
Adão Francisco Correia de Almeida foi eleito, na manhã desta segunda-feira, novo presidente da Assembleia Nacional. A sua eleição com 198 votos a favor, zero contra e nenhuma abstenção, constitui episódio raro na política, unanimidade quase bíblica, daqueles momentos em que até o silêncio votou. Tal resultado, para muitos observadores, revela não somente consenso parlamentar, mas também um certo perfume de “potencial presidencial” a pairar sobre os próximos pleitos eleitorais.
Diz-se ainda, nos corredores e nos murmúrios bem informados, que o antigo ministro de Estado influenciou a indicação de Dionísio Manuel da Fonseca ao cargo de ministro de Estado e chefe da Casa Civil do Presidente da República, e de Daniel Félix Neto como novo ministro da Administração do Território. Trocas de cadeirões, mas, feitas com a delicadeza coreográfica que a política angolana, por vezes, oferece.
Resta saber se Angola vai ou não ainda a tempo de realizar as muito aguardadas eleições autárquicas. Sobre esta matéria, Adão de Almeida tem, por assim dizer, as “impressões digitais” em toda a arquitectura jurídico-política da Lei Orgânica das Eleições Autárquicas, razão pela qual se espera que coloque o seu engenho e um pouco de arte ao serviço da sua aprovação. Afinal, as autarquias podem aproximar o poder das populações e agilizar a resolução dos problemas locais.
Pelas minhas leituras, Adão de Almeida enquadra-se bem na categoria dos chamados “Jovens Turcos” da política nacional, com condições para aprofundar reformas democráticas e recolocar sobre os carris a tão debatida Lei Orgânica das Eleições Autárquicas.
O ministro do Interior, Manuel Homem, não perdeu tempo e tratou de publicar uma mensagem laudatória digna de álbum de honra. Escreveu ele: “A tua assumpção ao cargo de Presidente da Assembleia Nacional, é um momento marcante para Angola e um sinal claro de que a nossa geração está preparada para assumir, com responsabilidade e inteligência, os grandes desafios do Estado. Tens demonstrado, ao longo da sua trajectória, o capital político, intelectual e a maturidade institucional que os cargos exigiam e, neste, certamente não será diferente. A tua eleição, hoje, pelos Deputados, depois da aprovação, pelo nosso Bureau Político, da indicação do Camarada Presidente João Lourenço, inspira os jovens, reafirma o mérito e prova que a competência e a dedicação continuam a abrir portas no nosso País. Celebro contigo esta conquista e reafirmo o meu total apoio a esta nova missão. Que o patriotismo, a unidade e o compromisso com o nosso País continuem a guiar os teus passos. Parabéns, Excelência Presidente da Assembleia Nacional. Conta com o nosso respeito, confiança e apoio”!
Uma ode digna de enquadramento dourado. Só faltou ao ministro acrescentar, com a mesma solenidade: “Ah, e o cadeirão da Cidade Alta já está a ser espanado à tua espera, jovem Adão”.
Mas, talvez tenha preferido guardar essa parte para conversas mais reservadas.
Certamente o general Fernando Garcia Miala também terá felicitado ainda que sem publicação nas redes sociais, por razões que dispensam explicações. O general deve estar satisfeito com a ascensão do seu pupilo, e a nova geração, quase toda abaixo dos cinquenta, vai-se aproximando dos comandos centrais do aparelho de Estado. Dizem, em jeito de brincadeira, que poderá até ser o Manuel Homem quem, numa nova aurora política, assumirá as rédeas dos serviços secretos. Em Angola, os tabuleiros movem-se depressa, ainda que o público aceda apenas a metade das jogadas.
Já Graça Campos, fiel à sua pena afiada, não deixou passar a ocasião sem deixar uma alfinetada: “Se depender exclusivamente do novo chefe do poder legislativo, as autarquias são para esquecer definitivamente”. A declaração faz referência às palavras do jovem Adão, num passado não tão distante, segundo as quais “as pessoas em ambiente rural têm muito receio da realidade autárquica”.










