BAÍA-FARTA. FÁBRICA DE SODA CÁUSTICA, HIPOCLORITO DE SÓDIO E ÁCIDO CLORÍDRICO ESTÁ EM FASE AVANÇADA DE CONSTRUÇÃO

Decorridos nove meses desde o início das obras, segue em bom ritmo a construção e implantação da Fábrica de Soda Caustica e Hipoclorito de Sódio na Salina Calombolo, propriedade do Grupo Adérito Areias, nos arredores da Vila da Baía-Farta, em direcção ao Chamune. Já se atingiu mais de 70% da execução efectiva, pelo que se mantém o mês de Maio de 2026 como data da sua inauguração, como foi assumido no acto de lançamento da primeira pedra, em Novembro de 2024.

POR RAMIRO ALEIXO

As obras, com duração prevista de 18 meses, iniciaram em meados de Janeiro deste ano. De acordo com Mário Rui, diretor do projecto, o avanço é significativo face ao cronograma inicial, sendo provável que já em Março — dois meses antes do previsto — a unidade fabril possa iniciar o ciclo de ensaios e testes de produção.

A construção desta fábrica resulta de um financiamento de 30 milhões de euros, dos quais 5 milhões correspondem a capitais próprios do Grupo Adérito Areias. Os restantes 25 milhões foram obtidos ao abrigo da Linha de Crédito aberta pelo Governo do Reino de Espanha, destinada a apoiar empresas espanholas em investimentos, serviços e negócios em Angola. Neste caso, as empresas espanholas fornecem os equipamentos, realizam a montagem e são também responsáveis pela execução da construção civil, a qual, apesar de contratada a uma empresa angolana de reconhecida competência e qualidade, é remunerada pela parte espanhola.

O financiamento é assegurado pelo Deutsche Bank, em parceria e/ou sob supervisão do BDA, com cobertura da Garantia Soberana de Angola. Assim, embora o Grupo Adérito Areias seja obrigado a participar com 5 milhões de euros em capital próprio, não recebe diretamente qualquer parcela dos 25 milhões de euros financiados. Estes valores são disponibilizados pelo Deutsche Bank à empresa espanhola Purever, fornecedora dos equipamentos. É esta mesma entidade que, em conjunto com outras empresas — como a Novanor (representada pela SmartFrio) —, executa os trabalhos de montagem, acompanhamento e fiscalização.

Segundo Mário Rui, a fornecedora é uma empresa com vasta experiência no sector e detentora de duas fábricas semelhantes em Espanha. Caberá também a ela a formação de cerca de 15 técnicos nacionais, licenciados em áreas como Química, Eletromecânica, Economia, Informática, entre outras, que irão assegurar o funcionamento, a gestão e a manutenção dos equipamentos. O processo de capacitação terá início nos próximos dias, com uma fase de seleção e pré-formação de 15 dias, seguida de estágio em Espanha,  já no mês de Outubro, num programa de três a cinco meses, sendo a parte teórica em academia e a parte prática numa das fábricas da empresa, para domínio teórico e técnico dos procedimentos.

Reduzir a dependência das importações

De acordo com Mário Rui, que nos acompanhou numa visita a todas as áreas de implantação dos equipamentos e obras de apoio técnico e social, com explicações detalhadas sobre cada etapa, a obra já recebeu 30 dos 54 contentores com todo o equipamento necessário, incluindo grupos geradores de energia.

A unidade produzirá essencialmente três produtos:

  • Soda cáustica líquida concentrada a 32 e a 50%;
  • Hipoclorito de sódio a 15%, derivado da soda cáustica líquida que na forma diluída a 2,5 ou 3% passa a ser conhecido como lixívia, utilizada para tratamento e purificação da água e desinfeção de superfícies em hospitais e residências;
  • Ácido clorídrico a 32%.

Segundo Mário Rui, a produção diária rondará as 100 toneladas, exigindo entre 25 e 30 toneladas de sal por dia, cerca de 200 m³ de água (70/80 m³ de água desmineralizada e 120 m³ de água potável, tratada na própria unidade) e entre 1,7 e 2 MWh de energia elétrica, sem margem para cortes ou oscilações. A água será obtida por via de captação directa no mar, a 1.800 metros da fábrica, passando por um tratamento de dessalinização e purificação.

Dados do Instituto Nacional de Estatística indicam que Angola importa anualmente cerca de 650 milhões de dólares desses produtos. Os principais consumidores são as centrais de tratamento de água para consumo humano (ETAs). Com a construção de novas centrais em cidades, capitais e municípios, a procura por água potável tende a aumentar, tornando inevitável o acréscimo no consumo de soda cáustica, hipoclorito e ácido clorídrico. Por isso, não restam dúvidas de que esta nova unidade contribuirá para reduzir significativamente as importações, gerando poupança de divisas para o país.

