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Circulam nas redes sociais fotografias que retratam a inauguração com pompa e circunstância da Administração de Sacandica, município de Maquela do Zombo, província do Uige, pela vice-governadora da referida província, Sónia Arlete. Já perguntei se seriam “fake news”, mas asseguram-me que são verídicas. Sinceramente é preciso ter coragem, se compararmos essas fotografias e a referida notícia, com outra actual, que dá conta de que serão disponibilizadas mais 7 milhões de dólares, para aquisição de viaturas para os magistrados.
Até quando esse despesismo luxuoso para uns e a degradação e lixo para outros?
Não é por Sacandica ser a terra da minha mãe e de toda a minha ascendência do lado da minha avó materna, mas porque lutamos para o bem estar social de todos, como é óbvio, mediante o seu escalão social. Tal como em toda a província do Uige, em Sacandica fala-se kikongo. Infelizmente agora, o que mais se fala lá é o lingala. Sacandica está apenas a servir de uma das portas de entrada, aos cidadãos da RDC. Esses cidadãos estrangeiros, (até recentemente denominados zairenses, para os distinguir dos congoleses de Brazzaville), a partir de Sacandica, migram para as restantes províncias de Angola, com destaque das províncias da Lunda Norte, Lunda Sul, Bié e Huambo, por causa do garimpo dos diamantes, de Cabinda por causa do ouro e da capital, por causa do comércio .
Os conterrâneos da minha mãe, nomeadamente o velho Lanvu Emanuel Norman, o Ambrósio Lukoky, o Mawete João Baptista (graças a Deus está vivo), entre outros, desde os primeiros dias, estavam sempre na nossa casa, onde foram sempre todos muito bem acolhidos. O velho Lanvu, compadre da minha mãe, apresentou-nos todos os bakongos cujos pais (pai ou mãe), eram oriundos da província do Uige, nascidos no ex-Zaire (RDC), que regressaram ao país, que na altura não eram muitos. Jean Ngingilu Daves, de quem fui chefe no Ministério da Indústria, também me disse que era dos arredores de Sacandica. Tanto o meu grande amigo Lukoki, como o Daves foram enterrados na sua aldeia.
Mas sempre que olho para essas fotografias fico incrédula, porque gostaria de ver para crer, ou então de ler um desmentido do Ministério da Administração do Território. Todavia, a ser verdade que inauguraram a Administração de Sacandica numa casa velha, bem encardida, é realmente inacreditável, diria espantosoe intolerável.
Depois, querem que nos mantenhamos quietinhos, calados e de preferência com um sorriso de boa disposição, de cabeça vergada e a olhar para o chão.
Hoje há quem diga, que expressar ou dizer a verdade pode ser crime e mentir, sendo mais simpático, é aceitável. Como referi, não fico triste só por ser terra dos meus antepassados. Fico também envergonhada, porque a ser verdade, é uma vergonha nacional. Se não podem, ou não sabem, não se metam a desorganizar mais.
Aliás, o país estando todo assim, será difícil quererem calar quem é objectivo e critica, dando até soluções. O principal problema, é que os líderes para mandar e saberem se está bem feito, têm de saber fazer. A maioria dos líderes angolanos estão atrasados em termos de mentalidade. Circula na imprensa privada, que o número de angolanos que emigraram a partir de 2018, (só os que saíram de avião), são cerca de 4 milhões.
Por favor, vamos corrigir o que está mal, em vez de nos enervarmos com quem diz a verdade e piorarmos o que já estava bem. O combate a corrupção, foi uma proposta iniciada pelo Presidente José Eduardo dos Santos, para a campanha do Presidente João Lourenço. No tempo dele, também já houve combate a corrupção na SONANGOL, na TAAG, na AGT, nos SME, etc…, mas estava mal rodeado. Ele remava para frente, outros remavam para trás. A maioria dos que trabalharam mal, continuam no novo Executivo.
Já que gostam de copiar a legislação portuguesa e de lá vem grande parte dos consultores para tudo, sigam também o exemplo de Portugal em termos de ética profissional. Quando encontraram 75.800,00 euros numa gaveta do chefe de Gabinete do primeiro-ministro António Costa, ele pediu de imediato a sua demissão, possivelmente para não o acusarem de interferência no processo .
Em Angola, por exemplo fazem e desfazem na AGT, e ainda não foram exonerados nem a ministra das Finanças, nem todo o Conselho de Administração, já que eles possivelmente por inexperiência, não arredam o pé por si sós. O mesmo sucedeu no caso Lussaty, em que exoneraram uns e ficaram outros, etc…. Com mágoa, verifico, que apenas se pretende cansar-nos. Como quem diz: – “Quem está mal mude-se” (que se vá). Quem não consegue visto, ou não tem dinheiro nem para o candongueiro (táxi), que morra ou que se mate. Não pode ser. Com muita mágoa verifico , o que apenas pretendem é atirar-nos areia nos olhos.
Assim está mesmo bom?
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