
RECADOS DA CESALTINA ABREU
Nesta imagem, os termos “presente” e “futuro” em justaposição, formam uma antítese. Existe, ainda, um trocadilho com a palavra “presente”, que tanto pode significar ‘não querer presentes físicos, prendas, dádivas’, quanto designar a aspiração a uma vida melhor, com qualidade. Pode, ainda, significar a rejeição do tempo presente, porque não está bom, e o desejo de um ‘por vir’, ainda não vivido, o futuro, e a expectativa, carregada de esperança, de que seja melhor.
Existe nesta imagem uma simbologia fortíssima: a criança como uma projeção de futuro. Serão as crianças de hoje a herdar o ‘presente’ e que poderão, com as suas experiências, aprendizagens e acções, moldar um futuro melhor. Para além das ideias de esperança e de potencial para um mundo melhor, em si, importa salientar que a sua concretização implica a preparação dessas ‘crianças de hoje’ para esse futuro melhor que, pelo menos teoricamente, todos dizemos desejar. Estamos a falar de condição e qualidade de vida dignas para as famílias em que essas crianças nascem, de educação pública de qualidade, saúde de proximidade, alimentação saudável, ambiente são, oportunidades de desenvolver as suas capacidades e habilidades no desporto, nas artes, ‘poder ser criança’ em pleno e desenvolver o seu capital humano (o que não se resume a declarações, mas precisa de acções e intencionalidade para acontecer). Acima de tudo, da formação de cidadãos/cidadãs conscientes e capazes de enfrentar os desafios do amanhã.
Não podemos esquecer o sentido crítico desta frase, apelando à necessidade de diagnosticar as real(i)dades que nos cercam, marcadas por gritantes desigualdades em todas as dimensões em que as analisemos. Para além de alertar para a necessidade de construir uma ponte entre presente e futuro – o equilíbrio entre viver o presente com atenção sem perder de vista os objectivos futuros –, num apelo à ideia de sustentabilidade, nesta frase está subsumida, ainda, a ideia de justiça social, indicando o movimento em direcção a um mundo socialmente mais justo, como tantas vezes tenho defendido!
Filosoficamente, essa ideia pode ser interpretada como um anseio pelo projecto de vida, algo que Jean Paul Sartre e outros filósofos existencialistas destacaram como fundamental para compreender a existência humana. Søren Kierkegaard (que já citei diversas vezes) chamava a atenção para a importância de estarmos conscientes do ‘agora’ enquanto planeamos ‘o futuro’. Almejar o futuro implica o reconhecimento do poder que temos de alterar o nosso ‘destino’, e de criar real(i)dades através das nossas decisões e acções presentes.
Pensar no presente envolve uma reflexão sobre as nossas escolhas actuais e as suas possíveis repercussões futuras, o que pressupõe a necessidade de decisões conscientes e informadas, com base na identificação dos desafios presentes e na avaliação das nossas capacidades e recursos. Pensar no futuro não é fazer previsões aleatórias. Implica desenvolver um pensamento estratégico, ou seja, ampliar o campo de visão e olhar para além dos factos, ou dos problemas em si, através de análises e dados confiáveis. E ter a coragem de fazer o que é preciso, em função dos resultados dos estudos e análises interdisciplinares. Interculturais e de sustentabilidade.
Saúde, cuidados e coragem neste domingo para criar as condições para promover um futuro humanamente digno, economicamente viável e ambientalmente sustentável.
Kandando daqui!
