AGT DIÁLOGO SEM ACÇÃO, ECONOMIA SEM ALÍVIO

SAMPAIO JÚNIOR

O governador de Benguela, Manuel Nunes Júnior, surgiu esta segunda-feira, 17, empunhando a voz doutoral de um catedrático da Faculdade de Economia da UAN, para anunciar um “diálogo estratégico” entre a AGT e os empresários, destinado, segundo proclama, a remover os “aspectos negativos” que gravitam a volta destes pilares do tão cobiçado ambiente de negócios. Com os habituais “panos mansos”, a 4.ª Região Tributária da AGT promete mais diálogo, mais aproximação, mais entendimento, mas nunca retira da cartola a solução que realmente desafunile a vida empresarial, já tão asfixiada que mal conserva ar de “saúde” para sobreviver à crise que a devora.

O descrédito desta gente principia quando insiste em bater no ceguinho leia-se, os empresários, enquanto o próprio Manuel Nunes Júnior, que já foi ministro da Coordenação Económica, regressa agora, nas vestes de governador provincial, a reiterar pedidos de diálogo, cumpre-se reconhecer também o seu papel de político. Contudo, este diálogo, tantas vezes anunciado, raramente passa da retórica e a economia, cansada de promessas, continua a definhar à espera de acções que nunca chegam.

O problema é que este tal diálogo não resgata economia alguma, quando, em boa verdade, deveria produzir resultados concretos em vez de palavras soporíferas. O sector empresarial debate-se há demasiado tempo, e os frutos são sempre os mesmos, magros, escassos e invariavelmente negativos.

Manuel Júnior reconheceu que a AGT pode ajudar a remover todos os constrangimentos que, do ponto de vista fiscal, dificultam as empresas que têm a árdua missão de produzir riqueza. O governador frisou, que os únicos produtores de riqueza nas sociedades são as famílias e as empresas.

“O Estado não produz riqueza, não produz bens e serviços, quem os produz são as empresas, e estas têm como fonte de recursos a mão de obra e o capital”, disse, como se estivesse a revelar ao mundo uma verdade inédita. Reconheceu ainda que, sem produção, sem valor acrescentado, o Estado não tem absolutamente nada o que, diga-se, o cidadão comum já sabia desde que aprendeu a multiplicar.

A reacção mais contundente veio do empresário Jorge Sá, que, na página oficial do Governo de Benguela, largou o verbo:

“Chegou a hora de dizer basta. Angola não pode continuar prisioneira de interesses restritos, de grupos escolhidos à porta fechada, enquanto a maioria do povo luta para sobreviver e construir um futuro digno. Palavras bonitas já não satisfazem, o país exige acção, coragem e mudanças reais.”

E prosseguiu ele, com a indignação dos que já perderam a paciência. “É urgente pôr termo ao sistema que beneficia sempre as mesmas empresas, as mesmas famílias, os mesmos círculos de influência, quando está provado que muitos destes privilegiados não trazem progresso algum. Angola pertence a todos os angolanos, não, a um grupo permanente de favorecidos. A oportunidade não pode ter dono”.

O empresário não parou por aí.

“Os bancos continuam a financiar os que há muito provaram má gestão, acumulam dívidas e não cumprem. E os jovens, que têm ideias brilhantes e vontade de trabalhar? Por que são ignorados? Quantos sonhos e empregos Angola perde todos os dias por causa desta injustiça”?

A AGT, que deveria ser instrumento de desenvolvimento, tornou-se para muitos um verdadeiro pesadelo. Em vez de fomentar crescimento, parece encontrar prazer mórbido em sufocar quem tenta produzir, gerar riqueza e pagar impostos. Não se constrói economia alguma perseguindo quem cria valor, mas esta lição, pelos vistos, ainda não chegou aos corredores onde se decide o destino de quem trabalha.

“É tempo de pensar angolano, criar angolano e governar angolano”, conclui Jorge Sá, recordando que, desde 1975 até aos anos 90, os empresários nacionais foram combatidos e quando o país finalmente encontrou um fio de abertura económica, emergiu um capitalismo selvagem que só permite a sobrevivência de uns poucos. “Isso não é desenvolvimento é estagnação mascarada” — disse.

Mas o desabafo termina com esperança:

“Não desistimos. O povo angolano já provou ser resistente, inteligente e trabalhador. A juventude tem sede de inovação, os verdadeiros empreendedores existem aos milhares, só precisam que lhes abram o caminho, não que lhes cortem as pernas. É tempo de romper o ciclo de favoritismos. É tempo de transparência. É tempo de justiça económica. É tempo de libertar o potencial do povo angolano.”

Eis, pois, o grito de alma de um empresário que, como tantos outros, já não se satisfaz com discursos lapidados a ouro, mas com acções que, essas, sim, continuam por nascer.

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