ÁFRICA VS EURÁSIA

POR JOAQUIM SEQUEIRA

O planeta Terra está dividido em grandes porções de terra firme conhecidas como continentes, que representam as principais unidades geográficas e naturais da superfície terrestre. Cada continente apresenta características próprias quanto à sua extensão, estrutura geológica, diversidade climática, biológica e humana. Tradicionalmente, o mundo é dividido em seis ou sete continentes, conforme o critério adoptado. Entretanto, sob uma análise geográfica e geológica mais rigorosa, Europa e Ásia não constituem continentes distintos, mas sim subcontinentes de um mesmo bloco continental, a Eurásia, uma vez que se situam sobre a mesma placa tectónica e não possuem fronteiras naturais expressivas que as separem.

A África, por sua vez, destaca-se por ser o segundo maior continente do planeta, tanto em extensão territorial quanto em riqueza natural, abrigando vastos recursos minerais, energéticos e ambientais essenciais ao equilíbrio e ao desenvolvimento global. Já a Eurásia, o maior bloco continental da Terra, reúne grande diversidade cultural, histórica e económica, concentrando as maiores populações e potências mundiais. Assim, a análise comparativa entre África e Eurásia, considerando a Europa e a Ásia em particular, permite compreender não apenas as dimensões físicas e demográficas destes territórios, mas também as suas inter-relações geopolíticas, económicas e culturais no cenário global.

O que é um continente

Um continente é uma grande extensão contínua de terra firme, delimitada geralmente por oceanos, mares ou outros acidentes geográficos naturais. É uma das maiores divisões da superfície terrestre.

Características principais de um continente:

  1. Grande extensão territorial – são as maiores porções de terra do planeta, muito maiores que ilhas.
  2. Delimitação natural – são separados principalmente por oceanos, mares, montanhas ou desertos extensos.
  3. Diversidade natural – cada continente possui variedade de climas, relevos, biomas (regiões formadas por grandes comunidades de plantas e de animais que convivem entre si de modo equilibrado e estável) e recursos naturais.
  4. Diversidade cultural e populacional – abrigam diferentes povos, línguas, religiões e formas de organização social.
  5. Unidade geográfica e geológica – geralmente formadas por antigas placas tectónicas (como a Placa Eurasiática, Africana, Sul-Americana etc.).
  6. Número de continentes – a quantidade varia conforme o critério adoptado:
  • Modelo tradicional, político e fake (7 continentes): Ásia, África, América do Norte, América do Sul, Europa, Oceania e Antártida.
  • Modelo de 6 continentes (Europa + Ásia = Eurásia): Ásia, África, América do Norte, América do Sul, Oceania e Antártida.

Europa e Ásia são subcontinentes da Eurásia

  1. Critério geológico: mesma placa tectónica
  • Tanto a Europa quanto a Ásia estão sobre a mesma placa tectónica, chamada Placa Eurasiática.
  • Isto significa que não há uma separação física ou natural profunda entre a Europa e a Ásia (como ocorre, por exemplo, entre a África e a América, separadas pelo Atlântico).
  • Portanto, do ponto de vista da geologia e da geografia física, elas formam um único continente: a Eurásia.

2. Limite artificial

  • A divisão entre a Europa e a Ásia foi criada por convenção política, histórica e cultural, não por razões naturais.
  • Costuma traçar-se a linha ao longo dos Montes Urais, do Rio Ural, do Mar Cáspio, do Cáucaso e do Mar Negro, mas estes limites não são barreiras naturais significativas.
  • Ou seja, é uma fronteira simbólica, usada por razões históricas, políticas e culturais (por exemplo, para distinguir o “Ocidente” do “Oriente”).

3. Critério histórico-político e cultural

  • A noção de Europa como continente vem da Antiguidade Clássica (gregos e romanos), que distinguiam Europa, Ásia e África por motivos culturais e políticos, não geográficos.
  • Assim, a separação persistiu por tradição, mesmo sem base geográfica sólida.

4. Conclusão

De acordo com a geografia, Eurásia é um único continente, e a Europa e a Ásia são subcontinentes, ou grandes regiões de um mesmo bloco continental.

Área e população

Europa

A Europa tem uma área total aproximada de 10,18 milhões de quilómetros quadrados (km²).

Resumidamente, eis os seus dados principais:

  • Área: ~10.180.000 km²
  • Percentagem da superfície terrestre: cerca de 6,8% das terras emersas do planeta
  • População (estimada em 2025): ~750 milhões de habitantes
  • Extensão Este-oeste: do Cabo da Roca (Portugal) até aos Montes Urais (Rússia)
  • Extensão Norte-sul: do Cabo Norte (Noruega) até à ilha de Creta (Grécia)

Ásia

A Ásia é o maior continente do planeta, com uma área total aproximada de 44,58 milhões de quilómetros quadrados (km²).

