Está a virar moda “culpar” o crescimento populacional pelo fracasso de todos ou quase todos os programas governamentais. Estão a fazer muitos filhos, estão a “parir” para além da conta, diz-se e, para travar esse mal, até há quem ande para aí a dizer que o governo pode vir a legislar sobre quantos filhos pode ter uma família.
ZOOM DA TUNDAVALA

Não é uma antevisão de um político “iluminado”, muito menos uma premonição de algum espírita. Nem tão pouco alguma visão ou coisa do outro mundo. É simplesmente uma constatação de realidades bem presentes no quotidiano de quem tem olhos para ver o que se passa em seu redor, e dá conta que se está no caminho inverso do que as promessas que foram prometidas.
São realidades que preocupam, não só pelo que vai acontecendo, mas por ser visível a inércia de quem tem responsabilidades de “corrigir o que está mal”. Vai-se vendo as coisas acontecerem, prolongarem-se no tempo, agravarem-se, e não se faz nada porque, tal inércia, pode bem significar outras coisas, ou satisfazer outros interesses.
Do alto da Tundavala, não são precisos drones, nem satélites espiões, nem quaisquer outras técnicas específicas para se ver o que se vê, à vista desarmada, quando se desce a Serra da Leba. Há duas realidades que até cego consegue ver.
Uma delas é o estado miserável da estrada que, tendo já conhecido dias melhores, hoje é uma verdadeira catástrofe, pelos riscos que representa para as muitas centenas de veículos que todos os dias circulam entre estas duas cidade do sul: Lubango e Moçâmedes. Esta estrada é hoje um mar de armadilhas porque os buracos e crateras estão por quase toda a sua extensão de mais de 170 km. O pior está mesmo na Leba que antes era território da província da Huíla mas, por reivindicações “patéticas” passou para o Namibe. Está-se mesmo a ver que “Mister Archer” está longe demais para se preocupar em subir a Serra, para constatar “in loco”, até porque teria de “sofrer” na buraqueira até ao Lubango, e ninguém está para sofrer, a não ser os que têm a estrada como sustento e necessidade. A estrada está mal e está a piorar. Está moribunda e vai “bater as botas”. Serão sacrificados meios, bens, e vidas, que nem todos saberão contabilizar. A estada está entregue aos cuidados de um monte de miúdos que, à custa de umas pazadas de terra, vão disfarçando alguns buracos e mendigando aos automobilistas umas moedas para travarem a luta pela sobrevivência. Porque o “dono” da estrada, ao qual até se paga uma portagem, ainda em território da Humpata, só está lá para arrecadar o graveto e, a estrada, “que se lixe”.
A outra realidade que se topa do alto da Tundavala, também na Serra da Leba, é o oposto do que outrora foi verdejante e exibindo uma vegetação bonita de se ver. Hoje, a olho nu, são visíveis as imensas clareiras que resultam da desmatação desenfreada que por ali vai, porque a miséria e a desgraça dos mais vulneráveis os mandou para ali, por ainda haver vegetação para o abate. E são muitos os pontos da Serra onde se acumulam pilhas de sacos de carvão, exibidos de forma descarada à beira da estrada, por quem faz da miséria e da desgraça o seu sustento no carvão, e sabe que nem o tal do Ambiente está para se chatear. E como a jurisdição da Serra da Leba está na esfera de outra província, deste lado da barricada vai-se lavando as mãos porque o assunto “não é connosco”, está noutro território. Certamente se apagou da memória de muita gente os estragos causados pelas chuvas intensas de Março de 2010, que causaram derrocadas e deslizamentos em muito pontos da Serra que ainda hoje, sem lupa, são visíveis muitos dos efeitos daquela situação. E naquela altura não havia tanta desmatação como agora. Então imaginie-se o que será se ocorrer outra situação semelhante. Não haverá árvores ou vegetação para travar a frúria das águas, e os estragos serão infinitamente maiores e mais devastadores. O mais certo é que nessa altura se possa ouvir dizer que aquilo não estava previsto, se busquem apoios e financiamentos que não vão resolver o problema de ninguém. Porque o mal estará feito.
Piorar o que está mal, é também olhar para a rebaldaria que vai pelo trânsito de quase todas as cidades, a que o Lubango não escapa, provocada principalmente pela forma como conduz a quase totalidade dos motociclistas, ditos kupapatas e kaleluias, pelas violações descaradas de códigos, regras e tudo mais, que passam pelos “caingas” a rir e quase lhes pegam nos “coisos” de tanto gozo, porque fazem o que querem, conduzem da forma que acham que devem fazer, em contramão, nos passeios, desencartados e em veículos sem registo ou descaracterizados, transportando aos três e quatro e até criancinhas, desafiando qualquer autoridade perdida na falta de autoridade. E quando se ouve, quem deve “corrigir o que está mal”, dizer que não se pode fazer nada para restabelecer a ordem porque “outras razões” se sobrepuseram à razão, é lícito admitir que a rebaldaria se vai eternizar, se vai tornar regra, e o que está mal vai piorar, porque esse é o recado que é passado. Os únicos que vão continuar a ser “parados” serão sempre os mesmos: camionistas e condutores em quatro rodas, em operações “stop” montadas em estradas e caminhos, pensadas no “pente”, para “incrementar o salário”, para chatear. E vai-se continuar a ouvir a desculpa de que “com esses, os kupapatas, não dá para falar”.
Piorar o que está mal vai ser ver crescer o número de crianças fora do sistema de ensino e, para isso, basta ler o que diz a imprensa que ainda vai podendo dizer alguma coisa: que as verbas para a Educação para o próximo ano ainda são mais reduzidas, e por isso também mais crianças se vão sentar em bancos de pedra feitos de pau ou plástico, à sombra de árvores que não forem abatidas para carvão.
Para piorar o que está mal foi acrescentado um novo mal ao “catálogo de desculpas”: a demografia. Está a virar moda “culpar” o crescimento populacional pelo fracasso de todos ou quase todos os programas governamentais. Estão a fazer muitos filhos, estão a “parir” para além da conta, diz-se e, para travar esse mal, até há quem ande para aí a dizer que o governo pode vir a legislar sobre quantos filhos pode ter uma família.
Se não foi corrigido, vai piorar!











