QUANDO OS DESENCONTROS VOLITIVOS DO PR ATRAPALHAM O TRABALHO DO SEU SECRETÁRIO DE IMPRENSA

POR FERREIRA PESTANA 

A última deslocação de Sua Excelência Presidente da República à capital económica da África do Sul, Johanesburgo, que se concretizou na sexta-feira (21.11), foi antecedida de uma turbulência comunicativa desnecessária, capaz de redundar na caracterização como pouco séria a gestão da agenda presidencial, por colocar em questão a boa face da nossa diplomacia e, por efeito contágio, o bom nome do Estado angolano.

Vamos, então, reconstituir a sequência de episódios que estiveram na antecâmara dessa viagem do PR, para participar, enquanto convidado, sendo o Presidente pro tempore da União Africana, na Cimeira do Grupo dos 20 (G20), que é um fórum económico internacional composto por 19 países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento e mais dois blocos regionais (União Europeia e União Africana), a ter lugar no solo sul-africano:

1. Na quinta-feira (20.11), à noite, ouvimos todos o secretário para os Assuntos de Comunicação Institucional e Imprensa do PR, Luís Fernando, a anunciar a partida do PR, João Lourenço, no dia seguinte, à África do Sul, para cumprir o objectivo acima referido. E a reforçar essa informação, fomos vendo e ouvindo despachos de repórteres presidenciais (RNA, TPA e Tv Zimbo), enviados em antecipação, a partir do país da realização do magno evento.

2. No dia seguinte, no período da manhã, bem no início do horário de expediente, fomos surpreendidos com a publicação, nas páginas oficiais do PR, maxime facebook, de um comunicado, pela Secretaria para os Assuntos de Comunicação Institucional e Imprensa do PR, sem grandes desenvolvimentos, a anunciar que o PR JL já não se deslocaria à pátria liderada por Cyril Ramaphosa, por razões de força maior. O melhor mesmo é trazermos para aqui o seu teor integral:

Comunicado

Por razões de força maior, Sua Excelência João Manuel Gonçalves Lourenço, Presidente da República de Angola, já não se desloca à República da África do Sul.

SECRETARIA PARA OS ASSUNTOS DE COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL E IMPRENSA DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA | PALÁCIO PRESIDENCIAL, em Luanda, 21 de Novembro de 2025.

Diante disso, nos espaços opiniáticos se começaram a construir teses para tentar vislumbrar que “razões de força maior” eram essas, afinal, ao mesmo tempo que se tentava compreender e assimilar que qualquer Chefe de Estado, e com o nosso não deve ser diferente, pode sempre ter motivos que o levam a não fazer deslocações ou a não se deslocar a este ou àquele país. 

Entretanto, estando a assimilação a se consolidar, irrompe, a meio da tarde do mesmo dia, nova comunicação nas páginas oficiais do PR a dizer exactamente o oposto, ou seja, que ele seguiria, sim, à República da África do Sul para tomar parte, no sábado, da reunião do G20, tendo seguido viagem nessa sexta-feira. Sem que a presente nota trouxesse qualquer indicação a respeito do que se passara com as “razões de força maior”, apontadas, como impedimento da viagem, no início da manhã. E para fugir à contradição interna, tiveram de eliminar o comunicado postado no início da manhã.

Posto isso, já não havia mais nada a assimilar, voltamos, de modo automático, à construção de teorias, para desvelar as reais causas na base dessa oscilação volitiva do nosso PR, conforme foi exposta aos olhos do mundo.

Para uns observadores, tratou-se, tão-somente, de mais uma birra do nosso PR, pois, só depois de confirmar a participação na dita Cimeira, se lembrou que a África do Sul não se fez presente, ao seu maior nível de representação, ou perto disso, no acto central da celebração dos 50 Anos da Independência de Angola, realizado no passado dia 11 de Novembro. Pelo que, segundo esses observadores, JL quis mandar uma forte mensagem de desagrado ao seu homólogo da África do Sul.

Para outros, o desencontro de vontade se deve ao facto de o PR se ter atinado, também apenas depois da confirmação da presença, que o Presidente dos EUA, Donald Trump, sempre afirmou a sua não presença, devido aos seus maus fígados em relação ao Presidente Ramaphosa, por ser ele um dos maiores entusiastas da congregação do Sul Global, da sedimentação dos BRICS e do seu Banco, bem como do esvaziamento do raio de influência do Dólar dos EUA. Com isso, JL pretendia fazer chegar aos EUA a nota do seu total atrelamento à agenda de Trump.

Para uns outros, concordando com a verificação das hipóteses anteriores, o PR foi aconselhado a ter uma postura de estadista, porque não estava apenas em causa o nome de Angola, estava, acima de tudo, a União Africana, organização que ele temporiamente preside, outrossim, pelo elevado número e nível de participação de estadistas e líderes europeus na Cimeira do G20. E que era o momento assaz oportuno para alinhavar ideias, com muitos deles, para a Cimeira seguinte, União Europeia – União Africana, por sinal a ocorrer em Luanda, nos próximos dias 24 e 25.

Ao que o PR teve de engolir, momentaneamente, as “suas razões de força maior”, refazendo as malas e se lançar ao ar em mais uma viagem de Estado.

Por conseguinte, a enorme ilação que se pode extrair de todo esse desencontro de estados de alma no nosso PR, é que estes desencontros nunca se devem sobrepor aos interesses nacionais. Que as arrelias e birras pessoais, contra esse Presidente ou aquele país, devem ficar mesmo no âmbito pessoal. Doutro modo, ficarão manchas indeléveis sobre a nossa diplomacia e o PR será ele mesmo a sabotar o trabalho de Luís Fernando, seu secretário para os Assuntos de Comunicação Institucional e Imprensa. Ponto!

22.11.2025

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