Resumindo os dados principais:

  • Área: ~44.580.000 km²
  • Percentagem da superfície terrestre: cerca de 30% das terras emersas do planeta
  • População (estimada em 2025): aproximadamente 4,8 mil milhões de habitantes (quase 60% da população mundial)
  • Extensão Este-oeste: do Mar Negro e Montes Urais (Rússia) até ao Oceano Pacífico
  • Extensão Norte-sul: do Oceano Ártico até ao Oceano Índico

África

A África tem uma área total de aproximadamente 30,37 milhões de quilómetros quadrados (km²), sendo o segundo maior continente do planeta, atrás apenas da Ásia.

Resumo dos dados principais:

  • Área: ~30.370.000 km²
  • Percentagem das terras emersas: cerca de 20% da superfície terrestre total
  • População (estimada em 2025): cerca de 1,5 mil milhões de habitantes
  • Extensão Norte-sul: do Mar Mediterrâneo (Tunísia) até o Cabo das Agulhas (África do Sul) – aproximadamente 8.000 km
  • Extensão Este-oeste: de Cabo Verde até ao Cabo Guardafui (Somália) – cerca de 7.400 km

Quadro comparativo das áreas dos três continentes – Ásia, África e Europa – com base em dados de fontes internacionais (ONU, Britannica e World Atlas):

Comparação de áreas continentais

Análise comparativa

  • A Ásia é quase 4,4 vezes maior que a Europa.
  • A África é cerca de 3 vezes maior que a Europa.
  • Somadas, Ásia + Europa = Eurásia, com uma área total de aproximadamente 54,76 milhões de km², representando mais de 36% das terras emersas do planeta.

África e o mundo

A África é o continente mais rico em recursos naturais essenciais ao funcionamento e desenvolvimento do mundo moderno, mas historicamente tem sido explorada e desvalorizada.

De forma fundamentada podemos dizer:

  1. África: o continente mais rico em recursos naturais

A África possui:

  • 40% das reservas mundiais de ouro e grandes minas de diamantes, platina e cobalto.
  • 60% das terras aráveis não cultivadas do planeta, vitais para a segurança alimentar global.
  • Grandes reservas de petróleo, gás natural, cobre, lítio, manganês e coltan, este último usado em smartphones e baterias.
  • Imensa biodiversidade, com potencial farmacêutico e ecológico.

2. Por que a África é desvalorizada (ou explorada)

Apesar das riquezas descritas, África é normalmente tratada como fonte de matérias-primas baratas, e não como parceira de desenvolvimento. Os principais motivos são:

a) Herança do colonialismo

  • Durante séculos, as potências europeias exploraram o continente, extraindo recursos e enfraquecendo as estruturas locais.
  • As fronteiras foram redesenhadas artificialmente, dividindo povos e culturas, o que causou instabilidade política.

b) Economia dependente da exportação de matérias-primas

  • Muitos países africanos ainda exportam produtos brutos (como minérios e petróleo) e importam produtos industrializados, o que gera baixo valor agregado e impede o desenvolvimento.
  • Isto perpetua um modelo de dependência económica em relação às potências e multinacionais estrangeiras.

c) Interferência externa e exploração contemporânea

  • Países que tiveram colónias ou têm neocolónias (como EUA, França e Inglaterra) investem fortemente em África, mas normalmente com acordos desiguais, garantindo acesso a recursos em troca de infra-estruturas ou empréstimos.
  • Esse fenómeno é intrínseco ao neocolonialismo económico.

d) Desinformação e estereótipos

  • A África é frequentemente retratada na comunicação social global apenas por problemas (pobreza, guerras, fome), o que ofusca o seu real potencial.
  • Isto reforça a visão de que o continente é “carente”, quando na verdade é estrategicamente indispensável ao planeta.

3. O paradoxo africano

A África é o continente mais rico em recursos, mas mais pobre em rendimento per capita. Isto acontece porque a riqueza é extraída e exportada, sem gerar desenvolvimento interno proporcional.

O resultado é o chamado “paradoxo da abundância”: países ricos em recursos naturais tendem a desenvolver-se menos quando não controlam os seus próprios recursos.