Além das centrais de tratamento de água geridas pelo Ministério da Energia e Águas, destacam-se outros sectores de consumo, como:

  • Indústria têxtil, que utiliza soda cáustica para fixação das cores nos tecidos;
  • Indústria petrolífera;
  • Indústria mineira;
  • Fábricas de bebidas, que recorrem a estes produtos para higienização de garrafas de vidro novas e reutilizadas.

A soda cáustica é também empregue na limpeza de tubagens e processos de higienização industrial. Já o hipoclorito de sódio, para além destes usos, é igualmente utilizado em tratamentos médicos, em dosagens muito baixas, normalmente presentes em produtos farmacêuticos. Esta versão específica, difícil de encontrar actualmente nas farmácias nacionais, deverá passar a ser produzida localmente, abrindo caminho à criação de uma linha de enchimento de pequenas embalagens destinadas a suprir necessidades de hospitais, clínicas e farmácias.

Já se pensa numa segunda unidade em Luanda

Esta é a primeira e única fábrica do género em Angola, mas foram identificadas em Luanda pequenas fábricas contentorizadas, muito distantes do nível e da capacidade da unidade do Grupo Adérito Areias, na Baía Farta, além de estarem limitadas apenas à produção de hipoclorito de sódio.

Com a entrada em funcionamento desta unidade, abre-se também um nicho de negócio importante para transportadores especializados. Embora a soda cáustica, o hipoclorito de sódio e o ácido clorídrico sejam classificados como produtos não perigosos, exigem condições específicas e cuidados redobrados na movimentação e manuseio, tal como acontece com combustíveis e derivados.

Os motoristas desses veículos devem ter conhecimentos técnicos sobre as características da carga, que será acondicionada em cubos de até uma tonelada, podendo também ser transportada em cisternas de 25 toneladas. O Grupo Adérito Areias não prevê investir directamente neste sector, mas mostra disponibilidade para formar na sua já existente academia de formação (Academia Adérito Areias), cursos destinados a operadores de empresas transportadoras, orientando-os quanto às boas práticas de manuseamento seguro desses produtos.

Mário Rui acrescenta que existe igualmente cooperação com entidades ligadas à defesa do ambiente. Para a renovação da licença de obra têm sido realizadas visitas regulares ao estaleiro. Embora o objectivo seja garantir confiança e transparência, reconhece-se a necessidade de um acompanhamento ambiental mais rigoroso quando a unidade entrar em operação, com análises regulares da atmosfera, do ar e do solo para prevenir riscos de contaminação. Além de visitas regulares do BDA, para aferirem os níveis de execução e qualidade da obra.

A recepção provisória da unidade pelo Grupo Adérito Areias está agendada para Abril de 2026, mas a fábrica funcionará durante um ano sob supervisão técnica da empresa espanhola fornecedora e instaladora dos equipamentos. Ainda assim, a inauguração oficial está prevista para 17 de Maio de 2026, data da fundação da cidade de Benguela e também do aniversário da mãe de Adérito Areias, figura muito estimada na região.

Nessa altura, a fábrica já terá cerca de dois meses de funcionamento em regime de testes. Duas parcelas do financiamento (500 milhões de Kz cada) já foram liquidadas, mas outra vence em Março, sendo necessário iniciar faturação para cobrir os custos iniciais. A partir de Abril de 2027, a gestão e o controlo passarão totalmente para o Grupo Adérito Areias, com técnicos angolanos assumindo progressivamente mais responsabilidades, embora continuem a contar com apoio e experiência dos engenheiros espanhóis.

Soubemos, no entanto, que o empresário Adérito Areias pretende num futuro próximo avançar com a construção de uma segunda unidade, mais perto de Luanda, um mercado de maior consumo. O terreno, na zona dos Ramiros, já existe, e o financiamento também já foi aprovado. No entanto, por aconselhamento técnico, aguardará para avaliar o desempenho do primeiro projecto. A matéria-prima de base, o sal, não falta. A empresa não terá dificuldades em garantir o fornecimento de 25 a 30 toneladas por dia, nem de água, já que, tal como na Baía, o mar está próximo para assegurar a captação para ser tratada na própria unidade.

Mário Rui, representa a entidade proprietária e é apontado como o futuro director da fábrica. Homem de sete ofícios, tem as suas impressões digitais em vários projectos implementados em Benguela
Vista geral, a partir de cima, com a salina ao fundo.

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