TÁCTICAS DE NEGOCIAÇÃO EMPRESARIAL APLICADAS POR TRUMP

O Presidente Trump, ao ameaçar impor taxas a outros países, utilizou a táctica de antecipação, provocando o efeito psicológico, que impactaria as bolsas de valores, que depois de alguma turbulência (descidas/subidas ligeiras/descidas), ontem começaram a estabilizar…

MARIA LUÍSA ABRANTES

O Presidente Donald Trump muito cedo se iniciou nos negócios,  à frente da gestão da  “The Trump Organization”, que herdou do seu pai em 1971, aos 25 anos de idade. Investiu em vários empreendimentos de marca, incluindo complexos imobiliários de luxo, produziu séries de televisão formativas (reality show “O Aprendiz”), onde se tornou mais popular, foi dono do Concurso Miss América. Nessa base, o Presidente Trump tem aplicado à política, o pragmatismo e tácticas de negociação empresarial (jogo=previsão+antecipação). Há ainda a chamada táctica do “testa de ferro”, que consiste em colocar como chefe das negociações, um agente com orientação para ser duro (rosto fechado) e inflexível (sem ser mal educado), prevendo antecipadamente, que  a outra parte irá queixar-se do tratamento rude. Nessa altura, para reconquistar a sua empatia, simula-se a aplicação de uma sanção ao negociador inicial e o seu afastamento, substituindo-o por alguém com a indicação do que flexibilizar, ou o próprio interessado. 

Não foi surpresa que o Presidente Trump, eleito pelo Partido Republicano, tenha iniciado o segundo mandato, derrogando as Resoluções do seu sucessor do primeiro mandato, o Presidente Biden, que seriam a réplica de medidas adoptadas anteriormente pelo Presidente Obama, também por ele revogadas. Trata-se, nomeadamente, do corte de impostos; rejeição de normas de controle ambiental, para maior exploração de combustíveis fósseis, (forçando a queda dos preços do petróleo, pela deserção do Acordo de Paris e do acordo nuclear com o Irão); proibição de entrada de imigrantes ilegais; imposição de tarifas a produtos importados da China, do Canadá, do México e da Rússia, para concretização da sua sua agenda “Americans First” (Americanos em primeiro lugar) .

Durante o primeiro mandato o Presidente Trump aplicou 12% de tarifas alfandegárias ao aço importado, tendo encarecido o produto final na mesma proporção, o que gerou descontentamento. Essa consequência e a reacção retaliativa da China, travou a jogada seguinte e o Presidente Trump afrouxou. 

Sendo os Estados Unidos um país de regime Presidencialista (o vice-presidente da República é o Presidente do Senado), a Administração Trump quer no primeiro como no segundo mandato, é expressão  da vontade do Presidente, só limitada pela fiscalização do Senado, (onde o  Partido Republicano detém a maioria) e pelo poder judicial. 

No meu artigo de 24/01/2025 referi, que o Presidente Trump, ao ameaçar impor taxas a outros países, estaria a utilizar a táctica de antecipação, provocando o efeito psicológico, que impactaria as bolsas de valores, que depois de alguma turbulência (descidas/subidas ligeiras/descidas), ontem começaram a estabilizar. Todavia, o efeito temporário bolsista, duraria  apenas o período de tempo enquanto os parceiros econômicos visados não reagissem. 

O Presidente Trump jogou por antecipação, ao ameaçar logo durante a posse a China, o Canadá, o México e a União Europeia, (países dependentes de exportações para os EUA), “atirando” um número, como aumento das tarifas aduaneiras, possivelmente visando a reacção, para definir a actuação na futura negociação prevista. Nos dois primeiros  casos “atirou” uma de 25%,  mas a cautela, no caso da China, apontou para tarifas mais baixas, de 10%, porque tem plena noção que importam muitos produtos desse país. Da China importam, não apenas produtos acabados, mas, sobretudo, produtos semi-acabados, que entram na cadeia produtiva, sobretudo das empresas tecnológicas. Não obstante a pretensão seja obrigar as multinacionais americanas e estrangeiras a investir nesse país, também é verdade, que a deslocalização das empresas, representaria um grande esforço financeiro, devido ao custo da mão de obra, que seria acarretado pelos consumidores.  

