
Quem acompanha o quadro dantesco que se vive nesta fase de inscrições para matrícula de alunos para os mais diversos cursos e modalidades de ensino médio, percebe uma total despreocupação de quem de direito, em mitigar um problema e diria mesmo, uma insuficiência antiga que apenas persiste por falta de compromisso político e ético de quem deve resolvê-lo, e da qual com alguma vontade patriótica poder-se-ia, sim, minimizar-se dando alguma oportunidade para que o sentimento de descrença da população ao Governo não se eleve e não prejudique a imagem do partido dirigente.
Quando em pleno quadro de pressão social decorrente do desemprego, da fome, do impacto do aumento do preço do gasóleo, da vandalização de lojas e de outros bens públicos e privados, tomamos conhecimento do comunicado dos ministérios da Saúde e da Educação, cancelando a admissão de alunos em todas as instituições de formação média de Saúde de tutela privadas, sem bases justificativas sérias e cientificamente confirmadas, privando assim os jovens do elementar direito de “pelo menos, estudarem” ainda que sem garantia de emprego – direito que cabe ao mercado!
Quando perante uma dramática exiguidade de escolas públicas de todos os níveis, o Ministério da Educação introduz a obrigatoriedade de provas nacionais em ambiente descontextualizado para acesso ao ensino médio a jovens de 13 a 17 anos, em vez de trabalhar-se antes no aumento da rede e na mobilização de recursos financeiros e de vontades do sector empresarial público e privado, da comunidade e até das igrejas, para se encontrar soluções alternativas, para mitigar o problema de infraestruturas e atender um direito constitucional das pessoas e designadamente dos jovens!
Quando a esta medida de “per si” errática e anti-patriótica, se associa a definição da nota exclusivamente positiva (10 valores) no mínimo, para eventual admissão, fazendo que, independentemente de haver vagas, apenas se admita quem tenha obtido nota 10;
Quando, para agravar o sofrimento dos encarregados da educação e dos jovens, o Ministério da Educação estabelece um calendário de prova única de acesso e em data única para todas, eliminando qualquer possibilidade de recurso face aos imprevistos;
Quando se prorrogam datas de inscrições para acesso ao ensino médio, num momento de déficit de vagas em todas as escolas por insuficiência de infraestruturas escolares;
Dá vontade de perguntar: De que país são as ministras da Educação e da Saúde? De qual Constituição prestaram juramento?
Que credibilidade buscam para o governo e o partido do qual são membros, ante o quadro quase pré-eleitoral que se vive em Angola?
Que Angola e que população pretende deixar, quando terminarem as suas carreiras?
O que os pais e encarregados de educação destes adolescentes de 12/17 anos, farão com os filhos que concluíram o ensino básico em escolas públicas (alguns com notas excelentes), mas agora impedidos de continuar os seus estudos, por incapacidade de imaginação e solução de quem jurou defender, proteger e realizar os seus direitos?