
RECADOS DA CESALTINA ABREU
Esta é uma frase para chamar a atenção sobre as causas e consequências da exclusão social. É um apelo para que ‘a pobreza’ não seja normalizada nem vista como algo natural ou inevitável no nosso dia-a-dia, mas como um problema, a ser combatido e erradicado. É imperioso que tenhamos uma acção intencional de alerta, no sentido da não habituação à ‘presença’ da pobreza, nem a deixar passar despercebida, invisibilizada, como parte ‘comum’ da realidade. Permitindo que se transforme em “paisagem”, a pobreza torna-se algo que, embora presente, não causa mais impacto.
Torna-se ‘invisível’, o que, por sua vez, retira o sentido às denúncias e aos protestos sobre a pobreza crescente, de facto, e as propostas de luta contra ela. Esta frase é, assim, um grito de alerta no sentido da urgência de medidas para mudar a situação, não só de erradicação da pobreza mas também, complementarmente, de inclusão social na cidadania dos grupos sociais ‘conquistados’ à pobreza. Isto significa que o combate pela erradicação da pobreza precisa ser concebido:
a) Numa perspectiva de direitos de cidadania e não de caridade, de assistencialismo, e de ‘políticas públicas’, ou seja, políticas concebidas na interacção Estado e Sociedade, e não apenas de políticas de governo;
b) Não se trata, apenas, de aumentar os rendimentos das famílias para ultrapassar as estabelecidas ‘linhas de pobreza’, sendo necessário agir no sentido de alterar os determinantes da condição de pobreza, através do acesso a serviços e bens públicos;
c) Tem de se enquadrar numa luta mais ampla pela redução progressiva das desigualdades sociais, agindo ao nível da transformação das estruturas sociais e económicas que geram desigualdade, e são resultado da acção humana; caso isso não aconteça, e mantendo-se a desigualdade na estrutura social, mesmo que determinados grupos consigam ultrapassar as linhas de pobreza, permanecerão nos grupos mais desfavorecidos dessa estrutura social.
Na frase acima, existe ainda outra mensagem, nomeadamente a da Responsabilidade Colectiva. Isto porque, mesmo que não seja a sociedade a responsável pela tomada das medidas visando a erradicação da pobreza, cabe-lhe as acções não só de denúncia das situações existentes, como da exigência de tomada de medidas, e, ainda, a de criar as condições e se dispor a intervir nas mediações e articulações necessárias aos diálogos para a concepção das políticas públicas que promovam a igualdade social.
Mandela expressava assim a sua visão sobre a Pobreza: “A Pobreza não é um acidente. Assim como a escravização e o apartheid, a pobreza foi criada pelo Homem e pode ser removida pelas acções dos seres humanos” (citação na sua autobiografia, “Longo Caminho para a Liberdade”, e no discurso da vice-secretária-geral da ONU, Amina Mohammed, no Dia Internacional Nelson Mandela, em 18 de Julho de 2024).
Uma boa 5.ª feira, com Saúde, Cuidados e Coragem para nos tornarmos ‘interventivos conscientes’ relativamente à necessidade de combater a pobreza, reduzir as desigualdades sociais e promover a equidade nas sociedades actuais, marcadas pelas desigualdades de condições e de oportunidades, para alcançarmos a desejada justiça social e o direito a um futuro!
Kandando daqui!
