A AGENDA MACABRA DO GENERAL FERNANDO GARCIA MIALA

O Presidente João Lourenço não dispõe de capacidade, para compreender que o actual Chefe do SINSE, está ao serviço da sua agenda pessoal.

POR MIGUEL ÂNGELO

Recebi, de dois amigos, a mensagem de que indivíduos às ordens do General Fernando Garcia Miala, associam os escritos de um indivíduo sem rosto, que se identifica com o nome de Fernando Norton de Matos, a mim, Miguel Ângelo. Inicialmente, ri-me a perder, pensando que temos realmente nas nossas instituições do Estado, muita gente, não apenas incompetente, mas demente mesmo. 

Mas, de repente, pus-me a pensar: a primeira vez que recebi, de um primo que reside na Inglaterra, um texto sem identificação de alguém que dizia escrever a partir da Alemanha, elogiando, o meu livro “Angola na Era da Pós-verdade”, e manifestando interesse em conhecer-me, pus todos os meus sentidos em estado de alerta, desconfiando que se podia tratar de uma armadilha, para me atrair. Mas, o texto não estava identificado. 

Poucos dias depois, recebi, do mesmo primo, outro texto, assinado com o nome de Fernando Norton de Matos, como residente na Alemanha, cidade de Berlim. Os meus alertas aumentaram. Parecia uma forma de despistar. E, como se não bastasse, não podia ser só uma coincidência de Fernandos: um, Garcia Miala, e outro, Norton de Matos – e, ambos com três nomes. 

Comecei a falar com algumas pessoas, para a eventualidade de saber se alguém conhecia, mas ninguém disse que sabia de quem se tratava. Até que depois, o meu amigo Frei Hangalo a quem também procurei ter informação sobre o indivíduo disse-me, que não conhecia, mas o nome era de uma influente família do centro de Angola: Huambo. O amigo Frei Hangalo disse-me, mais tarde também, que em conversa com o José Gama, este disse-lhe que era uma figura conhecida pelas suas intervenções de há algum tempo. O Gama confirmou-me depois que não conhecia, mas há um tempo para lá, lia alguns comentários que circulavam com o seu nome pelo Facebook. 

Um colega do SINSE, também me teria dito que era uma figura conhecida, mas que era a primeira vez que tinha acesso aos seus escritos. Ora, decidi, então, fazer buscas nas redes sociais, e deparei-me com um texto no Facebook que falava de Pedro Norton de Matos. Fui a Google, e encontrei salvo o erro, uma instituição de caridade no Porto, denominada, Fernando Norton de Matos. Mas não devia ser o nome de um indivíduo que mais tarde apresentou-se como um homem de 74 anos de idade. 

Bem, os seus textos, a medida que iam surgindo e com ampla disseminação nas redes sociais, pareciam distanciar-se de um indivíduo imbuído de más intenções. Tentei ficar mais tranquilo, mas, insistindo em ir atrás, para descobrir de quem realmente se tratava. E, não consegui. Desisti de pensar no indivíduo. 

Qual foi o meu espanto? Domingo 16 de Março, num dia em que praticamente tive o telemóvel desligado em consequência de uma falha de energia, tão logo restabeleceu e meti o telemóvel a carregar, comecei a receber mensagens, e entre elas, um novo texto de Norton de Matos, mas dois dos amigos de quem recebi o texto, davam-me nota que as milícias do General Fernando Miala, atribuíam-me, a autoria dos textos. Antes, pareceu-me engraçado. E ri-me! Por acaso, depois verifiquei e era um texto que eu tinha já recebido do mesmo. 

O que antes me pareceu engraçado e uma gritante falta de competência, voltou a ser motivo da preocupação que já tinha antes. Fiquei com a pulga atrás da orelha. Os textos de Fernando Norton de Matos, apelam a reacções das instituições, mas como sabemos, mais parecem um exercício de charme, porque acredito que seja uma pessoa plenamente consciente de que o temido General Miala, nunca será tocado. Contudo, coincidência ou não, parece que de alguma forma, a sua aparição (de Norton de Matos), se for alguém instrumentalizado do bando do General Miala, causou também, algum efeito inverso, talvez inesperado e, foi com a sua disseminação (dos seus textos) que fui contactado pelo jornalista Álvaro Andrade, da Voz da América, para uma breve conversa, no seu programa Washington Fora d’Horas. 

O que é certo é que eu nunca precisei de me escudar em nenhum pseudónimo, para emitir as minhas opiniões. O que eu escrevo, mesmo sem regularidade, publico, no meu perfil do Facebook, onde estou bem identificado. Recentemente, escrevi dois textos publicados no site Kesongo, a meu pedido. Lá estou eu com cara e nome próprio. 

