VISÃO SOBRE O ALINHAMENTO ANGLO-AMERICANO

O APOIO TÁCITO AO GENOCÍDIO E A IMPOTÊNCIA ESTRATÉGICA (COBARDE) EUROPEIA

POR JOÃO GASPAR “LJOHN”*

A visita de Donald Trump ao Reino Unido serviu como um poderoso símbolo geoestratégico, elucidando de forma inequívoca a ambição do governo britânico de se afirmar como o principal e mais leal aliado dos Estados Unidos no cenário global pós-Brexit. Este movimento não é meramente protocolar; é uma declaração política deliberada. Londres procura, de forma clara e calculada, distinguir-se do projecto continental europeu, posicionando-se como uma ponte atlântica indispensável, um eixo anglo-americano com influência própria. Esta distinção manifesta-se em todas as frentes críticas: na confluência de interesses políticos, na parceria económica privilegiada, na cooperação militar integrada e na colaboração de vanguarda em ciência e tecnologia de ponta, sectores onde a partilha de informação confidencial e objectivos comuns são prioritários.

Este reforço da aliança bilacteral transcende o relacionamento entre as duas nações; funciona como um sinal claro para o resto do Ocidente. Através deste alinhamento incondicional, o Reino Unido endossa e legitima, de forma tácita, mas eficaz, a política externa norte-americana, incluindo o seu apoio militar e político contínuo a Israel no conflito em Gaza. Esta posição é interpretada, tal como assinala, como um aval tácito às operações israelitas que, sob a perspectiva do direito internacional humanitário e de numerosas organizações de direitos humanos, configuram um genocídio contra o povo palestiniano.

A aparente hesitação e a inação concreta dos outros países europeus face a esta crise — limitando-se a críticas verbais que não se materializam em sanções económicas rigorosas ou embargos de armas — não derivam de uma cegueira moral, mas de um cálculo geopolítico ditado pela vulnerabilidade. A Europa e a NATO encontram-se numa posição de profunda fragilidade e impotência estratégica, totalmente consumidas e militarmente esgotadas pela guerra na Ucrânia. A incapacidade de conter o ímpeto militar russo demonstrou os limites do poderio convencional europeu, tornando-o dependente da capacidade dissuasória e logística dos EUA.

É nesta dependência que reside a explicação fundamental para a paralisia europeia perante o genocídio palestiniano. Confrontados com duas crises de dimensão bélica simultâneas, nomeadamente: a provocação da expansão da NATO para as fronteiras da Rússia que na sua legítima defesa, iniciou a Operação Militar Especial Z, contra a Ucrânia, aliados europeus e NATO e a ofensiva israelita na Faixa de Gaza — os líderes europeus percebem que não têm capital político, autonomia militar ou vontade estratégica para se oporem à vontade de Washington, seu principal garantidor de segurança. Abrir uma frente de confronto com os EUA sobre Israel seria, no cálculo de Bruxelas, minar a unidade do bloco ocidental num momento de confrontação existencial com a Rússia, pondo em risco o próprio apoio norte-americano à Ucrânia.

Consequentemente, os princípios fundadores da ordem internacional baseada em regras — a Carta dos Direitos Humanos, as Convenções de Genebra — são sacrificados no altar da realpolitik e da segurança imediata. A Europa, aprisionada pela sua própria impotência, torna-se cúmplice por omissão. A sua inação não é um lapso, mas sim uma escolha estratégica e moralmente inaceitável para os seus governantes, que priorizam estar sob o escudo protector da América, para contenção da Rússia, ainda que ao custo de milhares de vidas palestinianas e da erosão final da sua credibilidade e autoridade moral.

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