4. Caminhos para a valorização

Para mudar este cenário, estudiosos locais e entidades internacionais apontam:

  • Industrialização local e tecnologia africana própria.
  • Integração regional, com fortalecimento da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), da União Africana (UA) e do Acordo de Livre Comércio Continental Africano (AfCFTA).
  • Controlo soberano sobre os recursos naturais e acordos mais justos (win-win) com potências estrangeiras.
  • Educação, ciência e inovação como motores da independência económica, com a consequente implementação de políticas públicas condizentes com o desenvolvimento.

Quadro com os principais recursos africanos por país

Os dados vêm de fontes oficiais e reconhecidas: Banco Mundial (World Bank), US Geological Survey (USGS), ONU (UNCTAD, UNEP) e African Natural Resources Centre (AfDB).

Principais Recursos Naturais de África (por país):

Conclusão

A análise dos continentes, suas características e dimensões evidencia que a divisão do globo terrestre é resultado não apenas de critérios geográficos, mas também de construções históricas e culturais. A compreensão de que Europa e Ásia integram um mesmo bloco continental, a Eurásia, reforça a importância de critérios científicos, como os geológicos e tectónicos, na definição das grandes unidades da Terra. Esta perspectiva permite reconhecer que a distinção entre os dois subcontinentes é, em grande medida, simbólica, reflectindo heranças históricas e políticas mais do que fronteiras naturais reais.

Por outro lado, a África destaca-se como um continente de imensa relevância global, tanto pelo seu tamanho quanto pela sua extraordinária abundância de recursos naturais estratégicos, fundamentais para o desenvolvimento tecnológico, energético e económico mundial. Entretanto, estas riquezas contrastam com os desafios socioeconómicos e políticos que o continente ainda enfrenta, consequência de um longo histórico de exploração e desigualdade internacional.

Assim, o estudo comparativo entre África e Eurásia evidencia não apenas as diferenças físicas e estruturais entre estes grandes blocos continentais, mas também a necessidade de uma reflexão mais ampla sobre o papel de cada um no equilíbrio planetário, na cooperação global e na busca por um desenvolvimento mais justo e sustentável.

Fontes

  1. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (https://www.ibge.gov.br)
  2. Britannica, “Continent” (https://www.britannica.com/place/continent)
  3. Enciclopédia Escolar Geográfica (UFMG) (https://enciclopediaescolar.geografia.ufmg.br)
  4. Encyclopaedia Britannica – “Eurasia” (https://www.britannica.com/place/Eurasia)
  5. National Geographic Education – “Eurasia” (https://education.nationalgeographic.org/resource/eurasia/)
  6. Instituto de Geociências da USP — “Continentes e Placas Tectónicas” (https://www.igc.usp.br)
  7. United Nations Statistics Division (UNSD) (https://unstats.un.org)
  8. Encyclopaedia Britannica – Europe (https://www.britannica.com/place/Europe)
  9. World Bank – Data by Region (Europe) (https://data.worldbank.org/region/europe-and-central-asia)
  10. United Nations Statistics Division (UNSD) (https://unstats.un.org)
  11. Encyclopaedia Britannica – Asia (https://www.britannica.com/place/Asia)
  12. World Atlas – Area of Asia (https://www.worldatlas.com/articles/how-big-is-asia.html)
  13. Encyclopaedia Britannica – Africa (https://www.britannica.com/place/Africa)
  14. World Bank – Data by Region (Sub-Saharan Africa) (https://data.worldbank.org/region/sub-saharan-africa)
  15. World Atlas – Area of Africa (https://www.worldatlas.com/articles/how-big-is-africa.html)
  16. Encyclopaedia Britannica (https://www.britannica.com)
  17. World Atlas – Continents by Size (https://www.worldatlas.com/articles/the-largest-continents.html)
  18. World Bank – Data by Region [https://data.worldbank.org](https://data.worldbank.org)
  19. United Nations Environment Programme (UNEP) (https://www.unep.org)
  20. World Bank – Africa’s Natural Resources (https://www.worldbank.org/en/topic/natural-resources-management)
  21. UNDP – African Human Development Report 2023 (https://hdr.undp.org)
  22. The Economist – The Resource Curse in Africa (https://www.economist.com)
  23. Collier, Paul. The Political Economy of África. Oxford University Press, 2022)
  24. World Bank – Africa’s Natural Resources Management [https://www.worldbank.org](https://www.worldbank.org)
  25. United Nations Conference on Trade and Development (UNCTAD) – Economic Development in Africa Report 2023 (https://unctad.org)
  26. US Geological Survey (USGS) – Mineral Commodity Summaries 2024 (https://www.usgs.gov)
  27. African Development Bank – African Natural Resources Centre (https://www.afdb.org)

Fonte adicional


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