Algumas coisas escritas por Norton de Matos, foram de uma dramatização sem limites. Eu nunca escreveria tão dramaticamente sobre qualquer situação a meu respeito. O meu livro é prova disso, não precisei de escape, em nome fictício. 

Outrossim, por exemplo, se o jornalista Reginaldo Silva não fosse uma figura bastante conhecida, talvez também o associassem a mim e, convém aqui dizer que não fui eu que pedi ao Reginaldo Silva para que escrevesse alguma coisa sobre os meus livros. Em nenhum momento sequer, o Reginaldo falou comigo, e, se quisesse o teria feito porque tem como chegar a mim. A informação que o Reginaldo buscou a meu respeito está no Facebook. No entanto, devo dizer, que se o Reginaldo me tivesse contactado antes de escrever, eu não estaria de acordo com o que diz ser uma espécie de ruptura com o regime. Pelo contrário. 

Além do facto de pensar que o Serviço de Informações e Segurança do Estado (SINSE), é um órgão republicano e não ao serviço do “regime”, convém esclarecer que ainda que o serviço estivesse ao serviço do regime, a lógica nunca seria pautar por acções que mais parecem vir no sentido de capitular o próprio regime. 

Ora, o que deve ficar claro é que o actual Chefe do SINSE, Fernando Garcia Miala, não está ao serviço do regime, mas sim de uma agenda pessoal. O que parece difícil descortinar, é até que ponto o Presidente João Lourenço tem essa percepção. E, se tem e concorda, então, sabe do perigo que corre. A maioria das pessoas associa os excessos de Fernando Miala, ao Presidente da República, tal como no passado, se dizia que tudo que o General Miala fazia, era com o beneplácito do então Presidente Eduardo dos Santos. Como também, já se faziam cogitações de que o Presidente lhe estaria a treinar, para o suceder. Todas essas manobras faziam parte da sua agenda pessoal e, consta que foi isto que o levou a cair em desgraça. O Presidente José Eduardo dos Santos, percebeu que havia por trás, alguma manobra para que o nome do General Miala, aparecesse sempre como o mais indefectível do regime e do próprio Presidente da República, e o único sem nódoas, mas, em contrapartida, o Presidente da República, era contestado e criticado severamente. 

Como estadista avisado, José Eduardo dos Santos colocou-o sob monitorização, o que resultou na sua queda abrupta e saneamento. Embora, aqueles que lidaram directamente com o respectivo expediente, dizem que mesmo assim, o Presidente José Eduardo dos Santos ainda foi complacente com ele e o protegeu. Isto não difere do que acontece com o papel que tem feito hoje. Ele usa as instituições do Estado, sob fachada de estar ao serviço do país, mas no seu próprio benefício. 

Como dizia, relativamente à ruptura que o Reginaldo Silva considerou no seu texto, não é bem assim. Este deveria ser o papel a que o Serviço se deveria prestar para proteger o próprio regime e o salvar. O que tem sido feito é exactamente o contrário, conduz o regime à sua própria auto-destruição e coloca o país em risco de instabilidade, o que é, extremamente grave e preocupante. 

No meu próximo livro vou me debruçar sobre a degeneração da função de segurança do Estado que é o que estamos a viver, no actual contexto, e faz do Estado um Estado de Violência, sob um regime de anocracia. O conceito de anocracia conota-se com anomalia. Portanto, temos um regime anómalo. 

Isto quer dizer, que o Presidente João Lourenço não dispõe de capacidade, para compreender que o actual Chefe do SINSE, está ao serviço da sua agenda pessoal. Isto está escrito no meu livro “Angola na Era da Pós-verdade”, como também escrevi, a propósito do incidente que ocorreu no Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro, que fez com que o país passasse uma péssima imagem para mundo e, em que deixo claro que existem manobras do General Fernando Miala, tendentes a criar um ambiente de desestabilização no país. E, se alguém quiser provar, eu tenho um leque de perguntas que se lhe poderão fazer, para ele justificar. Deve ficar claro que não estou a fazer afirmações gratuitas. 

Recuando a associação que agora soube que pretendem, à autoria dos textos de Norton de Matos a mim, é mais um motivo de alerta. Este é um apelo que faço à sociedade com o respeito devido que devo ao Fernando Norton de Matos, se é que existe. O que me parece é que é mais uma manobra de distração. Se aparecer, por estes dias, algum cidadão assim identificado, a menos para quem conheça pessoalmente, deve ser suspeita. Sobretudo, para nós que dele somos estranhos. Esta pode ser uma boa maneira de nos fazer pensar que o indivíduo não existe e que aqueles que o comandam até chegaram a suspeitar de mim próprio. Seguro morreu de velho. 

Aqui estou eu sem máscara, sem pseudónimo. Agora se de facto o bando do General está a sentir-se encurralado, porque não consegue descobrir o autor dos textos, se é um nome real ou fictício? Eles sabem com que linhas se coser.

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