Como seria de prever, a Câmara Americana do Comércio reagiu, com o apoio de membros do Congresso do Partido Republicano. Sendo o único representante dos seus membros (mais de 3 milhões de empresas), a Câmara de Comércio tem muita força, quer junto da Casa Branca, quer junto do Congresso Americano, na qualidade de interlocutor oficial, propósito para que foi criada. A US Chamber of Commerce, é uma instituição autônoma e independente, que foi criada pelo Presidente William Taft (27.º Presidente, a 22 de Abril de 1912), para proteger os interesses dos seus membros (empresas), junto desses dois órgãos do poder de Estado, entre outros, cuja sede se situa em frente à Casa Branca. 

Todas as outras Câmaras, Associações e ONG’s americanas, situam-se ao nível dos “lobbies” privados, (empresas prestadoras de serviços de relações públicas) e podem apoiar-se na US Chamber of Commerce em missões pontuais, se esta instituição assim entender, ou filiar-se como empresa. É o caso do CCA- Corporate Council on Africa, uma espécie de ONG (privada) com fins lucrativos, que apenas desde 2021/2022, se aproximou da US/Africa Business Center da Câmara Americana de Comércio. O CCA, assinou um contrato com o Governo de Angola para organizar um fórum empresarial neste país, em 2025. A nossa comunicação social estatal, já está a  passar uma mensagem que confunde a opinião pública, sobre a importância dessa instituição, que conheço desde a sua fundação. Com o devido respeito e sem desprimor, a CCA, não tem comparação possível, em termos de influência e de poder, com a US Chamber of Commerce, junto das empresas multinacionais, da Casa Branca e do Capitólio (Congresso). A Câmara de Comércio Americana, é a co-responsável pelas parcerias financeiras que Angola conseguiu desde 2022 e é representada pela Angola AMCHAM. 

Como num jogo de soma zero  (vide teoria dos jogos = o ganho de um jogador representa necessariamente a perda para outro jogador), o Presidente Trump ainda assim, no dia 2 do corrente mês, assinou e publicou as tarifas anunciadas para o Canadá e para o México, aguardando a reacção imediata dos líderes dos supracitados países, já prevista. Só depois procederia à segunda  jogada da sua estratégia, que seria obrigá-los a desertar (desistindo do jogo), através da cooperação, pela via da negociação (fim do jogo). 

Foi o que aconteceu. Em menos de 24 horas o Presidente Trump assinou nova Resolução, a suspender por um período de 30 dias a medida tomada no dia anterior, porque houve negociações com cada um dos Chefes de Estado  dos países visados, com cedências e compromissos de parte a parte. Tanto a Presidente do México (Cláudia Shainbaun), como o Primeiro Ministro do Canadá (Justin Trudeau), comprometeram-se a aumentar o efectivo militar,  para reforçar a vigilância da fronteira com os EUA, ajudando a retirar parte da  pressão financeira ao orçamento desse país. No caso do México, o Presidente Trump assumiu o compromisso de zelar para que houvesse uma redução da venda de armamento exportado ilegalmente para o México. A verba de USD 1,3 bilhões prometida pelo Primeiro Ministro do Canadá, já tinha sido aprovada em Dezembro de 2024, antes da tomada de posse do Presidente Trump, mas a ameaça seria por motivo estritamente comercial. Na América “money talks”, com dinheiro negoceia-se tudo. Menos os crimes de homicídio. 

Recordo-me muito bem, quando, durante a Administração do Presidente George Bush Jr.,  “ameaçaram” com a não inclusão de Angola, na lista dos países africanos isentos de pagamento de tarifas aduaneiras a coberto da Lei do AGOA e cumpriram. Entretanto, pouco tempo depois, possivelmente por pressão das empresas petrolíferas que ficariam prejudicadas, o Departamento de Estado Americano, por orientação do Presidente Bush, comunicou  a delegação angolana que foi convidada a Washington, para uma reunião de consulta bilateral, que Angola iria entrar na lista do AGOA. 

A sala ficou no entanto mais gelada, quando o chefe da delegação angolana respondeu que o Presidente José Eduardo dos Santos mandara regeitar essa oferta, porque as empresas angolanas ainda não tinham produção para o efeito.  Os membros da delegação americana ficaram todos vermelhos, insistindo e ouvindo a mesma “nega”. Para vos dizer a verdade,  fiquei muito preocupada. Mas sabem o que aconteceu?

– Sem avisar puseram Angola na lista dos países com isenção de tarifas aduaneiras, e ficaram muito mais simpáticos durante bastante tempo. Afinal, os mais prejudicadas financeiramente, seriam as empresas americanas e ainda por cima, estavam a querer chantagear-nos, a troco de determinadas exigências. O Presidente José Eduardo dos Santos de forma diplomática, sabia impor a política transatlântica “win win” e o país saía sempre a ganhar.  

