
O Presidente da República, João Lourenço, inaugurou na manhã de ontem o reluzente Salão Protocolar da Presidência da República, uma obra que promete ser o novo cartão-de-visita do poder. O edifício ergue-se imponente junto ao Memorial António Agostinho Neto, na Praia do Bispo, como quem quer dizer: “Aqui também se faz obra!” E, de facto, obra há e das grandes, pois o Presidente parece ter descoberto o engenheiro civil que há em si.
Com quatro pisos e dezassete mil metros quadrados de construção, o novo Salão nasceu para acolher chefes de Estado e cerimónias protocolares. Dizem que ficou pronto em apenas dezoito meses um “parto” rápido, se compararmos com certas escolas que ainda esperam pelo primeiro tijolo. O terreno, abandonado há mais de quarenta anos, agora exibe linhas modernas e vidros espelhados que refletem o futuro. Só falta saber quanto custou o reflexo, porque, curiosamente, o CIPRA calou-se.
O povo, habituado a aplaudir fachadas, pergunta-se se houve concurso público ou se foi mais um daqueles “ajustes directos” expressão que, por cá, soa mais a senha de confiança entre empreiteiros e gabinetes do que a mecanismo de emergência. A transparência, nestas bandas, é muitas vezes palavra de vitrina, não prática de bastidores.
O novo Salão comporta mil e duzentas pessoas sentadas e conta com sistemas inteligentes de energia, climatização e segurança. É tão moderno que talvez até saiba detectar perguntas incómodas sobre os custos da obra e desativá-las a tempo.
Enquanto isso, nas províncias, escolas continuam a ser erguidas a duas pancadas, sem laboratórios, sem bibliotecas e, porque a prioridade parece ser o betão que se vê, e não o saber que se aprende. O PIIM, esse programa milagroso, vai andando ao sabor do improviso, entre inaugurações apressadas e discursos bem ensaiados, mas pouco convincentes.
Hoje, o país celebra 50 anos de independência, mas a felicidade continua uma miragem. A fome cresceu em casa dos angolanos, e a esperança parece cada vez mais exilada. Não foi por isso que os nacionalistas pegaram em armas. Lutou-se pela dignidade e pela justiça, não pela ostentação de uns e a miséria de muitos.
Cinquenta anos depois, resta-nos um novo salão e velhas práticas. O betão é novo, mas o sistema continua rachado. A luta de libertação deixou marcas profundas infelizmente, algumas delas são as cicatrizes de um poder que se curvou diante do enriquecimento ilícito.










