongar, maior o risco de degenerar. 

Diz-se que Putin não a quer parar, mas quando do nosso lado se afirma que vamos vender mais 100 aviões de combate, quando se diz que a Rússia é uma ameaça estratégica e o chefe do estado-maior afirma que iremos provavelmente ter uma guerra com a Rússia dentro de três anos, cria-se uma atmosfera pesada, que lembra o que aconteceu em 1914, quando ninguém queria a guerra, mas que, na sequência de sucessivos erros de cálculo, acabou-se por desencadear um mecanismo infernal. Ora hoje, o que se afirma em várias capitais europeias é que vamos ter uma guerra com a Rússia dentro de três anos — isso é uma loucura. Temos é que acabar com a guerra!

*Político francês de direita e geoestratega 

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