PRIMEIRO QUE AGRADAR ESTRANGEIROS A PRIORIDADE DEVERIA RECAIR SOBRE OS ANGOLANOS

POR RAMIRO ALEIXO

Por esta altura, o Presidente João Lourenço deve estar sob efeito de calmantes, incapaz de disfarçar o seu desconforto. Tal a raiva que deverá sentir por acção e graça do empresário Sílvio Madaleno, que ‘sabotou’ os seus intentos de impressionar tão distintos convidados e visitantes europeus e africanos, que já se encontram em Luanda, após terem passado também americanos.

Apesar do seu envolvimento directo e do ‘bar’ aberto nas finanças públicas em detrimento de outras necessidades ingentes do País, disponibilizando cerca de 600 milhões de dólares para a construção do Centro de Convenções da Chicala, cujo objectivo era o de servir de palco para o show da realização da Cimeira União Europeia — África, contrapondo o seu ego narcisista, a obra (do Presidente da República) não foi concluída. E poderá gastar mais ainda alguns milhões.

Face esse incumprimento e como o dinheiro sai dos cofres do Estado sem consulta nem autorização do seu “patrão”, quando percebeu que o show sairia furado, com os seus auxiliares, inventaram a necessidade da construção da sala protocolar recentemente inaugurada, na área adjacente ao Memorial Agostinho Neto. Outra obra que, pela urgência e rapidez com que foi executada, diz-se que em 18 meses (a sua implantação levou cerca de 5 meses), sabe-se que poderá ter custado muitos tantos milhões de dólares do erário. Com outros complementos, supomos que a execução das duas possa totalizar os quase mil milhões de dólares, no País que tem milhares dos seus cidadãos a sobreviver comendo do lixo, que gostariam que o seu Presidente da República tivesse a mesma empatia e disponibilidade, para acudir as mazelas dos mais carenciados, como tem para “projectar Angola no mundo”.

Analisando todos esses excessos cometidos sobretudo neste ano dos 50, é inevitável a pergunta: mas que Presidente da República temos, que gasta tantos, elevados e custosos recursos públicos para se exibir ao mundo, oferecendo do melhor, desde a acomodação aos vinhos, whiskeys e conhaques em banquetes a quem até não precisa, sem seguir regras de transparência e das exigências estabelecidas pela Lei e normas da gestão dos recursos públicos? É que tem sido um sacar, sacar, sacar, sacar como se os recursos fossem infindáveis, quando há crianças sem salas de aulas, não há comida nos quartéis, nem medicamentos nos hospitais e postos médicos, estradas esburacadas e bairros intransitáveis que chega a indiciar níveis altíssimos de insanidade moral, ética e mental.

Outra pergunta que não nos escapa, tendo em conta o seu percurso até chegar à Presidência da República, é qual seria a situação financeira dos empreendimentos privados que detém e disse publicamente, designadamente da sua fazenda, para onde se deslocava de automóvel antes do raiar do sol, enquanto os jovens saiam da desbunda (como afirmou), se elas fossem geridas nesse modelo do saca, saca, saca, saca como faz com o dinheiro que pertence ao Estado? 

E nessa história, como fica agora a responsabilização do empreiteiro Sílvio Madaleno, que pelos seus incumprimentos, obrigou o Estado, por via do Presidente da República, a gastos complementares com a construção de mais uma sala protocolar, que tal como o Centro de Convenções da Chicala, serão tuteladas pela Presidência da República que se assume assim no mercado, despudoradamente, como a mais recente entidade de investimentos imobiliários concorrente do sector privado, sem respaldo da Assembleia Nacional?

O que será mais que provável, é que tudo continuará numa boa, entre bons amigos, até porque o Presidente da República e sua família beneficiam, entrementes, para recreio, dos serviços dos barcos de Sílvio Madaleno, ‘kilapados’ no falecido BESA-Angola (com fuga ao fisco), pagos também com o nosso dinheiro. Relação inconcebível quando se tem integridade, institucional no caso, mas aceitável em Angola, e por alguém que se propôs combater a corrupção. Alguém que disse um dia, que “ninguém é tão pobre que não mereça ser protegido, nem tão rico que não possa ser julgado”. Alguém, investido como Titular do Poder Executivo que deveria dar exemplos de elevação, mas que, entretanto, não se sente obrigado a prestar contas públicas do que gasta e como gasta?

Para quem tinha fama de parcimónia na gestão do que é seu, fica difícil entender a forma como gere e desfruta do que é do Estado (seu patrão, como disse), como se esse Estado estive ao ‘leu’. Não acredito, sério mesmo que não, que nesse parte e reparte dos 600 milhões de dólares empatados na construção do Centro de Convenções da Chicala, Sílvio Madaleno seja o único ‘comilão’ da melhor parte. Fosse isso, não estaria a contar com tanta condescendência, que parece cumplicidade. Pode estar a ser apenas a ponta de outra história que um dia se saberá o enredo.

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