O Presidente Trump tem plena noção, de que os Estados Unidos de América não estão isolados no mundo, nem  são auto-suficientes, pelo que as suas ameaças a serem cumpridas na íntegra, teriam consequências muito graves para o país. Ainda assim, jogou e partiu ao “ataque” primeiro, sabendo de antemão que estava apenas a preparar o terreno, para uma  boa negociação, (com concorrentes a altura). No  caso da China, em 2024, verificou-se  um crescimento tecnológico e “compilador quântico”, com um ganho de um trilhão de dólares com o que exportou a mais do que importou. De recordar,  que já estava a ser aplicada uma tarifa de 26%, para a exportação de carne do Brasil para os Estados Unidos e o Japão também já foi ameaçado. 

No que respeita ao continente africano, durante a Administração Clinton, foi aprovada pelo Senado a AGOA (Lei do Crescimento de Oportunidades para África), em Maio do ano 2000, por um período de 10 anos, prorrogada durante a Administração Obama, por um período de 15 anos (termina em Maio de 2025). Há pretensões dos defensores da Lei, maioritariamente de democratas, de propor a extensão, por um período de mais 30 anos. Essa proposta poderia encontrar dificuldades, num momento de necessidade de arrecadação de receita e de corte na despesa. 

A AGOA é uma Lei que permite a entrada nos Estados Unidos de cerca de 7.000 (sete mil) produtos produzidos em África, com isenção de tarifas alfandegárias. Só depois de 23 anos, a 21 de Setembro de 2023, a Embaixada Americana em Angola fez um comunicado, informando que pela primeira vez, uma empresa angolana de produtos alimentares, denominada “Foodcare, Lda”, tinha exportado para o Estados Unidos ao abrigo do AGOA. Foi um grande desperdício, por incompetência do Ministério do Comércio e Indústria, que começou por ter a denominação social de trás para frente (comercializa-se o que se produz). Nem tem a mínima noção de que não foi nada fácil argumentar em defesa da “economia” africana, atendendo à péssima performance dos países africanos, em especial os subsaarianos e persistir, para convencer os congressistas de ambas as Câmaras. Nos EUA essa não  é uma tarefa fácil, porque inclui a opinião da sociedade civil, que também pode escrever a opor-se. Por isso, há muita gente a convencer. Sei, porque participei, ao longo de mais de 2 anos, no trabalho de aprovação da Lei e de mais de 1 ano para a sua prorrogação. 

No caso de Angola, anteriormente, só as próprias empresas americanas beneficiavam dessas isenções de tarifas aduaneiras (impostos alfandegários), pelo petróleo que exploram e exportam para os Estados Unidos. Isto é, beneficiam duas vezes de incentivos fiscais, (cá e lá). Em Angola não existe legislação fiscal especial, que fixe valores específicos obrigatórios, para contribuição social das empresas poluidoras do meio ambiente, que não seja unicamente em caso de derrame. Ainda assim, parte desse valor é o que tem sido aplicado pelo Governo americano, para financiar os programas de luta contra o HIV/SIDA e contra a malária neste país. Esse financiamento, tem sido canalizado através da USAID, (que tinha aprovado um orçamento de 235 milhões de dólares, para o quadriênio 2024-2027), sendo depois as empresas petrolíferas ressarcidas pela doação, com a devolução no final do ano fiscal no seu país. Na verdade, é parte do nosso próprio dinheiro, que nos é concedido em formato de “ajuda”, como pedintes do que é nosso, por falta de quadros especializados em finanças públicas com  experiência. Infelizmente, há carência de quadros jovens com as duas valências. Os países fornecedores dos consultores do “copy and paste” (copiar e colar), portugueses associados a altos dirigentes do Executivo, sobejamente conhecidos, ainda não tem petróleo. É o caso dos consultores portugueses, que mal conhecem os meandros da legislação geológica e mineira. Como a irão conjugá-la com  a legislação fiscal, que nada tem a ver com a nossa, porque a legislação deles obedece a directivas da União Europeia? 

Neste caso, nem os consultores recomendados pela empresa do brasileiro/japonês Minouro Dondo, entre outros, nos podem valer, porque tem petróleo, mas  a legislação é muito mais regulamentada, à semelhança dos Estados Unidos. Por isso, o nosso MINFIN e os membros do Executivo ligados a coordenação econômica, não passam da teoria e falham na execução. O estranho, é que quando sentem a proximidade de algum especialista angolano, que tenha maior conhecimento, tentam denegrir e cobardemente fogem dele (s) como “do diabo na cruz”.

4.02.2025

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